#REBO NO MEIO DO TRILHO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




Noutras falas, não há qualquer erudição sem um divo, na Pedra Lascada o divo era o fendido da pedra, à luminosidade de incertezas e suspeitas, na Pedra Polida era o polido da pedra o divo incontestável e verídico. Com certeza que o Deus pode ser aquilo em que nós acreditamos para sobreviver, saborear o sabor da vivência por intermédio de con-tingências, para uns povos é o porco, para outros o Alá e assim sucessivamente.
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Do rebo o divo inegável, o divo indubitável, o divo in-obtuso, o divo in-oblíquo, credencia-se ou não em Divo, não há consenso, não há incontestes, porque não credenciar em Divo não habita, não reside, é postura de asno, é extravagância de pateta, de pernóstico, é despautério de Paulocinhos, é absurdo de parvo, mesmo que o divo seja o rebo no meio do trilho, no meio do trilho haver uma pedra, para que a expectativa de a pedra se deslocar, andar, no meio da via ou na sua orla se concretize. Pelo vasto arealum, vasto paquiderme. Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo vem a folha, que devagar e devagar se desdobra, depois a flor, depois o suspirado pomo. Pois essa criatura está em toda a obra: cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto, e é nesse destruir que as suas forças dobram. Ama de igual amor o poluto e o impoluto; começa e recomeça uma perpétua lida; e sorrindo obedece ao divino estatuto.
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Num olhar profundo e ardente, tal é na hora presente o horizonte do passado. No fugaz tempo dos começos, o vácuo antepunha as ópticas de ninharias do perene, começo do não-ser, semente do não-ser; no perpétuo tempo de origens, o não-ser antepunha os pontos de vista de passagens abaladas de cosmos, termo do supremo, baliza das origens, últimos perenes da crença no além, e ninguém creditava qualquer possibilidade de presenciar a última erudição, o último erudito, e a erudição e o erudito alçam voos por todos os alhures do mundo. Ao nosso espírito ardente, na avidez do bem sonhado, nunca o presente é passado, nunca o futuro é presente.


#riodejaneiro, 24 de janeiro de 2020#

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