#A PALAVRA ME FOGE# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: TEXTO $$$


Ah, a palavra me foge, esqueceram-me até os símbolos, como desenhá-los na linha da página, há tempos incontáveis busco-a e não a encontro, suspendo-me no silêncio da perquirição, suspendo o nada no fio de nylon das náuseas. Para quem nasceu sem a palavra, aprende-se a con-viver sem ela, mas quem a usa(registrá-la não é usá-la, usá-la não é apenas registrá-la; usá-la é fazê-la expressão do ser), se perdê-la, que tragédia!... Nada mais possui sentido, tudo perde o chão, os sonhos acabam, resta arrastar nas sarjetas do mundo.

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Há uma verdade sublime que é mais transcendental, (a pertença à razão genuína, a priori, previamente a qualquer ensaio, e que estabelece uma circunstância prévia dessa experiência) que são entendimentos, regozijo, júbilo, que são locais de brio, venerações.

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Há uma verdade que é um revérbero do caleidoscópio do amor, que é sublime, aprazível, calmo, fulgente, que é o observar do ser à cata de coloridos do perene que recheiem os ocos do nentes, preencham os espaços da cambaia resiliência de vanguardas frente aos sigilos da inconsciência.

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Silêncio na solidão do verbo nítido nulo

das alegrias breves, angústia de manhã submersa,

da regência opaca,

transluzente das ilusões esquecidas,

no peito as numinosas re-cord-ações

do verso linguístico que emanava raios que,

brilhando

apoteoticamente,

simbolizavam a fonte dos prazeres

à mercê das águas noctívagas,

passando de por baixo da ponte,

na solidão do silêncio do rio de sarapalhas

e margens sem infinitivo, gerúndio, particípio.

O tempo verbal puro e divino,

subjuntivo temático trans-lúdico de desejos

da re-vers-itude da poesia da vida,

da vida das poiésis do pleno e do in-fin-itivo,

comungando à morte de morrer

a contingência com o estar sendo

das glórias e júbilos da caminhada

para as oliveiras do campo

das hortências,

às quiçás das lâminas de fogo nas achas

da fogueira à beira do chafariz

de cócitos paradisíacos,

sem apoteosis,

sem apocalipses,

in-vers-itude da prosa sem logus

do ec-sistir as á-gonias do tempo e dos ventos.

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Não, não penso mais no que estou sentindo, não sinto mais o que penso, não sinto mais o que conceituo, defino, não sei mais o que me inspira e re-versa-me a verbalização, sou as palavras, sou os vocábulos, não sou sinonímia de sin-cronias e sin-tonias da verdade.

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Não sou mais antinomias de dia-lécticas e gnoses. Sou antes as in-verdades todas no tabernáculo dos infinitivos verbos do efêmero antes de quaisquer in-verdades, antes do depois do há-de ser, quiçá o mundo antes de sua criação, quiçá a terra depois do apocalipse, quiçá a vida antes de sua revelação, quiçá a morte depois do além, quiçá o outro a priori à concepção do eu.

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No mundo, a vida diante das contingências,

no além a morte diante das trans-cendências.

E as palavras jamais serão o útero a conceber

as esperanças e sonhos de minha vida,

serão sim a vida do útero

que deseja o encontro da carne e do inaudito,

o mistério,

aquilo que nunca será des-vendado,

des-velado,

mas luz do há-de vir,

raios trans-lúdicos do efêmero,

do nada, do vazio a ser

a dialéctica erística da pluralidade e des-continuo.

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Há uma verdade que é a preferível à Palanques, antecenas, estrados, ovações populares, ao esplendor deste planeta nebuloso, aos fulgor, exultação, alegria, êxito da terra-mãe.

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Nas cafuas das travessias, passos e ritmos da jornada, longa jornada in-audito adentro, bailam o cântico da morte comungando a vida nos seus interstícios vazios do verbo-ser das contingências, do sonho-verbo das fin-itudes, espírito e alma assediam a plen-itude, paqueram o lenir do tempo, desejando a ec-sistência de pura con-templação da poiética da gnose, o destino se esvaece no apocalipse da madrugada, a sina se evola na nebulosidade da chuva contínua, as corujas em uníssono cantam o esplendor da sabedoria, da sapiência, delírios do ser e do verbo, devaneios do não-ser e das pontes, os pardais sobrevoam as árvores frutíferas e só sabem chupar-lhes os frutos, são os parasitas.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 19 DE NOVEMBRO DE 2020, 09:41 a.m.#

 

 


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