@CAMINHOS@ GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ====


A caminhada faz os caminhos.

====

Caminhando atinge-se outros horizontes, uni-versos, outras conquistas, outras glórias, outras realizações, torna-se outro. É sentar na margem da estrada, no bosque, ouvindo música no carro, porta aberta, olhar o Infinito com as pupilas brilhando de alegria, felicidade, deixar o peito arfar-se, ou sentar-se à beira-mar, nos banquinhos de piers, trocar dedos de prosa com o amigo íntimo ou o ser íntimo, imaginar as águas desde a fonte até aquele sítio em que se está sentado. A vida é outra. Sou outro. O que isto significa? A vocação do homem é a entrega, a doação, desde a eternidade à eternidade.

====

Nestes momentos de conquistas, glórias, realizações, o outro se manifestando, dando-se, à luz da terra e do mundo, é o momento de engajar-se em projetos, em responsabilidades, compromissos, hora de fazer. Isso é com o outro, doar todas as conquistas, todas as glórias, realizações nas mãos do outro.

====

Nas letras, esta doação se faz, levando o outro a meditar, refletir, mergulhar na sua vida, em seu íntimo, procurar-se nos cofres do íntimo, trazer-se à superfície, assumir-se, saber quem se é, tornar-se outro. É dividindo, compartilhando que nos completamos, a lâmina do Machado e o Tronco da árvore sintetizando-se, o Machado e o Ferro do Martelo aderindo-se. O homem é ser-para o outro. Os artistas, sábios, intelectuais, espiritualistas ainda mais são para o outro. Nada lhes pertence.

====

Não se ensina a viver. Mostra-se os caminhos para a vida, cabendo ao outro decidir os caminhos. A vida está no homem mesmo. As mudanças estão nele mesmo. Não se muda para o outro, muda-se para si próprio. Mudar-se para o outro é ser "cachorrinho de madame", quem deseja esta humilhação e ofensa à sua espiritualidade, consciência?Tudo que circunda o homem na sua contingência e quotidiano torna-se outro com a sua mudança, com o encontro do seu Eu. Mas se este Eu não estiver sempre em movimento, buscando-se inda mais, torna-se "PRÁTICO-INERTE", petrifica-se. A verdade de hoje não é a verdade de amanhã. É preciso sempre projetar a verdade encontrada às buscas de outras verdades. Thich Nhat Hahn, monge vietnamita, diz que acumulação de conhecimentos não é sabedoria. Sabedoria é o esvaziar-se para se preencher novamente.

====

Nas letras existem muitas dimensões a serem encontradas e desenvolvidas. Ser poeta apenas não satisfaz a sede de conhecimento. Ser escritor, ensaísta, crítico literário ou filosófico, filósofo também não satisfaz. Fernando Pessoa multiplicou seus heterônimos em inúmeros, satisfez-lhe? Satisfez, mas por haver revelado que existem inúmeros "eus" no homem, cumpre conhecer-lhes. Hoje sou a vida que escreve, o escritor que escreve a vida. Agora é compartilhar as côdeas desta vida com os que estão precisando saber a vida, saber quem são, o próprio sentido deles no mundo e na terra. Dir-se-ia utopia de cinco estrelas, não? Só com muito milagre para a realização disso. Não. Para uma geração sem nada na mochila, sem registro geral, identidade, isto não acontece, utopia mesmo, justamente o sem sentido, jamais se realizará; se a caminhada faz os caminhos, nalgum tempo futuro fará diferenças inestimáveis; desta geração, nada espero, esperar o que?, nem espero que acrescente mais hipocrisia, mais farsa, mais nonsense, atingiu a divinidade da cretinice, darei o recado em gerações futuras. Há-de se ter consciência de que o escritor é existenciário. Quem pode impedir as flores de nascerem? Nascerão per siempre. Sirvo-me de uma fala do eminente amigo Maurilio Guimaraes: "Só se joga pedras em árvore que dão frutos."



#RIO DE JANEIRO(RJ), 04 DE NOVEMBRO DE 2020, 15:14 a.m.#

 

 


Comentários