**ÁPICES ETERNAMENTE INVULGARES** - Manoel Ferreira


Apreendo agora o que anda sendo de mim, por que flúmens e abismos encontro-me a marear, por que sinistros ventos e vales ando-me a navegar. Paralelismo primeiro e interno, retentivas e anamneses de ocorrências, paradoxos e mimeses de imanências. Prezo mais os cimélios das planícies. Apreendo ou me exorto de que amadurecido estou, experienciado e envelhecido me sinto, alfim, para talhe novel. Para além de minha elementar tenção resido, para aquém de minha simples exaustividade deambulo, perambulo.
Sou feliz por esquecer a hora, por olvidar os verbos do tempo, substantivos do pretérito, termos acessórios do presente aqui-e-agora. Afigura-se-me ser a subjetividade, a sensibilidade humana, quiçá a verb-ética do efêmero e eterno. Todos os caminhos levam-me a ela.
Busco em mim o ritmo de árias antigas. Só me recorda o modo demasiado imperfeito, re-versas e in-versas imagens do pleno e eterno, in-verdades, imagísticas ad-versas da luz e contra-luz que os pincéis registraram da visão do invisível. A fim de que não me entristeça, interrompo-me. A fome de querença penetra mutuamente à retentiva do dédalo Sujeito esquisito e comovente, zoada abeira entre o arrebatamento e a compulsão. As locuções, estilos, posturas, clamor afável e terno, o físico são nostalgias absolutas e plenas da tonteira do espertar.
Intenciono-me ser, isentar-me de mim, ir ficar no meu interior, ser ele, entregando-me inteiro, sendo-lhe in totum e ipsis litteris. Nulo aprazimento. Ajuízo-me impender a mim análogo. Sendo o exclusivo a frui-la, componho-o tão-somente por ufania e embuste. Nenhuma satisfação parece-me pertencer a mim mesmo. Sendo o único a gozá-la, faço-o tão somente por orgulho e picardia. Sou alegre por olvidar a hora. Afigura-se-me ser a egocentricidade, susceptibilidade clemente. Todas as veredas acarretam-me a ela. Requesto em mim a cadência de modinhas antigas, de cânticos milenares. Só me rememora o jeito nímio deficiente. O fecho de que não me escureça, suspendo-me. intenciono-me ser, excluir-me de mim, aportar, estacar no meu íntimo, Ser ele, outorgando-me inteiriço.



Assoma-me que só subsisto em momentos de ápices
Eternamente in-vulgares.
Alvoroços e sensibilidades são distintos.
Como se experimenta no mundo,
A veracidade é o isolamento,
É o ser quem aporta sofrer e comover-se,
Estremecer-se mesmo.
Terá aprofundado por integral em seu âmago,
Integrado dele, pesaroso.
Isto a que cognominam jazer-se,
É-me um inexecutável encavacamento,
Exíguo confrangimento.
Atinjo-lhe a profundeza,
Submergindo mais e mais
No que está despontando em mim,
No que está des-afrouxando em mim.
Não alcanço perceber mais o termo isolamento.
A comparência breve no tempo.
Agenceio a singularidade no imo e alma.
Atalham-me de achar um adeus genuíno, despedida sui generis
Causais a plangência e a insipidez de tão
Imensuráveis são,
De tão in-inteligíveis são,
De tão uni-versais são.



Quem sou, que me olvido de verbalizar o nosso bem-querer que anda silencioso, anda em andares vagarosos na areia arrefecida, de por baixo dos pés? Quem sou, que me rememoro de engranzar as mãos em algibeira de calças, procuro o nada que neles se acha? Quem sou, que me não memora escutar os murmurejes de brados longínquos em mim, o som harmonioso do mutismo a versejar as fés de agora e a crença de amanhã, os rituais místicos do além e o profano do infinito.
Serem distintas sensibilidades, abalos? Quem sou, que me omito que a mudez é que é o mutismo intenso? Na calada, eleva-se a súplica consistente, abdico que na edificação que se alteia esbarra vento de inovação. No polvilho, o portento da subsistência humana. No emudecimento da disposição ecumênica, uma pugna de existência antecede todas as metamorfoses.



Manoel Ferreira Neto
(Rio de Janeiro,15 de agosto de 2016)


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