#RUMOR DO SILÊNCIO & PEDAÇOS DO VAZIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA



Qualquer mero vínculo de sentimentos
é pedaço do vazio que o tempo
sela na eternidade,
inebriando um ponto vivo diante da imensidão,
des-cobrindo que a impermanência
é também do eterno,
des-velando-lhe o mistério
que é a luz da verdade,
emaranhado na fossa,
excepto as quimeras e devaneios,
a canção da glória.
@@@
O rumor do silêncio
começara a invadir
o limitado ínterim
do
tiquetaque
. murmuro quase que cochichando algo
em voz baixa
estudo os contornos de
minha face,
o que lhe é oculto,
devo confessar que me
sinto poucochito desconfortável,
tímido, arredio até,
abaixando-me para amarrar o cadarço
do meu sapato-tênis,
subindo os degraus do ônibus noctívago,
viagem longa, horas a fio,
Estava ocupando os espaços
intercalados
entre
o tique e o taque,
esqueceu-me o enigma dos olhos
refletidos na superfície lisa
do espelho,
deixei-me refestelado na poltrona,
janela aberta, esperando
a partida,
neste instante-limite, instante-já,
deixando a onda marítima tocar-me os
pés,
deixando os linces do olhar
viajando pelo mar sem limite,
fronteira,
a compositura da liberdade,
amor e espírito.
@@@
Para vencer o vazio,
a fossa,
faz-se mister
ter a semente e o cio
Na construção da ternura,
do sonho, das utopias;
Século XIII cada uma destas
palavras soavam verdadeiras
E reluziam como carvão em brasa
Derramando a cada página
Como se fossem escritos de
dentro da minha alma de "mim-mesmo",
para o êxtase que me ascende e acende
soariam verdadeiros,
emaranhado na fossa.
Estivera presente nos bares do Maleta
Augusto de Lima,
Esquina de Rio de Janeiro,
Teatro da Imprensa Oficial
Morei no primeiro andar do edifício, contíguo à escada,
Havia música nos bares à noite,
dando acesso ao espetáculo de intelectuais, eruditos,
artistas, professores, doutores, os viciados colocavam suas idéias em dia, tomando
"birinaites",
E aquele sentimento de liberdade...
Haveria de continuar a continuar feito águia que fugiu
Emaranhada na fossa de seu primitivo voo.
Aprendi a fossa, apreendi, recolhendo as suas visões,
pontos de vista, a-colhendo-os sob a luz da travessia
de um tempo a outros que se abririam nas andanças
por inúmeros lugares, os múltiplos pontos de vista.
@@@
Para manter a ternura,
o destino, o amor, a liberdade,
Num fio só de esperança,
É crer que a planta mais pura
Vem nos pés de uma criança,
Na orla marítima todas as coisas são belas em seu tempo
O preto e o branco, o sol a pino,
A maresia marítima noctívaga,
Está tudo bem lá na frente de mim na
Ilha, bosque circundando.


#riodejaneiro, 28 de janeiro de 2020#

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