#CASTANHEIRA DA LIBERDADE# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA PROSAICO ====


Dias de verão,

Inquietação, agonia.

Horas de suor.

Madrugadas de mormaço.

Lugar em tédio deixado.

De tudo, sentimento vivido.

De nada, re-versa emoção de lácias dialécticas,

Logus grego,

Latinas contra-dicções nas marolas dos ideais,

De vazio, in-versa sensação de egrégias des-razões.

De nonada, per-versa intuição dos nonsenses,

De nós de nada, ações executadas em ações a uma resistência,

A re-núncia encontrada em nós desta liberdade.

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Sibilo de vozes - ouço e nada com-preendo, entendo, apenas ser mister fazê-lo, há o que o tempo realizará e com primor. Perscrutando momentos que a isto precederam, nada há que possa elucidar senão enorme vazio, anunciou-se e de imediato escafedeu-se. Estive procurando ideias inéditas que esclarecessem aquilo de a "Castanheira da Liberdade" deva ser regada não apenas de tempos em tempos mas a cada instante.

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Olhar de frente as coisas lineares

Re-nascidas nas veias oblíquas

As coisas verticais,

Re-feitas nas veias oblíquas, sangue obtuso.

Olhar de baixo para cima as coisas ridículas,

Isto se as bordas não estiverem empoeiradas,

Estando, desnecessário saber o que há em cima.

Re-feitas de brilho e resplendor.

Gosto do Nada

Assim, frito,

cozido, assado,

Subjuntivado, gerundiado

Participiado,

Subjetivado.

Amo o Vazio,

Frio, esguio,

Escorregadio.

Sou fã da Nonada

Declinada, recitada

Declamada,

Preterizada,

A-nunciada

Por que não dizer até

Às idéias filosóficas

Poemada?

Olhar de esguelha as coisas visíveis

Re-criadas de sonhos, utopias.

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Seriam sibilos da consciência, coisas pretéritas a que não dera a mínima atenção, não despertavam quaisquer interesses, em nada iriam interferir, inúteis e passageiras. Não há duvidar: interferiram, tanto que sinto perdera oportunidades, poderia ter criado uni-versos in-estimáveis, hoje estaria aproveitando delas, curtindo-as. É regar a liberdade com os frutos das vivências. O tempo passa, a eternidade permanece.

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Vem a imagem de que necessito

Re-tornar à sombra de uma árvore,

Jabuticabeira,

A cabeça sobre sua raiz,

E olhei para cima,

Um vazio sem limites,

Mas esta lembrança permaneceu

Em mim desde sempre,

Embora não tenha sentido ou intuído antes.

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Fazenda.

Era tarde,

O sol queimava o corpo a qualquer toque,

Um calor infernal,

Fui lá eu sentar-me por baixo de uma árvore,

- Castanheira -

Para descansar à sua sombra,

Fora quando senti um vazio enorme,

Eu, inteiramente sozinho, inventando coisas,

Inventando o homem, tentando preencher o vazio,

Noutra ocasião, antes, iniciado havia muito

O que me inspirara desvencilhar-me do sentimento,

Aprender a ler e a escrever por intermédio de

Folhas de jornal,

Não, o sentimento permaneceria per siempre,

Poderia alguém crer impiamente

As crianças não escolhem sozinhas seus

Próprios venenos?

Engolia o meu vazio com a ansiosa austeridade

Dos viciados em droga,

Reatravessando as páginas em sentido in-verso

Re-colocando-me do lado de Simão Bacamarte,

Pálidas virtudes quotidianas,

Deixaria atrás de mim,

E quando desejei ter ao meu lado todos os homens,

De qualquer credo ou raça,

Vi-me caçador do in-audivel, in-visível,

Inter-dível

A terra sugere levantar-se, o céu descer.

O abismo virar-se ao avesso, o fundo de cara

Para o espaço sideral, a superfície para o fundo incognoscível.

As estrelas deslizarem no espaço até caírem.

A lua re-colher seu brilho, esconder-se.

O verão vai chocar guinchos cerimoniosos nas vertigens.

Trans-corre-se ambíguo.

Ab-surdo plúmbeo e clorificado.

Oscila entre sombras, tédio, obscurecimento.

O duplo trans-corre-se.

Oscila entre o pessimismo, nostalgia, paz.

Somos miséria, desgraça,

Somos pobreza de espírito, esquizóides da alma.

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A liberdade, luz estrídula: presente e futuro.

Presente mesquinho,

Medíocre, vivido insuportavelmente.

Não vislumbro nele senão estranho e inexplicável

Mostruário de paixões e desejos reprimidos,

De tradições e idéias maquinais,

Ideologias do apocalipse nos templos ridículos,

Falácias, verborréias,

Neuras ec-sistenciais,

´Coses con-tingenciais,

Tudo mal misturado e ao acaso

No rosto débil e lustroso de um homem

Que orça pelos...

Tão irresoluto e indeciso agora como o fora na mocidade.

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Se os sibilos de vozes que, agora, são lembrancitas deles e das inquietações da alma com o momento de perquirições dos pretéritos de insubordinação, irreverência, rebeldia, desobediência com as cositas da vida, foram aquela chamada para refletir a liberdade é mágica, pode re-fazer-se, o atrás ser apenas um ensaio, à frente tudo se construir, instituir-se, a vida se re-velar. Possui o seu fundamento esta reflexão, mas creio ser muito mais que isto, é no crepúsculo que se a-nuncia a maturidade para vivenciar as realizações. Se naquele instante de sibilos de vozes não compreendi o que diziam, vozes filosóficas emitidas por todos os recantos, só a autenticidade valeria a pena, as coisas se fazem continuamente, seguir as vias, agora a música das palavras artificiaram o sentido que traziam em si.

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Com certeza, houve modificações, mas metamorfose alguma.

Nada além que irresolução e indecisão.

Que inventário maravilhoso!

O conhecimento da beleza incumbe-se em ir construindo-se.

A afeição transbordante de calor.

Passo pelo tempo, conhecendo.

E nada vem do chão, e nada vem do abismo,

E nada vem da terra,

E nada vem dos bosques,

Tudo vem do mar...

Não fora Sócrates quem disse,

“Homem, conhece-te a ti mesmo...”?

A imortalidade viva e perspicaz de ternura.

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Se aqui, “ad absurdum”, o conhecimento da beleza

Torna-se ainda mais doloroso,

Empresa de longo fôlego.

Se lá, “ad infinitum”, o conhecimento da beleza

Será apenas idéias de mim.

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Só eu sei o que isto significa.

Estar à procura de uma realização,

Não sabendo onde se encontra:

A ausência de compreensão e entendimento.

É muito mais profundo.

Resta-me agora a tarefa mais difícil,

Mas também a mais necessária:

Falar-vos brevemente a meu respeito

Sem pudor nem vergonha,

Sem meias palavras, sem omissões, sem in-verdades,

A fim de dar consistência ao pouco que exponho

Aos senhores até agora.

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Porque vos poderia ter sido exposto por qualquer outra pessoa, mas, para ad-quirir um mínimo de valor, deve estar, por assim dizer, encarnado em uma experiência concreta vivida. Melhor dizendo, é preciso mostrar que foi “pago”, porque não foi gratuito, nem muito menos substituível ou suplantável, ou seja, anônimo e anódino.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 20 DE NOVEMBRO DE 2020, 10:42 a.m.#

 

 

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