**A PLASTICIDADE DO OLHAR, MERGULHO NO NADA, NA OBRA DE GRAÇA FONTIS** - Manoel Ferreira


A arte plástica da pintora Graça Fontis traz em si segredos visíveis e invisíveis, a visibilidade da condição humana, buscas, desejos, querências permeados dos problemas mais íntimos de dores e sofrimentos, a invisibilidade das esperanças, sonhos da vida, esperanças da imagística da sensibilidade, percepção, intuição, inspiração, que necessitam ser vivenciadas, vividas, sentidas em todas as dimensões contigenciais do presente, aqui-e-agora.
De imediato, surge o questionamento sine qua non para sentir profundo as estratégias e engenhosidades desta obra sui generis: como o olhar é capaz de contemplar estas esperanças, sonhos, vendo as dores e sofrimentos do mundo, angústias, tristezas, desolações, tornando visíveis as esperanças, sonhos.
Se olharmos as peças com os linces comendo a pintura na tela, suas luzes, contra-luzes, perspectivas, ângulos, de imediato percebemos os olhos, o olhar. O olhar está presente em todos os instantes.
São olhos que mergulham no nada, no absurdo das coisas mundanas, nos homens, nonadas, insanidades, nonsenses, faltas, falhas, a própria natureza humana, arbitrariedades, gratuidades, negatividades, não à busca da trans-cendência, do além, re-colhendo e a-colhendo o espírito da vida. Para Graça Fontis, o espírito da vida não habita no transcendente, mas no contingente, de onde ela re-colhe a a-colhe a espiritualidade, que está re-presentada nos seus traços, no quotidiano, transformando no espírito do ser, esperanças, sonhos, fé.
Apesar de saber da metafísica da imagem, conhecê-la, senti-la nas dimensões do dom e do talento, na intimidade, o "olhar" mergulhando no nada, linça com os linces, através da forma, traços, esboços a esperança da visão da alma humana, mostrá-la à luz da trans-parência da plasticidade da arte. A metafísica da imagem é contingência do mundo, do homem. E perguntamos aqui a respeito de como a autenticidade se pres-ent-ificou, Graça Fontis é Graça Fontis, sua arte é sua arte, como surgiu? Graça Fontis não pensa a arte, não a traduz... traz a imagem para a mente, sente a imagem na mente, e busca nos traços, luzes, contra-luzes os sentimentos, emoções. Assim se pres-ent-ificou ser quem é na pintura: trazendo as imagens para a mente, sentindo-as, transformando-as, traz o que habita os recônditos da alma, esperanças, fé, sonhos, o vir-a-ser, e o mais importante, eivados da sensibilidade no íntimo da espiritualidade, o núcleo da eternidade da beleza do belo, a Vida si-mesma.
O ser que se lhe revela na arte plástica é a visibilidade da alma humana, e só poderia artificiá-la nos olhos, no mergulho do olhar nas coisas mundanas e dos homens, o olhar é o responsável pela des-coberta da esperança, dos sonhos, que não estão no além, mas na contingência mesma, meta-artística do ser que se faz continuamente a partir da entrega plena e verdadeira aos desejos, vontades, volos. A felicidade, as alegrias, sin-cronias, sintonias, harmonias das querências, desejâncias e a efemeridade das coisas, do tempo, dos ventos, contentamentos estão no estar-no-mundo, suas náuseas e seus sabores, suas glórias e fracassos, seus sucessos e frustrações.
Descobrimo-nos con-templando a meta-artística da alma na sua intimidade com os limites, imperfeições, incapacidades, buscando neles mesmos a meta-imagística do ser, que traz inerente a visibilidade das coisas mundanas e dos homens. Descobrimo-nos contingentes na jornada para a espiritualidade no mundo.



Manoel Ferreira Neto
(08 de agosto de 2016)


Comentários