/*CORRIDA DE SANTO "0"*// - Manoel Ferreira


Correr, correr, correr...
Quanto mais pernas a deus-dará, a "0"-dará tanto melhores, o inferno não será o limite. Correr tanto para repousar no "sempre-jamais" é muito triste, a tristeza do Jeca Tatu é tiquinho perto dessa, desgraça pouca é tiquinho. A vida, com efeito, é corrida sem fim.
Correr dos portugueses é inteligência suprema, na época da colonização trouxeram os bobos para o Brasil, lá se encontravam muitos deles, na época de Dom Pedro a bobice se encontrava às pencas, hoje está generalizada; correr para não contrair a bobice portuguesa, ela é transmissível, a D.I.T. não tem cura;
Correr atrás dos prejuízos é condição, é natureza, pois que as lesões acontecem a todo instante, quando não é o Estado que arranca a alma e a carne da sobrevivência, são os clientes que não valorizam a honra da vida, o trabalho sincero. Não dá para ficar com o estômago nas costas, graõs de feijão e arroz, pedacito de músculo de boi enganam os ácidos estomacais, protelam a miséria da míngua
Correr dos tablóides "petistas", antes que corrompam nossa inteligência e sensibilidade, passemos a entender as atitudes de não como o egrégio das virtudes e valores, passemos a enfiar a mão nos bolsos alheios.
Correr a léguas distintas e idôneas das hipocrisias fáceis e reconfortantes, tais como as importâncias sociais, medalhas de honra recebidas e todas as viperinidades no lar, na família, além do bolso de vinténs nadificado de vazios, sem condições de nada nele colocar, passará pelo buraco imenso, ficando nalgum lugar da rua, aquém, óbvia e absolutamente, dos valores morais que vivem dando voltas arábicas no ego, isto para não chafurdar a pena nas hipocrisias complicadas, tais como a glória escrachada das idéias e projetos com a vida humana nos seus sonhos e esperanças da ressurreição, roubar a cena da simplicidade em nome da eternidade maculada, já que o regaço da alma está entupigaitado de flores que não são aconselháveis sentir o odor ou cujos odores não se aconselham cheirar
Correr a hectares de a-gonias da alma penada que resolveu fugir da catacumba por sentir nos interstícios das cinzas a presença absoluta da vida, essa que são sonhos e esperanças, fé, melhor o abraço terno e eterno que cachapra com o riste do tempo a nonada da travessia vazia ou a ponta partida do vazio-nada, melhor o imprevisto das dores e sofrimentos no caldeirão de chamas e ardências.
Corridas, corridas, corridas...
Na verdade, na verdade, a vida é correr sem margens nos pampas, chapadões à busca do a que o coração se entrega em absoluto, o amor, não porque nos lega a ressurreição, redenção, mas nos dá o brilho do olhar, a fisionomia alegre e feliz das bobices da corte portuguesa, o semblante sereno e suave, põe-nos em mãos feitas concha o prazer de conjugar o verbo "ser" em todos os seus tempos.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro... Antes de quais antes, haveria alguma luz que me inspirasse a compreender, entender o porquê do objeto que garante a sobrevivência do estômago, dos valores éticos e morais chama-se "dinheiro", cédula responsável pelas indignidades da vida desde a eternidade à eternidade, no futuro Deus será o Dinheiro da Eternidade, sua foto está impressa nele.
Na vida de dificuldades extremas, diante de todos os obstáculo, Muradas da China, correndo atrás do dinheiro, a fim de um frango a molho-pardo, para finalizar a semana de apenas coçar o lugar do estômago, que me satisfizesse o desejo e vontade do nada-vazio.
E acontece de o dinheiro correr atrás de mim, atrás de meu reconhecimento, consideração, dar-lhe os verdadeiros méritos, ser ele a eidética do nada no íngreme sertão das náuseas das nações. E como isto acontece? O sol raia nesta manhã, os sonhos renascem para todos os homens, portugueses e angolanos, russos e suíços, brasileiros e alemães. E para todo o apocalipse da vida o genesis será exaltado: a vida precede todos os valores, sejam viperinos ou dignos, o correr será beatificado: a corrida precede todas as lerdezas, seja a lerdeza das pernas com varizes, seja a lerdeza do "devagar e sempre" dos mineiros.



II PARTE



Des-enfreadas as corridas, não tem tempinho para recuperar o fôlego, tomar uma água, antes de prossegui-las, o castelo de "0" para trás das curvas, melhor que ser esperado na tocaia, melhor que as emboscadas primevas;
Correr dos "bodes expiatórios" que morrem na forca, multidão presente, olhos estatalados, sorrisos furtivos no semblante, assistindo ao grande espetáculo, por uma liberdade que não defendiam, não sabiam de suas estruturas sociais e ideológicas, preto no branco, branco no preto não é para qualquer conjuntura, especialmente a nossa que não mais distingue o preto do branco, libertas quae sera tamem, ou daqueles bodes expiatórios que vão parar na mídia com direito a fotos em todas as perspectivas acusados de deixar o país na míngua da plena miséria, havendo sempre as madalenas que com toques de luva conseguem para os acusados um emprego para a sobrevivência, quatorze mil reais por mês;
Correr das "desculpas esfarrapadas" de não ser aconselhável a consciência do povo da História, da conjuntura política, porque tanque cheio de rebeldia e revolta espera a última gota para a sandice, enfim o Estado tem que cuidar da saúde mental das pessoas;
Correr das conversas de alto nível, no que concernem ao conhecimento e à sabedoria, enfim, sempre depois delas, os pés ficam presos nos mata-burros do tempo, só podendo olhar o panorama dos pampas, chapadões com olhar de "não deveria ter querido o resto da tinta que pintou o urubu de vermelho";
Correr do pão que o diabo amassou com o rabo, o rabo dele estava bem azedo com a fé dos humanos no Evangelho do Nada, e portanto o pão absorveu o azedume do rabo, e ele ao invés de ser extinto pelos ácidos estomacais, comeu os ácidos e o estômago, ficou à mercê das intempéries dos venenos;
Correr daquelas construções suntuosas, inéditas para a época, olhares surpresos com a beleza e também a fatalidade dela, e acabar morrendo nela. Quê é isto? Construímos uma coisa e vamos morrer nela. Podemos ser burros, mas não bobos da corte.
Correr dos negócios da Petrolina Brasiliana, que arrancam os olhos da cara, e os clientes ficam absolutamente lesados, tendo de sentar na escadaria da igreja com um pratinho e esperar a caridade alheia, com aquela esperança de um estrangeiro assistir à missa, pois que são mui caridosos, sempre um notícula de 100 dólares cai no pratinho;
Correr de subir em prédios muito altos, não devido ao medo das alturas, mas porque não se sabe se algum avião desgovernado lhes vai atingir, corpos estarão de por baixo dos escombros; mesmo trabalhar nalguma empresa, por quantia salarial exorbitante, a vida é curta para essas aventuras;
Corrida... Corrida... Corrida...
Quanto mais se corre, mais se encontra estrada a fora para esticar na carreira, olhando para trás ou não, porque o que houve atrás é motivo da corrida desenfreada, o que haverá a cada hectare corrido é o desconhecido, o inaudito, deles não se corre, nada causaram. Quanto mais se corre mais há do que se correr e, correndo, não se vai chegar a lugar algum, o mundo é infinito.
Correr dos tabernáculos de imbecis, onde a ética das maledicências são frutos deliciosos, mas a imagem a representar-lhes está sempre de costas para os adoradores, jamais alguém lhe viu a face, nem mesmo o espelho da eternidade para onde ela está virada;
Correr dos soldados armados ou não, quase todos perdidos de armas na mão, porque nos quartéis lhes ensinaram que os cidadãos são os corruptos e bandidos da Nação; dos professores nas escolas que ensinam as velhas histórias dos heróis, todos são heróis, mas na hora do café, pão e leite na mesa do café da manhã para a família heróis não vão bancar;
Correr... Correr... Correr...
Não me sento em banco de pracinhas em tempo que é de corrida. Correr corri e, correndo, vou somando léguas e quilômetros, livre aos sibilos de vento...



III PARTE



E correndo vamos nós carregando a marmitinha que a caridade alheia nos deu para matar a fome; tristes nos sentimos, de Jeca a tristeza é pouca, porque só temos saliva quente na boca.
Correr com o rabo entre as pernas, apesar do incômodo que causa, é o mais aconselhável porque por todas as estradas que passar irá absorver as sujeiras dos tempos e das nações, ficará mais que sujo, encardido, nem água sanitária será capaz de limpá-las;
Correr de "somos todos iguais braços dados ou não", a léguas de distância do castelo do "0", sem olhar para trás, é de-monstração de pura sensibilidade porque a Igualdade sempre fora ideologia chinfrim desde a Revolução Francesa, e hoje conhecemos o que é esta igualdade na metafísica das poeiras;
Correr de Santo "0", persignando a todo instante, trans-elevando os braços ao céu, rezando o Credo, muda o itinerário dos medos e temores da lareira do sempre-jamais, mas faz desembocar nas sinuosidades da "floresta negra", de onde jamais se liberta, onde para sempre irá purgar os pecados do não-ser;
Correr dos sapos secos atravessados na garganta não liberta de coaxar no deserto das agonias e desesperos por se haver entregue ao "quem cala consente" ou à verdade habita as prefundas do outro. A língua inerte na boca permanecerá por sempre. Quem não tem caráter nem nunca terá. Quem não tem identidade nem nunca terá. Quem não é nem nunca será. E o sapo coaxa na lua cheia, no oásis do ego contrariado;
Correr da "esperança é a última que morre", encapachado nas pencas dos ideais, no rebanho das ideologias e utopias de quem desfruta o poder e a glória não precisa de esperança, não precisa sonhar, não precisa ter fé, porque na verdade a morte é a última esperança, é a seresta do último boêmio, e isto levará ao abismo dos acéfalos;
Correr dos cachorros que latem a plenas guelras, são os donos das verdades da terra e dos mares, só leva a ser atacado e mordido à categoria e estilo, sendo que o melhor a ser feito é interromper a corrida, olhar nos olhos deles, abaixam o rabo e vão embora, ganindo de vergonha e humilhação, enfim foram vencidos pela perspicácia humana;
Corrida... Corrida... Corrida...
Correr da consciência de que amigo mostrou a verdadeira face sua, após longos anos de relações, contribui para não trocar mais gato por lebre, vice-versa, mas não desfaz a inocência e ingenuidade da confiança nele depositada;
Correr do destino que foi criado, re-criado, in-ventado, dá léguas a deus-dará, a 0-dará, porque a vida não é canela de cachorro, que alimenta a potência e a velocidade, gasta-se ao longo das distâncias per-corridas, a realidade é nua e crua, e assim vamos nós carregando a marmitinha que a caridade alheia nos deu para matar a fome;
Corre, corre, vagabundo
Corre dos lácios e facios do pre e pos
Corre, corre, vagabundo
Corre das tragédias, tragicomédias
Das dialéticas, contradições das verdades e in-verdades,
Corre,corre, vagabundo
Da história dos heróis e mártires,
Do nada social, do vazio político,
Corre, corre, vagabundo
Do "Epateur les bourgois",
Do "Libertas quae será tamem"
Corre, corre, vagabundo
Da vida e da morte,
Do paraíso celestial, do castelo de "0",
E deixe as poeiras metafísicas
Nas margens das estradas por onde passar.



Manoel Ferreira.
(14-15 de fevereiro de 2015)


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