#PONTEIO DE UMA CARTA AO VULGO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO ====


Quem me dera agora houvesse já partido para as terras do bem-virá, e não compondo a nota derradeira desta carta ao vulgo que estivera por épocas guardada para in-vestigação, tempo de excelência para lhes rasgar as regências com a precisão das ignorâncias. Se só os sábios reconhecem a vastidão de sua ignorância, o vulgo só reconhece a extensão de sua hipocrisia, farsa, falsidade, insuflando as vaidades, orgulhos, prepotências.

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Amanhã será outro dia...

Pontear derradeiras letras inter-virtuais no ápode deste instante-limite, no calor do ato criativo que perscruta noutras ad-jacências da con-tingência outros sons alemães que possam compor a lírica do que me fez cantador. Ponteei de vernáculos as letras de sentimentos do sublime, por vezes puros, por vezes obtusos e ambíguos, por vezes oblíquos e avessos, esgotei-lhes a fonte, na tentativa agonizante de os meus "ii" serem pingados de excelência, longe dos "ii", sem mesmo a imaginação dos pingos, que são características deste vulgo presente, vulgo de pingos vazios, é preciso partir para atingir, alcançar outras orlas do mar de aspirações, outras sendas do vale, não planto em tempo que é de queimada, não semeio sementes em lotes vagos, não componho sons no vácuo, não pinto no espaço da luz e contra-luz a imagem expressionista do pensar-sentir... Pontear ainda algumas letras com os seus devidos acentos ortográficos, para serem bem pronunciadas, emitindo-lhes a música do inter-dito, enquanto reúno as que foram ponteadas, colocando-as na mala das laicas máximas, noutras ad-jacências virão outros vernáculos, outros sons, outras letras, não seria ousado de incluir as metáforas da decadência, como poderia explicitar a aspiração da erudição? Lepus non venit ex hoc Bush, assim reza a máxima latina "Deste mato não sai coelho." Aspirar a erudição nas vias da decadência de metáforas é sandice involuntária..

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Amanhã será outro dia...

Pontear de baldios do perpétuo, no frontispício da página de dimensões do vir-a-ser, outras pers, retros de pectivas do silêncio que concebe o som místico do in-audito que pre-nuncia, a-nuncia constelações que a-lumiam as soleiras de cavernas e grutas, inspirando a sentir o que lhes habita o interior.

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Amanhã será outro dia...

De ponta cabeça o efêmero sacia sua sede paráclita do destino que, de travessias em travessias, inscreve nas tábuas de veredas do perene as á-gonias da liberdade, sursis da alma-com as sinas badalando no domus de sinos das igrejas heréticas, proscritas, templos demoníacos, marginais evangelizados de hipocrisias, "Bono te animo tum plenum INFERNO", que, de nonadas em nonadas, do verbo de morrer a vida da morte, epitafia os mistérios místicos, míticos, legendários, lendários das sendas do inolvidável lúdico e sensual sibilo da efemeridade que suprassume a poética do espaço através e por inter-médio da estesia das brás-cubianas memórias das páginas fenecidas de linhas e margens, o aquém da trans-cendência nutrindo e alimentando o além-nada das nadificações do ser, estratificações do não-ser, sub-stratos do verbo, in-stratos das regências à luz pálida do crepúsculo de ocasos, o nada é nota da vida, a miríade do nada são os espectros-luz que são as palavras à sensibilidade do não-ser atrás dos ossos que, destrinçados, mostrarão a carne do tempo, tempo do filet mignon que só reconhece o gosto quem no paladar sonha sentir o prazer da vida, das cinzas que espalhadas no ar das contingências pousarão na poeira dos caminhos, quem sentir-lhes o instante do pouso pensa-sente o fugaz.

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Aleluia... Tese...

Pontear de estrofes da verdade, no atrás do convexo do espelho, a imagem do efêmero sed-uzindo a carência da etern-itude com o veneno paradisíaco da árvore dos prazeres do tempo de esperanças do volo eidos da vida plena de éresis da leveza do ser.

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Pontear de versos da contingência de sartreanas náuseas, camuseanas do deserto inaudito, gideanas concupiscências do imortal, belo da estética do sensível, os sonhos oníricos da vigília, genesis dos três pilares ou das três estalactites da gruta do verbo que pingam de água cristalina o inaudito da inspiração.

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É preciso partir para con-templar outras passagens do vento, outras paragens da caravana para o porto solitário, outras paisagens com a presença do arco-íris, outros panoramas do caminho que é também do caminhar, a natureza por intermédio da janela do automóvel, a sensação de prazer da velocidade, estar sempre à altura do poder de transcender o vulgo, ir além do tempo sem chuva, sem vento, sem neblina, sem neve, sem orvalho, tempo seco de tudo, de nada, sentar na praia do grande mar e visualizar ao longe a gaivota sobrevoando as águas.

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Aleluia... Antítese...

Sons de raízes dedilhados nas cordas frágeis dos sentimentos manifestos e latentes, raízes de árvores frondosas, folhas tocadas de brilhos numinosos, no peito sensações de leveza nos sonhos de amanhã, nas esperanças futurais, e vou tocando as ovelhas de palavras, ovelhas-palavras, de letras, ovelhas-letras, com o cajado das utopias de ritmos e melodias, linguísticas e semânticas, das dialécticas de in-auditos e silêncios, coisas que não faço cá, coisas que não componho cá, canto a vida porque sou forte e tenho razão, boêmio de volta ao lar, cabisbaixo, trilhando os caminhos com passos comedidos, lentos, na vagareza do tempo, pensamentos ao longe, sentindo na intimidade do íntimo os recônditos das andanças de sonhos dentro de outros sonhos, sabendo nada saber de sabedorias, sempre o sentimento do longínquo criar-se, conceber-se a presença da verdade do ec-sistir à luz de compor a história, cítara e harpa em uníssono de notas e ressonâncias de ritmos re-compondo de fantasias e ilusões a cor-agem e ousadia de pro-jectar a liberdade para pulsar desejos e vontades do Verbo, nonadências de sensações e inspirações, pontes de intuições, mister a leveza do olhar os horizontes e universos, íris e linces em con-sonância com o re-velar-se, en-velar-se, enovelar-se, des-velar-se da natureza, da perfecção da chuva, do vento, da maresia, em cujos interstícios do Ser e do Tempo residem os orvalhos e neblinas do pleno.

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Aleluia... Síntese...

Os primeiros raios de sol do alvorecer brilham atrás da nonada de espectros fosforescentes, no horizonte distante a neblina esvaece-se, ponteio o lince do olhar e vou fundo no abismo do universo buscar o som da cítara que ritma os acordes de sentimentos inda a-nunciados nos interstícios da alma que, quiça à revelia do nada, serpenteiam o vazio da inspiração, tomam a vida no cálice de vinho da morte, serão a luz a bordar de flashes do sublime as notas do volo desejo do perpétuo, a eternidade além da consumação dos tempos.

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O automóvel segue a sua rota na rodovia.

Amanhã será outro dia...

É preciso partir...

É preciso o adeus acenar...

Amanhã será outro dia...

É preciso partir...

É preciso cortar caminho...

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Amanhã será outro dia...

Esta carta o vento saberá entregar aos destinatários...



#RIO DE JANEIRO(RJ), 14 DE NOVEMBRO DE 2020, 20:48 a.m.#

 

 


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