**O VELHINHO E A VIDA** - Manoel Ferreira


Imagem é linda, esplendorosa, mágica, quando toca profundamente a alma.
Nesta imagem, dois velhinhos estão voltando para casa. A mulher segura o braço do companheiro. Há ternura, carinho entre eles.
Imaginemos que a mulher seja re-presentação, símbolo da vida. Quem segura o braço do velhinho seja a vida. Está ele voltando para casa. Vivera sozinho, vivera como pudera, mas a vida lhe fora o bem maior, dignificou-se diante dela, cumpriu a sua missão de vivê-la honradamente. Alguns sonhos viu realizados, sente-se feliz, sente prazer, sente-se alegre. Mas agora está velhinho, ninguém por ele, amor deixou atrás, por vezes se lembra, recorda-se de alguns instantes. A sua vida só ele poderia viver. Entregou-se por inteiro. Renunciou ao amor, a tudo o mais.
E agora velhinho! Quem por ele? Ninguém. A vida reconheceu-lhe a entrega, todas as renúncias em nome de cumprir a sua missão. Hora de segurar-lhe o braço, hora de sua solidariedade, hora de sua companhia.
Ao contrário deste velhinho, deixamos de nos entregar à nossa vida, a nossa missão, em nome de um amor, de uma companheira, alguém para cuidar de nós na velhice. A vida não fará isso. E podemos estar mui equivocados. Será a vida que nos servirá na velhice, na morte. Por mais seja difícil, até hilário, conforme a perspectiva por que observamos, mas a vida é o nosso grande amor, a nossa companheira em todas as horas, a que estará conosco na hora da travessia.
Essa é a minha sabedoria de hoje. Entreguei-me aos sonhos de corpo, alma, espírito, eram a minha missão. Não estou velhinho como este velhinho da imagem, mas caminhando para a velhice, para a travessia. Sinto a vida segurando o meu braço na caminhada, sinto a amizade da vida por mim. Tive amores fugazes, relacionamentos efêmeros, mas não arredei pé diante de uma missão que só eu poderia realizar, ser-no-mundo fora-me dado com este objetivo. Assim, a vida não me falta agora, está ao meu lado, dando-me a sua mão. Há muito da missão a ser concretizada. A vida está comigo. Sigo tranquilo, sereno, calmo. Toda a magia habita nisto: as contingências de um homem e a vida se encontram, ele caminhando para a velhice, dando continuidade à sua missão, ela possuidora de sua eternidade. Ninguém por ele. A vida com ele.
Nunca se é sozinho, Nunca se vive sozinho. A vida e eu seguimos a nossa trilha de braços dados. A amada, a amante, a companheira. Faço a travessia um dia. Ela continua a sua eternidade no mundo, na terra.



Manoel Ferreira Neto.
(23 de fevereiro de 2016)


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