**EVASÃO DE SENTIRES - SILÊNCIO DO SILÊNCIO* - Manoel Ferreira


O silêncio não se mostra, mostrar-se nao é ser e ser não é mostrar-se.
Silêncio é silêncio, vive de suas vozes íntimas e trans-cendentais da espiritualidade, da divin-idade. Não se alimenta dos pães e trigos do vir-a-ser, alimenta-se da plen-itude de seu ser. No inaudito de si, revela sentimentos e emoções que lhe habitam e são os sonhos da sabedoria, da verdade, as estesias do eterno, no deserto onde se re-colhe para a reflexão do verbo-de ser ser cristalino, puro, são os desejos vontade de tern-itudes.
Buscar o silêncio - não se lhe encontra. Desejar o silêncio - não se lhe vive. Sentir o silêncio - mergulho profundo no que trans-cende os verbos da con-tingência, quais sejam a suprassunção dos valores imanentes,a superação dos estados de alma, redenção dos pecados, ressurreição. Ser o silêncio no silêncio do ser.
O silêncio não precisa do amor que direciona o silvestre das sendas e veredas para a felicidade, alegria, prazeres e volúpias da imortalidade. O silêncio não precisa do poder para endossar as suas qualidades, para justificar suas incapacidades, para mostrar sua superioridade . O silêncio não precisa de sudários para lhe aquecer nas noites de inverno, tampouco das chamas da lareira para trans-elevar seu ser aos auspícios da sublim-idade, qual poetas o fazem na esperança de revelar-lhe o abissal eidos de sua espiritualidade. O silêncio não precisa de ser dito nas linhas e entre-linhas, nos ditos e inter-ditos dos instantes-limites, nos átimos de sua intuição, percepção, diz-se pleno e ab-soluto nas vozes que lhe residem, a-nunciações das pers trans-cendentais da sabedoria.
Silêncio é silêncio no silêncio. No silêncio do silêncio, o silêncio é a voz suprema do saber a vida na roda-viva das dialéticas do ser e não-ser, no catavento das contradições do efêmero e eterno, no redemoinho das ambiguidades da morte e do nada. Nos re-cônditos do silêncio, o silêncio é o vernáculo do espírito sem a metáfora do sublime, sem a sin-estesia da leveza, sem a poiética da pureza. Nos interstícios do silêncio, o silêncio é a erudição da alma que perscruta a semântica linguística da solidão do ser, a linguística semântica das melancolias e nostalgias pretéritas das angústias e tristezas, à busca do solstício do alvorecer para lhe guiar, orientar no ser-para a consumação da verdade.
Silêncio não se verseja de versos e estrofes, trovas, sonetos, poemas livres. Habita-lhe na poética do ser. Silêncio não se prosa, não é prosa que racionaliza a gnose das experiências, vivências, pre-núncio do saber. Silêncio não se vers-ifica das suas reflexões do deserto, meditações do porto. Não se diz o silêncio, não se metaforiza o silêncio, o silêncio se versifica no silêncio que afagamos com as verdades do sonho, das esperanças, das utopias, à busca das palavras sagradas no livro do Ser.
Amor verdadeiro é silêncio, é silêncio de emoções e sentimentos que se pro-jetam no eidos do ser do outro, revelando-lhe a vida de sua verdade e não a verdade sua vida, é silêncio de fantasias e quimeras que se lançam aos universos versos-unos e horizontes do outro, na outridade de seu ser, desejando-lhe a sabedoria de seu verbo-de amar. Amar verdadeiramente o outro é ser-lhe no silêncio de seu ser. O amor não vive das gritarias e escândalos dos prazeres carnais e ósseos. O amor vive do silêncio do clímax espiritual e divino.
Silêncio do silêncio. Evasão de sentires. Fluir de saberes da sabedoria.
Assim me dissera uma jovem mulher no leito de um hospital, vítima de um acidete grave que lhe levou quase à morte. Naquele dia, após quarenta dias, recebera alta, Ao final de seu Memorial do Silêncio, dissera-me: "Agora é viver a vocação do silêncio que me fora doada por Deus. Nada de religiões. Só a fé!""



Manoel Ferreira Neto.


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