**BRINCO DE DES-FACELAR A LUA CHEIA**


Você projecta utopias, sonhos, esperanças
Você cria desejos, vontades, querências
Você sonha a felicidade, o prazer, a alegria
Você con-templa o belo, o estético, o absoluto
Você inventa o eterno, o pleno, o uni-versal
Você anda sozinho entre os homens,
Você perscruta o infinito, o inaudito, o silêncio
Você investiga as dúvidas, as inseguranças, os medos
Você re-nasce das experiências, vivências, labutas
Você escreve poemas ao futuro, à eternidade, ao além
Você é o passado, o presente, o futuro
Você tece esperanças, desejâncias, liberdades
Você são ausências, faltas, falhas
Você ausculta murmúrios, sussurros, vozes nítidas
Você degusta um bom vinho, churrasco num banquete
Você sente prazer, gozo, clímax num encontro íntimo,
Você se angustia, se entristece, se nauseia
Você ouve os sons do universo, os cânticos da solidão
Você atravessa as pontes, contorna as curvas
Você delineia o amanhã, você burila o futuro,
Você ornamenta o vir-a-ser, o há-de vir, o ad-vir



Distante.
O amor não suporta matizes.
Viva todo o imperfeito e todas as imbecilidades...
O que sou agora, o que fui ontem estão aqui comigo agora.
Imperfeição.
Desequilíbrio.
Encontro aqui raízes de uma só dor.
Há algo de inda oculto entre esperanças.
De mim, trago a água.
Há um beber, um dar de conta.
Miseráveis que de tantas ruas vivem.
Um padre passeando à paisana.
Um frenesi de dar bananas.
Sensações angustiantes de um homem no íntimo de outro.
Comemoração fantástica da primeira cirurgia plástica.
Perspectiva de domingo.



Amor tempestade.
Calmaria.
Chuva.
Sol.
Alegre.
Nunca triste...
O coração torna-se grande, onde a serenidade encontra sítio para residir.



Brinco de desfacelar a lua cheia. Céu todo salpicado.
Quem me dera agora o divã abandonado?
Saudade de estar com você...
O ouvido de sufocar vontades?
Amor.
Recordações, retratando pedaços?
Palavras...
Amar.
Sorrisos fluindo imagens despertadas de tudo?
Futuro-presente recomeçado.
Nossas vontades, nossas cabeças?...
Sonhos.
Luz, sentido e palavras. Sombras. Tempo. Histórica da consciência na mão, certeza na língua. Riso semi-abolido. Luz, sentido e palavras. Imortalidade, presença de nada. Eternidade, ausência de tudo. Desaforo bem algo não se lembra da aparição de fulgor.



Manoel Ferreira Neto.
(Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2016)


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