##TEMPO VIRÁ...## - Manoel Ferreira


Tempo virá em que o sentimento de ausência outro não será senão pretéritas lembranças do vivido e vivenciado que nada justificará ou explicará haver existido e, quando se re-velaram outras trilhas a serem seguidas, nada esclarecerá o quê intimo e recôndito de preservar, conservar as alegrias e prazeres que se pres-ent-ificaram, a felicidade que ocasionaram, muito menos a decisão de seguir em frente senão o que fora pensado no momento: "as folhas quando caem nascem outras no lugar", música antiquíssima que tocava na emissora de rádio naquele instante. O sentimento de ausência trans-literaliza-se ao longo do tempo, torna-se "sentimento de presença", e esta "presença" outro sentido não tem senão que o vivido e o vivenciado no passado foi pedra de toque para um encontro no presente, e ele está sendo realizado, as alegrias e prazeres sentidas foram quimeras, fantasias, as de hoje são reais, verdadeiras.
Tempo virá...
Tempo virá em que a sensação do belo sentida e esvaecida de imediato - o que é em demasia simples: as sensações surgem e desaparecem num piscar de olhos, mas nalgum interstício da memória dimensão dela foi assimilada, retida, gravada, só com as experiências e vivências torna-se clara, límpida, nítida, trans-parente, isto porque ela vagueia, deambula, perambula no sensível até ser inspiração - será as sendas e veredas por que se deve seguir para a realização do belo, não se esquecendo, olvidando das sinuosidades que ele "apres"-enta, ocultando-se, revelando-se, e mesmo que seja realizado com perfeição e excelência muitas vezes só pode ser sentido, visualizado com os linces do espírito, formas, conteúdos, estruturas não são suficientes para a visão real plena, assim a beleza que no belo habita só na travessia dos tempos para a eternidade, para o in-finito será re-velada, manifestada, mostrada. Tempo virá em que isto estará mais do que presente na mente, na alma, no espírito, no ser, e não haverá qualquer razão para angústias, tristezas, náuseas ocasionadas pela não realização do belo, compreender-se-á e entender-se-á a arte da vida é a paciência, tranquilidade, calma, o absoluto pode ser realizado, se assim o for, aquilo mesmo de "devagar é que se chega lá" ou "é comendo quieto que se sacia a fome", fome do saber, fome da sabedoria, fome do conhecimento, fome do ser.
Tempo virá o amor sentido tão pleno, tão absoluto, tão supremo será apenas uma quimera, sorrelfa, fora fruto de medos, inseguranças, fugas das dores e sofrimentos, fora aventura, passeio no tempo e suas situações, circunstâncias, piquenique à beira de uma catarata linda, esplendorosa, e quando este tempo se pres-ent-ifica aquele sentimento de angústia por ter vivido e vivenciado tantas coisas com a certeza de ter sido amor, e nada significa, sentido algum tem. Dizem que os amores vividos preparam para o verdadeiro amor, e disso não se pode duvidar, é real. No momento da consciência de o amor que era supremo, absoluto, pleno sentido algum tem, o sonho do Amor com letra maiúscula se faz presente, então é o instante do mergulho mais que profundo na inconsciência, em todas as dimensões da alma, sendo sincero e digno com os desejos, vontades, esperanças, porque o Amor só se revela quando se des-venda, des-vela as contingências da vida, faltas, falhas, problemas, traumas, limites, quando se é o que se é, quando se vive de quem se é, e con-sentindo que o Amor encontrado é sempre senda, vereda para outras descobertas, conservar o Amor encontrado é negar-lhe em seu ser, há-de se criar gestos, atitudes, comportamentos outros, sendo o amor dentro de outro amor, dentro de outro amor... Tempo virá...
Tempo virá...
Tempo virá...
Tempo virá...



Manoel Ferreira Neto
(13 de agosto de 2016)


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