#PAU QUE NASCE TORTO MORRE TORTO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA $$$


Controvérsias à parte de estados de alma que florescem, despetalam, exaurem perfumes à margem de idéias e pensamentos, sentimentos e emoções nauseabundos, devo confessar solenemente que não me lembra de quando vim residir e habitar no mundo, não me esquece aquando morri aos olhos e visões dos comparsas, quem verteram lágrimas à revelia das considerações e reconhecimentos que sentiam por mim, jamais haveria outro homem quem lhes dera tantos prazeres e felicidades, fizeram-lhes acreditar piamente que as torções do caráter e personalidade eram húmus da verdade do Não-Ser, e com elas puderam construir o Castelo das Heresias e Proscrições - as contravenções realizadas à beira do esquife foram louvadas e consagradas como próprias de um gênio, não de profeta quem só tem gogó de sabedoria e saber e nada de essencial, aquele espetáculo teatral tão peculiar nos velórios sob os aplausos efusivos de Mefistófeles, quem ama de paixão tais celebridades que engrandecem as comédias do inferno -, a verdade é que por todos os tempos deambulei, devaneei pelas torturas, tortices das trilhas, sei lá se para consolidar o adágio popular "Pau que nasce torto, morre torto", milagres e tecnologias avançadas não puderam desviar-me, e aprendi lições divinas de como destilar ácidos críticos, descascar pepinos viçosos, colhidos no alvorecer pós madrugada de neblina gélida, rasgar verbos defectivos e irregulares com toda pompa, como dissera a uma eminente psicanalista de tempos idos, remotos "Não há diabos que sejam eficientes a ponto de trans-viar as concepções e definições que artificiei à mercê das roças dos caminhos", e ela rindo às soltas fora capaz de joycear haver sido quem despertou em mim a coragem e disposição divinas de ser quem era eu, era merecedor de uma estátua de bronze de corpo inteiro todo torcido, retorcido, coisa inédita em toda a História do Mundo, alfim, pensasse eu com categoria, é das trevas que a luz se a-nuncia com toda prepotência, orgulho.

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Estava já no final de nosso encontro psicanalítico, a perna esquerda dormente por deixá-la sobre a esquerda por cinquenta minutos, o traseiro queimando de sensações esquisitas, e levantando-me do divã dissera-lhe com aquela humildade peculiar aos espíritos proscritos, "Joyce, sou maldito, aquele maldição de homens tortos de ideais e utopias. Quem sabe algum dia isto não será prova contundente de que existi." Nada respondera, apenas dirigiu o olhar em direção ao Alto das Mangabeiras, a Serra nublada, através da janela aberta do décimo-sexto andar do EDIFÍCIO TRIANON. Ao abrir a porta do consultório, virei-me lerdo e devagar, dizendo-lhe: "Joyce, você acaba de me ensinar a auto-psicanálise de minhas sátiras íntimas; agora posso dar prosseguimento às sinuosidades de meu coração."

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E fui acabar aquela manhã num botequim copo sujo do Edifício Maleta, tomando uma deliciosa capivodka, e por ser feita de aguardente e vodka imaginei-me um indivíduo ruço de engolir.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 10 DE NOVEMBRO DE 2020, 14:25 p.m.#

 

 


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