#RECORTE DE MIM# Graça FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ====

 


No rosto (in)concreto, (in)substancial do sonho,

varando o espaço da mente,

alussinando o vazio da razão,

perpassando as nervuras da (in)-consciência,

sento-me circunspecto

na quina de um pensamento insolente

– in-verso dos sonhos meigos, idéias infernais,

re-verso das utopias conservadoras de princípios,

pensamentos lúgubres,

A-vesso às verdades preservadoras das contra-dicções.

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Aniquilo a transitória, mas poderosa matéria (in)conseqüente, (in)-consistente, insciente, e detenho-me pena. E, detendo-me pena, lágrimas pujantes de solidariedade, compaixão são as convidadas de honra ou os pingos nos "ii" serão inúmeros e ad-versos.

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Abro valas em meus sentidos dis-persos, vagos, adormecidos, sem lembranças, sem re-cord-ações. Procuro imagens obliteradas, olvidadas, obtusas, oblíquas, ocultas na brisa pousante na relva de meu destino. Não é a mesma coisa séria, sincera, descrever, com sangue, as cenas, que escrevo com tinta de desejos esquecidos e vontades de ausência. E não é a mesma coisa erudita e clássica sair à cata das sinestesias, elencar as situações e circunstâncias absurdas que sucedem em momentos sublimes, que arrabisco no papel de poemas sem linha, com aquele desdém inóspito pela crueza das palavras.

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Vencido pelas marés de tristes tormentos e vendavais sórdidos, eu, ilha abandonada ao relento das noites frias e chuvosas, dos dias quentes e frios, entre oceanos de lágrimas, versifico as ausências de brisa, ritmo a brisa de ausências, metrifico de solidão os versos ausentes, sonorizo de silêncio o campo de neve dos lapsos de memória.

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Tenho para o presente segredos profanos, rasgados e gravados nos arquivos da mente. Quiçá in-vestigue no amanhã anterior a quaisquer manhãs as culpas e pecados dos puros amores, passeando pelos caminhos e pelos atalhos, perscruto um recorte de mim, no cimo de uma oliveira, vendo as minhas idéias e utopias ou olhando para as minhas utopias e ideais, sorrio circunspecta e introvertidamente como quem não com-preende o que diz, fala, recita, declama, rumina, uiva, e quero simular que o faço, voz sonora do antes vivido ou sons ouvidos de um pranto.

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Com nada me contento, com nada me satisfaço, com nada me realizo, com tudo me atormento, com o eterno advém-me as mais insuportáveis sensações nauseabundas, com o absoluto me desespero, com o cosmos me entristeço? O grande problema, a questão essencial sendo que quero tirar uma vantagem delas, sentindo-as, rasgando-lhes os verbos.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 02 DE NOVEMBRO DE 2020, 18:46 p.m.#

 

 

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