#AUTO DO NONENSE EM CONTRA-DICÇÕES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



O ensejo que deve se "Vestir de Vida" não pode se esquecer de que, embora tantas marcas de espinhos, o sangue escorrendo na face oculta, a tiara deverá ter as belas flores do campo, perfume inominável e indelével ao intelecto, ao olfato, aquele poder de sublimar as mais inconscientes quimeras da loucura e da razão pura.
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E, à medida que a existência corre, torna-se mais oca, mais desenxabida, mais tola... misturada às cositas das moléstias psíquícas, apreende-se as sinuosidades da alma na sua quimera de conquistar o subterrâneo do espírito, de modo ininteligível de tão perfeito a abrir as asas voltadas para outros horizontes além das contingências e dos nadas. ‘É como se eu estivesse descendo uma montanha, pensando que a galgava. Exatamente isso. Perante a opinião pública, eu subia, mas, na verdade, afundava, diante de meu ponto vista, descia os degraus do vazio que habita o abismo... E agora cheguei ao fim – a sepultura me espera. Perquiro-me: vou consenti-la "Vestido de Nada" ou "Vestido de Sublime. A espera constante da morte não só não envenena a vida, mas lhe empresta firmeza e claridade. Tomou-me sorrateiramente paranóia indescritível da morte, suspiro menor ou maior era sinal de que estava próxima, só estava esperando o con-sentimento de mim, deixando-me a coragem de percuciar inda mais os interditos da alma, assim que me livrei dela, mas isto só após a consciência do que estou dizendo com todas as palavras no riste sonoro da língua.
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Contra-dicção...
Dialética....
Nonsense....
Quiçá,
Emprestando-lhe
Firmeza e claridade,
Re-vista ec-sistir
Mais intensamente,
Bastar-me-ia recordar o que fora eu,
Meses atrás...
E o que sou neste instante-limite,
Lembrar com que regularidade
Descera a montanha,
para que aniquilasse toda a possibilidade
de esperança.
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Se não erguesse os dedos, fizesse um gesto, estrangularia a verdade. Diria: “O jarro quebrado, quadro desbotado, pintura obscurecida, pobre trinco...” Possível fosse nota de violão, constituindo qualquer som, não música para mostrar o barulho final destas palavras, a algazarra, as zaragalhadas, zaragatas, vozes estrídulas com a simplicíssima questão da poetisa que mirou as estrelas e acabou atingindo os "its" das coisas. Creio que seria capaz de revelar o como as coisas tremelam, as mãos tremelicam. Com o Grammy seria celebrizado.
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Flor de desejos e rosas de sonhos...
A auscultação, as perguntas que exigem res-postas
formuladas de antemão
per-formadas às revezes
de sentimentos ora perpassam-me o íntimo,
e, ao que parece,
desnecessárias,
a expressão significativa, que sugere o seguinte:
haveria de compadecer-me de mim;
ora roçagam-me
a pele e os poucos pelos que habitam as pernas ambas,
o ventinho da corrida nada de olímpica lega o supremo
idílio das sensações,
e, no sentido-sendo das coisas corriqueiras,
superamente sine qua non para
o bom juízo de obtusas ciências
do inconsciente, do que habita o que lhe vai além,
que abre as vistas para a neblina
que cobre a lua em noites desvairadas de
cannabis e vodka de péssima qualidade.


#riodejaneiro, 28 de janeiro de 2020#

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