**SIN-CRONIA DE NONSENSES E DIALÉCTICAS** - Manoel Ferreira


Vozes anônimas. Inquieto. Ah, essas coisas do íntimo... essas coisas expressionistas... essas coisas impressionistas... essas coisas simbólicas, metafísicas, metafóricas, metalinguísticas... Procuro erguer-me na penumbra. Não sentir o mundo a elevar-me. A cortina cerrada estremece a atmosfera. Insolência. Rumores que me transcendem. Silêncios e solidão que me descendem.
Rumores que são da noite. Estranho. Medito. Olho ao relógio. Calor imenso surge em minhas pernas.
Altíssimo disfarçado nos paraísos, como eu, osco,
No estro e desvario dos logradouros;
Altíssimo, consciência ubíqua, erudito, como eu,
Perniciosa omnipresença, velhaco polido em quaisquer loco,
Jumento lavrador em todos os assuntos,
Macunaíma preguiçoso em todas as redes,
Conquisto todas as carneiras grosseiras ou não,
De todos os submissos alvos ou negros;
Adopto todo o rebanho
– De extra, de longínquo, porque não me incluo nele,
Sou eu na transcendência das quatro patas,
Sem quaisquer trações, sem quaisquer marchas-rés,
Caracterizo-me nas duas retaguardas,
Pois neste dia pluvioso,
Em que as gotas d´água aspergem todos os acontecimentos,
A vulgacho baixa todas as renques,
Em comando ao colossal troço, que, sem beiras e afogadilho,
Abeirará ao abismo, eu serei o Guará Amaldiçoado, o Guará da Pradaria,
Consumando a proxeneta dos provectos algozes,
Ascendência e jaez de Fratricida, sem sustento nem indulto.
Os vendilhões do temp(l)o cresceram e se di-versificaram,
Hipotecaram a boa-nova, o novo homem,
Alugaram o brilho da estrela de Belém,
Que são esperança e fé dos homens por todo o sempre,
Extornaram o crepúsculo a crédito do eterno
Exportaram, a alto preço, o ouro, o incenso, o petróleo e a mirra.
Meus ágeis dedos agem mi-la-gro-as-men-te
No ágio das multiplicações.
Eles dão ao diabo como brinde o sabonete de Pilatos
Que marca as trinta moedas de Judas.
As ondas enchem, entrechocam-se nas docas. Aéreos talentos fertilizados. Peregrino em divinos ardores. Geniais tempestades. De estrangeiro de poeiras seculares. Formas no ar. A sereia atravessa o deserto. Passeio nu pelo campo de por baixo de chuva fina e fria. Livre de tudo.
Angústia acompanhada de medo.
Imagino que falo em vão. Também para não me ocupar e fazer a digestão. Pungente retro de um inferno que vivo. Solene sorriso. Gentil riso de nada. Amo as vozes que misturam o longínquo à distância.



Manoel Ferreira.
(09 de agosto de 2016)


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