@PARTES DO MEU EU@ GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA ====

DEDICATÓRIA:



Ao amigo, compadre, companheiro do Intelecto e da Literatura, Paulo César Carneiro Lopes, com os meus sensíveis cumprimentos.

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Por que não sou poeta, eu?

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Às vezes penso em mim,

em todas as partes do meu “eu”,

esse meu “eu” que nem eu mesmo

compreendo em sua extensão de eu.

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Ai pudesse eu ser

todas as partes juntas do meu “eu”,

todas concatenadas em várias partes de mim,

todas reunidas em diversos ângulos de mim,

todas comungadas em inúmeras dimensões de mim.

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Sou o ônibus que rasga a avenida rumo a algum lugar,

levando os passageiros ao seu destino,

Sou o automóvel que desvasta a rodovia federal

em direção à Região dos Lagos, levando o casal

para um descanso das coisas quotidianas da vida,

sou o escritor que diz não de si, mas de outro

sempre à procura de si.

Nó górdio no riste da língua.

Não tem sentido falar de si. O melhor é falar

dos outros tentando mudar os outros...

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Ideologia, utopia!

Sou as cenas vistas,

todas tendo um tempo marcado,

uma intenção numulária,

nunca entrando em pormenores psicológicos,

perspectivas psíquicas,

apenas mostrando uma interpretação,

entenda quem quiser... se lhe for possível,

apenas de-monstrando uma verdade,

mister dentrar-lhe nas entranhas.

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Eixo sintagmático, paradigmático r.r.r.r.r.r.r.r.r.

Nunca sou “eu” realmente... O meu ”eu”

impede de ser

as ruas por onde ando, vendo edifícios,

arranha-céus,

os bancos de praças públicas, nos calçadões de praias,

a preferida é a do Popeye,

lá na terra gostosa de Iguaba Grande,

onde me sento,

observo os transeuntes,

homens, mulheres, pedestres, lésbicas,

homossexuais, traficantes,

trambiqueiros(denominados "171")...

Seres humanos!

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Sou o cigarro que fumo, soltando fumaça,

perdendo-se no ar.

Não sou poeta,

nunca quisera;

o poeta diz coisas que, no momento,

não consigo dizer,

never, no more serei capaz desta proeza.

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Apenas estou, aqui, tentando expressar

alguma coisa de mim mesmo,

do meu existencialismo, excomungado

pelos dialécticos da iluminação,

O escritor conta estórias

tiradas não de si, mas da região escura de si mesmo,

e nunca sabe o que diz;

às vezes, se perde no enredo por si próprio esboçado,

nunca seguido.

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Ai de mim...

Tic tac tic tac tic tac tic tac

O pêndulo do relógio bate incessantemente.

Estou longe do barzinho da frente,

do estacionamento de trás,

da realidade de lado

da boca-de-fumo de costas.

Estaciono nas linhas que, agora, traço.

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Rumo ao infinito de toda existência

pré-estabelecida.

Normas, valores,

idade da razão, razão de ser apenas isso:

um homem.

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Sensacionalismo... À minha frente,

a parede verde.

Meus olhos se perdem no verde da parede

diante de mim!

Não preciso de óculos para enxergar.

Meus óculos estão dentro de minha mente.

Alguém me prometeu pintar um quadro,

mostrando-me a fisionomia de mim

e os óculos dentro de minha mente.

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Sou o elemento mediador dessas quatro paredes

ao meu redor.

A parede é... O quarto é... Tudo enfim é... Apenas

estou tentando ser

algo de mim mesmo nos dedos que datilografam

versos sem rima, parvos é que rimam divinamente

- amigos e companheiros inseparáveis de Zagaia -

sem ritmo, sem forma;

modernas são as linhas que traço,

enfio nelas psicologia, filosofia, linguística, estética

nas palavras soltas,

dão um arzinho mais aconchegante,

apenas para dizer que, neste momento,

estou compondo um poema,

um poema que não diz nada,

Entretanto, o que nada diz

Traz nas suas entranhas o que ser

Olhado, in-vestigado, avaliado.

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Não sou poeta,

nunca quisera!

O poeta sente as próprias linhas que traça,

o sentimento que vai por detrás dele,

em frente a ele,

ao lado dele.

Consegue, em poucas linhas, expressar

toda uma sensibilidade

que, talvez, ele mesmo desconheça.

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Ontem estive pensando seriamente em tudo,

em todas as coisas;

assustei-me ao ver que a realidade não existe,

o real, ilusão de ótica.

Existe, apenas, um corpo que vaga,

que paira no ar,

que entra por um vaso sanitário,

que perde o “eu” e vai atrás dele,

como se fosse um seu amigo de ontem,

de hoje, de sempre,

mas não deixa nenhum endereço para correspondência,

nenhum e-mail para contato,

Volta para casa e se tranca de novo... Meses após,

é encontrado num caixote de lixo,

encostado ao tronco de árvore,

à beira da boca-de-lobo,

pelos funcionários da limpeza pública.

Um outro corpo que vai, ao cemitério, no Dia de Finados,

visitar a si mesmo

e entra em fase retrospectiva

e se acha de novo, frente à sua sepultura,

dizendo apenas adeus, aquele famoso dos franceses

da margem esquerda do Senna,

pois precisava cuidar de si mesmo.

Sai do cemitério sem olhar para trás,

sem mesmo se lembrar que uma parte de si

está morta...

Estive pensando seriamente em tudo isso,

em todas as coisas.

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Penso na razão in-versa,

Suplementando as contingências do

Eu e do Outro,

Penso no intelecto re-verso

À face do Outro como diferente de mim,

como Ser em si mesmo,

diferenciado de mim,

com seu olhar que é sempre revelação de si mesmo,

não como projeção do eu dominador, superior,

dono de uma verdade absoluta e indiscutível,

que vem ensinar,

mas como acolhimento e escuta,

implica posicionamento diferente para mim.

Penso no in-fin-itivo,

E o que expresso nada diz do in-fin-itivo

Nenhuma palavra, nenhuma sílaba,

nenhum fonema é por si mesmo unívoco

e em razão de si mesmo.

A possibilidade da polissemia não está,

também,

na equivocidade.

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Nada é diverso em razão de si mesmo.

Nem é diverso em razão, apenas, dos outros.

A possibilidade da polissemia está na síntese,

na analogia e não apenas

na dialética da oposição de contrários.

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Não vi motivo para entrar numa tabacaria

e comprar o fumo;

o tabaco e fumar meu cachimbo,

que ora se encontra dentro de meu guarda-roupa,

numa inércia como eu também estou.

Inerte frente a esta folha de papel

que, de segundo a segundo, cria novas palavras,

novas sentenças, novos versos que nada dizem,

dizem apenas para quem os vai ler

e sentir que não nasceu para ser poeta.

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Nunca quisera ser um poeta.

Amigo, amigo... solidão, desespero, angústia.

Fumaça... São apenas as fumaças que ficam no ar

e não dizem nada, pois não têm nada a dizer,

apenas somem no ar,

sei lá... Ai de mim,

ai de mim, o poeta que está muito convencido

com essas linhas e chega a dizer

que elas estão dizendo muito, ah, este não é poeta!

E não custa nada dizer um pouco em versos

que vão se perder no tempo, no espaço,

no escuro de si mesmos e nunca terão nada a não ser

o corpo que a carrega e que breve, muito breve,

já não andará pelas ruas,

não vendo as cenas de tempo marcado;

e espero mesmo que seja breve,

depois não existe mais nada,

nem mesmo o que foi ou tentou ser e não foi,

o amor que se revelará,

não sei quando...

vivências, experiências,

O amor.

Fumaça...

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No infinito há tanta esperança..., poesia cósmica, poesia-cosmos de início de outro tempo, de outra verdi-estação de paisagens e travessias do ser que se sonha ser, dos desejos de outros duetos losangos do sol nascente, do preâmbulo que precede a alma aromatizada de sublimes leniências que diluviam novos encontros, novos sonhos do verbo amar, novos verbos do sonho-amar o vir-a-ser da Vida,

da Liberdade,

da Consciência-Estética-Ética à lá '"Carneiro Lopes", poderoso chefão do Intelecto, residente na Paulicéia Desvairada.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 03 DE NOVEMBRO DE 2020, 16:58 p.m.#

 

 


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