#SONHO 64# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***


Andava solto pela Avenida das Arábias,

Cinco dias diretos sem comer,

O professor de matemática do P.C.C,

Louco por completo,

Gritava a plenos pulmões a soma dos catetos

Conduzia a gravitação universal aos senos

E cossenos das hipocrisias sociais,

Estudantes em passeata, vozes em uníssono,

Cartazes hasteados, exigiam a saída do delegado civil

Que jogava xadrez com os agentes,

Enquanto o prefeito produzia adendos e cláusulas com as leis

Fundamentais à conservação da justiça.

Virando a esquina,

Entrando na Rua Jerusalém,

Havia uma procissão cultuando São Jorge

Por dominar a serpente,

O padre veio perguntar-me o porquê de ali estar,

Respondi-lhe trafulhava a fome,

Fazendo caminhada sem destino,

Não era fiel que admirava a fé que fecunda

Os venenos dos dogmas e preceitos do Papa Eyruke,

O ódio e o desprezo surgiram nos seus olhos azuis,

Por um triz, não fosse uma irmã de caridade alemã,

Segurar-me o braço, puxar-me com ternura,

Teria sido esbofeteado, surrado pelos seguidores,

"Vá com Deus, meu filho,

As coisas andam esquisitas",

Agradeci-lhe a gentileza, sorrindo de esguelha,

A mão direita persignou pensamentos e idéias.

Entrei na alameda das meretrizes

Ajoelhadas à porta de seus muquifos,

Em roupas menores,

Rezando o credo, rogando perdão

Por seus pecadilhos da moral,

Surgiu do nada pastor conduzindo ovelhas,

Cheiro fétido assolou o ar, ovelhas fedem,

Com voz rouca e tropeçando nas palavras,

Convidou-me a seguir-lhe,

Mais tarde seria até possível,

Tinha um encontro marcado

Com o reitor da Universidade de Letras Apagadas,

Pediu-me ele que decifrasse a metáfora do destino

Que alivia as dores da farsa,

Os sofrimentos da falsidade,

Isto me valeria um delicioso prato de feijão com angu,

Estava faminto, cinco dias sem comer,

Perdi-me na bagunça da cidade,

Era-me difícil lá chegar,

O que estaria acontecendo?

Corvello Pequeno despirocou-se,

Perdeu o freio dos cavalos da carroça.

Neste momento a professora de Francês e Ballet,

Mulher orgulhosa de suas tradições radicais,

Apareceu nua dançando à luz da imaginária música,

"O meu cachorro me sorriu latindo",

A rádio patrulha giroscopiando com fervor

Estacionou à porta da Boite do Galo,

Algemou a professora, jogou-a na traseira do carro,

Saiu às pressas.

O pastor saiu correndo de medo

De ser preso por não ter em mão o cajado,

Entre as ovelhas desesperadas passei,

Entrei no Beco das Caveiras,

O Bispo da Cúria Metropolitana, com algumas crianças,

Brincava de rodar pião,

A adúltera mulher do gerente do Banco Somma,

Na sacada de sua residência,

Despetalava uma rosa,

Bem me quer, mal me quer.

Já não suportava mais

Tantos despautérios na cidade,

O estômago colado às costas,

Precisava chegar à Universidade de Letras Apagadas,

A metáfora do destino esperava

Por saciar-me a fome,

Apressei os passos,

Cantando euforicamente

Feijão com angu, farinha não,

Molhei-me todo com a água

Da Fonte Luminosa da Praça São Judas,

As letras apagadas da Universidade

Estavam fechadas,

Entraram em greve por tempo ilimitado,

O reitor participou sua mudança

Para a Casa Verde,

Seria discípulo fervoroso de Immanuel Kant.



#RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE AGOSTO DE 2020, 12:47 p.m.#

 

 

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