#NON SUM ERGO COGITO# GRAÇA FONTIS: ESCULTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO & SÁTIRA ###


Odes amorosas ou melancólicas, ditirambos cínicos, perspicazes de finesse e gentileza adjuntos aos malmequeres de destinos psicodélicos, aforismos envelados de velações - quê delícia para o coração romantizado de quimeras e sorrelfas do amor eterno, para a alma seduzida por gozo e clímax dos instintos!, nada havendo à revelia dos prazeres que não realize as ardências dos desejos interditados -, galhofa e primores níveos ou lilaseiros, avermelhados ou rosáceos, abrilhantem o fatal propósito, o mortal intuito, o perpétuo fado, o cobiçado ser independente, ser das proximidades, das longitudes, ser do tal-agora-aqui, para o despovoado arrebatar fundo, no âmago e ser seu, noctívago do entendimento, vigília da compreensão e humanitismo, flectido já em existência sob a concepção do auge enlouquecido, tresvairado de ciência da plúmbea expectativa do Babel ressuscitado, redenção aos seus álibis e testemunhos oculares, eis o que me pretere a existência em todas as suas extensões susceptíveis, razoáveis e intelectivas, a sensualidade e os ossos, a libido e os pós de cinzas flanando no ar, até mesmo as vísceras das entranhas. Imagens fortes e presentes arrebicando as fragilidades íntimas.

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Ser autónomo é apreciar a essência e entender com agudez e acuidade, saboreando as visões e quimeras, que a continuidade de buscas faz-se no tempo, as de conquistas também, mesmo as de fracassos, frustrações, quedas inomináveis,

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que o ser humano é a pessoa mais relevante do cosmos, do caos, e que faz fragmento inseparável da existência, e sem ele nunca existirá contentamento, aquela felicidade inconcebível até no tradicional Paraíso Celestial, em realidade o universo, a terra, a vida, sensibilidades e abalos que desimpeçam, desobstruam, desobtusem as entradas para auferirem diferentes luminosidades a conduzirem os andares em comando ao imenso do bem-querer e da afeição, das intenções dispersas do juízo e da entrega ao sentimento de leveza, rodavivente dos pensamentos perdidos no negrume da noite que custa a findar. E, noutro estilo de olhar, e in-vestigar as sombras da imagem, há "trocentas" coisas no homem que infundem espanto! A terra, con-templando-lhe os tempos e ventos, tem sido a tempo inestimável um asilo de dementes,

dementes de glória,

dementes de sucesso, fama,

dementes do poder, vaidades

dementes por hipocrisias viçosas, colhidas

no jardim das ruminâncias,

sabor inexpressível,

a língua contornando os lábios finos.

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Nomeai-vos

com diplomacia e etiqueta

um médico

de "açougueiro da humanidade"

ou um artífice das palavras

"artífice de plantões",

sentir-se-á denegrido,

imagem difamada,

quaisquer sibilos de vento

escuto nos regaços da alma...

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Idolatraria, sim, coonestar as flores níveas, uma a uma, com as cores que deixei, do arco-íris ou do espectro que com elas criei, com o pincel que abandonei nalgum cacifo do tempo, com o pó de giz que espalhei pelo chão, solicitar-lhes júbilo às minhas lágrimas, trilho a esse afecto oculto nos abraços protelados, carícias e ternuras postergadas, nos contemplares afastados. Não fico com a glória de haver conquistado algo inconcebível de sê-lo senão em circunstâncias especiais, mantido o estado de veemente saber, olhando de esguelha, viés, pois que registra solenemente a mentira deslavada, maquiavelismo desnaturado, coonestar as flores níveas é um deleite, serve a amenizar as inquietudes, serve para espairecer a cachola de suas contra-mãos.

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Antigamente, idade da minha vida! Antigamente, idade das colorações fundamentais! Antigamente, época de cadências ressurgidas! Após de tudo, depois a pacificação, o vórtice!... Antigamente, época de poemas e estâncias insólitas! Antigamente, época de prosas e nonsenses da razão e das idéias! Antes das consonâncias e maviosidades, musicalidade, depois da satisfação, a calmaria, tropeçam a solidarização, a comiseração na pedra da alameda, bailam o afecto, expectativa e convicção, a dança da declinação, o tanguear da escuridão, lullaby das sombras e brumas, o fadário da alvorada.

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Antigamente, tempo da mesa frequente, sobre o solo onde disseminei origens dissemelhantes, lavrei milho e rebanhos!

Antigamente, tempo dos reencontros, defronte de rostos em volta de mim, com os repletos e os despojados, com a insignificância e o total, com o fugaz e o inextinguível, com o imortal e o susceptível, da veras! Antigamente, en-passant de transe onírico, além do sonho, procurava um bloquinho de anotações dentro de minha pasta, era escrever uma carta, via-me do lado de cá do sonho escrevendo sem cessar segundos, confortavelmente sentado na cadeira da varanda, dera asas à imaginação fértil, fluxo ininterrupto de intuições, percepções, inspirações.

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Nunca a satisfação breve, deleites momentâneos, lerdices velozes, nem as fantasmagorias e concepções que ambicionam o imortal e o pleno, o encarniçamento que cata, o amor que respira a adivinhação do divo - porque impingem, devo considerar de ineptos olhos para a boniteza, para o que deslumbra a consciência e o mais penetrante, para o deleite da concupiscência aprazível e insaciável de deleites petulantes, devo reconhecer que nesse cenário do mundo, não devia haver siempre verdadeiras novidades, interesses, intenções, tensões, intrigas, moléstias verdadeiramente ininteligíveis?

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Antigamente, era de solidões sarrabiscadas ao léu das mãos erguidas, dedos afastados, a face oculta evidente entre os espaços, considerando a subjetividade alta e clara, profunda e terna do olhar as silhuetas das carências e ausência, clamores e ruminantes pedidos de compaixão pelos devaneios, as vertentes das faltas e lapsos de compreensão, coisas em que nem sempre se deve crer, pensando mais em qualquer outra coisa que preenchesse o vazio da alma refletido no nada dos nós das dúvidas, miserável não havendo duvidar por me abster em excesso de pensar o que posso, a dádiva fora-me concedida de espremer a cachola.

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O que acarreto dessa existência breve tanto Comba se é a fama - não existe elevador para a fama, tem-se de subir as escadas, degrau a degrau! -, reputação, bem-querer, saber e existência, estar pisando solos íngremes da terra, como se fosse somente a memoração de um exulto bem planejado e delineado, a incógnita da vida, por ser perpetuamente concludente mistério, desobriga minha sabedoria, per-verte do aforismo latino “penso" em "ergo sum non”, aos olhos do sentir e da alma real dislate, a esfinge infausta ou deslumbrante do fenecimento, por ser suficientemente transcendente, escusa o vulgar a que acho-me mais que habituado, e sou apto de altear-me ultra do Empíreo, onde as eloquências representam a ligação eminente de seu princípio apegado à desinência, as locuções proferem o imortal de ser condoído, as frasísticas de efeitos da ênfase promulgam os adendos da insensatez, as figuras de estilo e linguagem desbaratadas, sem rumos e destinos, só letrando o discurso das intermitências e intempéries. Delibero, para os convenientes termos e análogos, abonar o confim de mim, afugentar-me pros contérminos, muito além do viridário e das sete porções de Campari, as alcoólizes(alcoólices) com eles são fatais, nem mesmo o invulgar Engov dá conta da mensagem, depois a sossega, nem mesmo a água colhida na fonte, transparente e aprazível, trata a ressaca.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 29 DE NOVEMBRO DE 2020, 11:06

a.m.#

 

 

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