**FONTES DA VERDADE NAS AD-JACÊNCIAS DO IN-AUDITO** - Manoel Ferreira


Eis que nada sou,
No verbo de ser do nada.
Re-ergo o desejo, a vontade,
As esperanças, os sonhos e utopias.
Estou-me nas tintas, se transgredi princípios,
Se cometi enganos e erros os mais di-versos.
Não estou soltando os gatos, cães e serpentes,
Pre-ocupava-me, mas as coisas mudaram.

Eis que re-ergo o desejo da plen-itude,
Estou com os pés pisando o solo, a terra,
Do in-audito, fontes in-ad-jacentes das inverdades,
Nas ad-jacências do in-audito, fontes da verdade,
Aquela preguicite, que mais chamo de macunaíma
Do aqui, alhures, algures, do aqui-e-agora,
Tenho todo o tempo do mundo...

Verbo de ser nada, nada de ser regência, promulgadas as nuances infin-itivas do além projetadas e elevadas à etern-idade sem quaisquer dimensões da verdade, esplende ao acaso do tempo, ocaso dos vazios seculares e milenares, as mentiras incólumes que os dogmas e preceitos solidificaram nos alforjes e algibeiras das redenções e res-surreições, espíritos que realizaram as suas missões para o bem, para a verdade, no limite-instante do Juízo Final rogam o vazio celeste para estarem para sempre, nada de éden, a fé jamais fora tergi-versada para a felicidade, após a morte, sim para a verbalização da vida nas suas dialécticas e contradições da náusea e sabor divino das contingências. Fé, esperança, sonho, liberdade, dimensões exclusivas do estar-no-mundo para a continuidade das buscas e desejos dos mistérios e enigmas da verdade serem unicamente pedras de toque para os questionamentos, dúvidas, inseguranças... Quanto mais forem os mistérios e enigmas, quanto mais preservados e conservados nos cofres do inconsciente preliminar das angústias, mais serão perfeitos os cânones do efêmero e etéreo, evangelizados os rituais e lendas do ser-tsé das melancolias, espiritualizados os dogmas e os "causos" dos comportamentos esdrúxulos, aquele olharzinho de intelectualóide depois de ter consciência de que suas estratégias no momento, instante dos plantões a que estava presente sempre, à cata do renome momentâneo e fácil, nenhum resultado apresentou, nem consequências foram registradas.
Se a liberdade não re-colhe e a-colhe os mistérios e enigmas dos sofrimentos e dores, jamais será capaz de deixar suas asas flanarem no ar à mercê dos ventos vazios ad-vindos das percuciências mais íntimas do abismo que vai muito além da ausência de seu fim, onde as inspirações e intuições são fontes da verdade nas ad-jacências do in-audito e desconhecido, onde bebem a cristalina e límpida água das glórias supremas, elucubrando os ápices da perfeição, os méritos da medalha haverem sido sinceros e sérios.
Minha linguagem lança-me ao abismo do absurdo, exigindo-me as letras que formariam a grande frase. O flexuoso campo impede-me a pronúncia. O curvado caminho, silencia-se a voz. A boca, seca. Nas retinas, o flexuoso universo de palavras ocultas.
Eis-me encarniçado no vazio.
Não entendo é o que está no espaço de entre cada letra. Tenho a impressão de que deseja tornar-me transparente. Não devo esquecer-me de os homens passarem suas páginas de modo apressado. Sem darem atenção a nada. Caminho rumo à morte.
O homem. Sou o eterno exílio de tudo e de todos. Penetro-me. Sinto um estranho espanto. Vejo-me na imensa escuridão, escuridão esta muito maior e profunda do que a noite em todos os seus mistérios. Sou o meu próprio espanto. Vejo-me na imensa gratuidade, absurdidade. O exílio é a própria ausência de comunicação. O que não há é a comunicação. Tudo é a falta de comunicação. Existem só palavras vagas e evasivas, exclamações vãs e interrogações insípidas. Seres ignóbeis, desprovidos de fisionomia brincam no azul de meus olhos. Seres ignominiosos trabalham ao cinismo e ironia. Os olhos afastam tudo e todos. São a barreira para o relacionamento. Uso de meus olhos para afastar as pessoas. Crio, através deles, uma barreira intransponível. A minha beleza ameaça as sensibilidades. Interfere nas emotividades.
O verbo amar dos sonhos só ipsis-literaliza o sublime, quando a liberdade se re-vela de consentir a vida nas suas "litteras" do absurdo e meiguices das palavras silenciosas que o espírito concebe, cria, dá a luz, joga espontânea e levemente os ases da ternura, nos seus liames brilha o encontro espiritual do sublime e etéreo dos efêmeros da beleza e maravilha do que trans-cende, trans-eleva, trans-substancia o nada grávido do vazio, que será a miríade desértica da perpetuidade além das nadificadas sorrelfas des-sublimes do ser que há de eterizar as verdades do cântico apocalíptico de arribas e confins se comungarem, serem versos-unos do amor intransitivo do sujeito que se esplende ao longínquo dos confetes que carnavalizam prazeres, êxtase, gozos, clímax, e são o divino de todas as buscas e querências de a vida ser vida, o ser-da vida o uivo notívago das silenc-itudes.

Manoel Ferreira Neto.

(Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2016)

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