**A CONSCIÊNCIA É O VERBO DA LUZ** - Manoel Ferreira


Perguntaram-me se era feliz, se estava bem com a vida.
Dizer o que pensa, o que sente, sem meios-termos, sem estratégias, sem subterfúgios, noutros termos, dizer na "lata", dizer com todas as letras, dizer com a língua em riste, eis a dignidade, a honra, a probidade de um indivíduo, de um homem.
Há momentos na vida que colocam tudo isso em cheque-mate, nada se pode dizer do que se pensa, do que se sente. Fazê-lo significaria colocar em risco a sobrevivência, a vida. O melhor é, apesar das dores pujantes que isto causa, o silêncio, mas não deixando de observar, de ver, de enxergar as coisas com nitidez, serem elas farsas, falsidades, aparências, e no fundo aquele incólume prazer, insofismável riso, galhofa, ironia, sarcasmo, cinismo, mangofa da situação vivida, estar se calando o pensamento, o sentimento em nome de sobrevivência, em nome da vida, sendo objeto aos olhos do outro.
Dores, angústias, tristezas, aquela acuidade com não permitir, consentir a depressão, alfim sobreviver perante alguns momentos que a vida reserva não é coisa simples, ainda mais presenciando as farsas, falsidades, aparências, hipocrisias, estar sendo objeto. Nalguns instantes, a viva e nítida voz de outros dizendo das farsas, falsidades, hipocrisias. E quando a ouvia não queria acreditar, vendo-as com os próprios olhos não aceitava, dúvidas, incertezas, o que estava vendo, enxergando podia ser fruto da imaginação fértil, fruto de ressentimentos, mágoas.
O silêncio incólume, a mudez insofismável. Na solidão noctívaga da alcova, o monólogo sério, verdadeiro, dizendo o que estava enxergando, o que estava vendo, para que a luz desta verdade fossem raios projectados ao futuro, houvesse solução, a luta, dores e angústias da sobrevivência ficassem no passado. O tempo fosse solidário e compassivo.
E o tempo se aproximou sorrateiro e solenemente: "Se quiser dizer com todas as letras as farsas, falsidades, hipocrisias que presenciou nestes longos momentos de luta pela sobrevivência, a escolha é sua. Se quiser solidificar o silêncio, a escolha é sua. O importante é que se conscientizou das coisas, viu serem verdades o que ouvia no passado. Chegou o seu momento. Siga a sua jornada!" Ouvi as palavras do tempo com acuidade, com sabedoria, coloquei a mochila nas costas, acenei o adeus. Num diálogo com a minha atual querida e amada mulher, disse-lhe: "Agora só tenho eu e você por mim. Não tenho família, não tenho amigos, ainda um desconhecido, mas muito feliz. A consciência é o verbo da luz".
Assim respondo à pergunta que me fizeram se era feliz, se estava bem com a vida. Sim, estou feliz e muito bem com a vida. Tudo atrás é passado.



Manoel Ferreira Neto.
(24 de agosto de 2016)


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