**HORIZONTES SALPICADOS DO HÁ-DE VIR** - Manoel Ferreira


Asas... Vôos... Liberdade!
A liberdade é lícita, mesmo sob a luz do efêmero, sombras de pretéritos das irresponsabilidades, arbitrariedades. A liberdade destrói culturas, destrói tradições, destrói princípios dogmáticos, preceituosos, destrói morais e éticas retrógradas, abre frestas e frinchas para outros ideais, para outras idéias e pensamentos, outros projetos e utopias. Voa para todos os lugares, por todos os horizontes e uni-versos.
Não se manifesta espontaneamente, sempre nos instantes-limites da dor e sofrimento, o pior inferno é ser incapaz de ser livre.
Ontem me foram as algemas, correntes, angústias, tristezas, medos, pensamentos furtivos, as circunstâncias da liberdade seriam difíceis, dolorosas, condições de vida indescritíveis, ininteligíveis.
Hoje é a liberdade. Não me é dado saber se a liberdade era legar-me a sabedoria dos mistérios e enigmas da Vida, do ser. Sobrevoaria abismos, florestas, campos, mares, de efêmeras em efêmeras res-postas de questionamentos, dúvidas, indagações, reunindo as verdades adquiridas, pedaços do espelho espalhados no chão de giz, confetes à mercê dos ventos, passos a passos no tempo de buscas, elixir do estar-no-mundo, e mesmo que no tempo, consumados os ad-vires e há-de seres, tudo seja pleno vazio, absoluta solidão, o éden da contingência fora a coragem de ser a ec-sistência, nada de paraíso, nada de inferno, se o além é real ou se elucubração dos momentos de covardia e fuga do desconhecido, dos mistérios, enigmas, segredos. Sem a fé não há a liberdade e sem a liberdade não há a fé. Asa da liberdade, da fé, pássaros ciscando solitários grãos que os alimentam, sem poderem voar, sentirem a côdea do pão uni-versal que sacia a fome, são as asas comungadas, aderidas, o deixar-se às levezas do ar, o deixar-se do outro ao ar das levezas, a liberdade consuma-se na liberdade do outro.



Pedaços do espelho espalhados no chão de giz,
Confetes à mercê dos ventos,
Passos a passos no tempo de buscas,
Côdea do pão uni-versal que sacia a fome,
Deixar-se às levezas do ar,
O deixar-se do outro ao ar das levezas,



E a liberdade plena não é amar incondicionalmente o verbo de ser? O pior inferno é não ser capaz de amar. E o verbo de ser não são asas, vôos de pássaros perdidos ao longo de bordas horizontais e verticais, não é a liberdade de elevar à transcendência do espírito a contingência da alma?



Posteridade...
Amar incondicionalmente o verbo de ser
Entregar-se inteiro às utopias da compl-etude
Efemer-itudes...
Voos de pássaros perdidos ao longo
De bordas horizontais e verticais
O deixar-se do outro ao ar dos prazeres
Sublim-idade...
A liberdade legar a sabedoria
Dos mistérios e enigmas da vida
A liberdade con-sentir a gnose
Do silêncio, do conhecimento, do in-audito.



Orvalhos de percepções respingando gotículas
De volúpia, êxtase de poiésis dialéticas,
Vivências e experiências, entregas e árduas labutas,
Iluminação, inspiração, criatividade,
Gotas de neblina tocando suavemente os desejos da beleza,
Os sonhos do belo, as utopias da beleza do belo
O diamante riscando no espelho das fantasias
A imaginação fértil do verbo do além
Abre a frincha de cujo espaço con-templa o eterno
Cânticos, melodias que trans-elevem a fissura do som
Do divino, da omnipresença, da omnisciência
E revelando miríades de imagens que, alumbradas,
São o croqui do verbo da alma, das regências do espírito.



Reveste-se o além de átimos do tempo, pre-figurando de aquéns das sorrelfas os horizontes salpicados do ad-vir de sublime esperança, o nada re-colhe e a-colhe dos pretéritos as abissais ipseidades dos instantes-limites, o vazio re-colhe e a-colhe dos gerúndios melancólicos as inauditas deidades da alma circunspecta de angústias, tristezas num recanto sombrio e baldio de ser verbos de dor e sofrimento, e há dias que o "ser" se sente macambúzio, sorumbático, olhando de soslaio o crepúsculo do eterno, a noite dos idílios, a madrugada de corujas silenciosas perscrutando os abismos do apocalipse. Só sei da alma suas tradições dogmáticas e preceituosas da contingência, a felicidade plena só no paraíso celestial, o inferno de não ser capaz, talentos e dons alguns para projetar no uni-verso poiético do espaço os sonhos da verdade. Diante dessa incapacidade, é o espírito, solidário e compassivo, que lhe envia os vaga-lumes da esperança, piscam e piscam, guiando o longínquo do deserto à mercê da Estrela Polar na pectativa do "ex" da luz numinosa da verdade alumbrando o ser do verbo, os protagonistas, inda que efêmeros vazios, inda que fugazes nadas, inda que nonadas de travessias, o princípio eidético da volúpia da vontade de elevar o trans da con-tingência às etern-itudes do uni-verso defectivam e perspectivam as sorrelfas da fé.



inauditas deidades da alma circunspecta de angústias,
Tristezas num recanto sombrio e baldio
De ser verbos de dor e sofrimento,
De falhas, forclusions, faltas, mauvaises-foi
Corujas silenciosas, misteriosas
Perscrutando os abismos do Apocalipse
Crepúsculo do eterno, a noite dos idílios.
Luz numinosa da verdade
Alumbrando o ser do verbo
Espectros radiantes da eternidade
Performando o espectáculo das cores cristalinas,
Faiscantes,
De aquéns das sorrelfas,
Os horizontes salpicados do ad-vir de sublime esperança...
Projetar no uni-verso poiético
Do espaço os sonhos da verdade!



Anoitece, o sino da igreja badala insistentemente, rogando aos fiéis a presença de corpo, alma e espírito para as glórias ao Senhor. Solidão e silêncio, ideais e utopias tecendo nas linhas ipsis dos limites do imanente ao divino perpétuo das "litteras" góticas e simbolistas, as ipseidades do efêmero, o que, não há duvidar, veneziana ventos e orvalhos em direção às ad-jacências de confins que alimenta as arribas de outro eidos do outro-espiritualidade, de outras eidéticas, inda que poemáticas do verso-uno, do outro-subterrâneo-estético-para a liberdade do verbo de Afagar as melancolias nostálgicas, as saudades crepusculares e universais, no recanto íntimo da concepção do genesis da vida, à mercê das trevas que aos poucochitos re-velam a luz, miríades iéticas, a berdade do li perpétuo de etern-itudes eternas do póstero.



Manoel Ferreira Neto
(27 de agosto de 2016)


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