ARTIFÍCIOS DE UTOPIAS" GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POESIA E PROSA ====


A alma não arde,

Não queima,

não se inflama,

não flameja,

não faísca,

não se re-veste

de fogos de artifícios,

não se cobre com sudário

de defesa e amparo,

segurança,

nem se veste de explosões

e implosões do nada,

do sem-razão,

do sem-senso,

do sem-limite,

nem desfila a morte

no cenário do imprevisto,

no “set” do improviso;

a todos corresponde,

a ninguém ama,

a ninguém inspira o amor

que sereniza, tranqüiliza, ameniza,

a ninguém a-nuncia o porvir

da felicidade que acalma

o intimo,

re-vela a redenção

dos pecados e pecadilhos,

remorsos, culpas,

o coração segue pulsando

livre,

nele a brisa suave e sublime

do Espírito do Subterrâneo.

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Nus sentimentos de utopias na/da continuidade da visão trans-parente da existência, em cujo âmago vislumbro o patenteado ao longo do tempo, árduas labutas e exercícios da esperança - quem sabe algum dia?! -, e agora com todo o tempo do mundo para delinear o que quase esvaecera, esfumaçara-se, aderem-se aos semi-nus pensamentos, ideais, a sensibilidade esvoaçando pelas águas oceânicas, vôos de intenções, percepções, re-colhimentos, a-colhimentos, vôo de sentir o que é isto existir o espírito da vida.

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O espírito não queima,

não se lhe habita a neblina

no crepúsculo do fim corpóreo,

na noite, madrugada do término da contingência,

no alvorecer do eterno, princípio e origem

de outras dimensões do espírito

que prossegue a viagem in-finitiva...

transcende o destino da matéria,

a sina dos ossos de se tornarem cinzas,

segue no tempo eterno

e na consumação dele,

amou a carne do verbo

em que residiu,

verbalizou a residência

da carne,

no amor simples e verdadeiro

do ser e de seus desejos

Do eterno,

Do nada e suas querências

Do perene,

Na absolutidade do divino

Salmo,

Das esperanças e utopias...

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Despidos pensamentos que rolam por várias dimensões do real, realidade, das cositas do quotidiano, da existência, comungam-se às idéias de como traçar a imagem na seda da colcha a cobrir o leito conjugal, um ornamento, e neste instante imaginar estar nelas a intenção fundamental, o ser na sua continuidade de criação, invenção, feitura, a entrega. Entreguei mistérios e enigmas, sensivelmente, de uma missão a ser patenteada, absolveram-lhe, preencheram-lhes alguns vazios, des-cobriram-se, seguem a jornada à cata das utopias do existir, tecem a si o crochet de seus destinos. Adesão que abre perspectivas para a visão do porvir. Então, no crepúsculo da orla marítima, contemplando a noite cobrir o sol, é o instante excelso, a intelecção do vivido, experienciado, a sensibilidade do espírito, a alma tranquila de sua jornada, alfim compreende existir são dores e esperanças, sonhos e sofrimentos, a utopia da sabedoria sempre presente no quotidiano em movimento, atuando, agindo, aquilo da liberdade posta em questão.

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Outrora,

idade da minha ec-sistência!

Outrora,

idade das cores essenciais!

Outrora,

idade de ritmos re-nascidos!

Depois de tudo, após a paz, o turbilhão!...

Outrora,

Idade de versos e estrofes inéditos!

Antes das rimas e sonoridades,

Musicalidade,

Depois do prazer, a bonanza,

Cambaleia a solidariedade,

A compaixão,

Dançam o amor, esperança

E fé

A valsa do crepúsculo,

O tango da noite,

O fado da madrugada.

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Semi-despidas emoções, sensações, toques, gestos, ósculos do amor vivido na continuidade do tempo, entregas mútuas, de mãos entrelaçadas ao destino que se artificia juntos, sendeiros da esperança do destino eterno, viagem transparente, enlouquecida, desvairada, devaneios e quimeras que passeiam na orla marítima, vespertinos passos na areia, elaboram cositas na intimidade, trocam prosas e causos, poesias do bosque, o prazer de sentir ás águas tocando-lhe os pés, e na imaginação re-versam as ondas, dirigem-se ao infinito, visível até onde se encontram com as nuvens, longínquo, distante, o amor destinando-se à eternidade. Tecem o forro de crochet da mesa de

refeição, das buscas de conhecimento e sabedoria, das imagens e as palavras "Somos quem somos", arrebique das andanças nas terras do mundo.

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Outrora,

Idade da mesa habitual,

Sobre a terra onde semeei

Sementes di-versas,

Cultivei milho e rebanhos!

Rimei "mim" com "capim"

Gregório de Matos de sua plaga tumular

Rendeu-me tributos, lastimou não poder

Entregar-me em mãos o Diploma Honorífico da Virtude,

Outrora,

Idade dos reencontros,

Encontros de faces

En-torno de mim,

Com os cheios e os vazios,

Com o nada e o tudo,

Com o efêmero e o perene

Da verdade!

#RIO DE JANEIRO(RJ), 26 DE NOVEMBRO DE 2020, 22:12 p.m.#

 

 

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