#CARTA AO FUTURO II LINHAS DE PÁGINAS BRANCAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: DESENHO/PROSA ***

 

Quero à pena tudo esquecer. Esquecimento de ilusões, fantasias, devaneios da consciência e saber; esquecimento de tempos pretéritos de náuseas, angústias, ansiedades, desesperos. Ondas sonoras da alma concebendo vozes livres a pronunciarem o que reside invisível, inconsciente na alma. Vertentes de desejos que percursam sentimentos efusivos à espera de amenizarem o silêncio interdito, refinando sonhos, utopias, destilando esperanças. Por entre o instante-limite e o porvir, compondo o estilo de criar outros panoramas com presteza virtuosa, acuidade mágica de tragar verbos e metáforas, expelir atitudes, ações...

***

Quero à pena inscrever a idéia emoldurada no quadro de projectos, cujas intenções foram de traçar as sendas intencionais de visualizar as ausências e instituir o saber mover o tempo, na continuidade das labutas árduas o destino se revelar. Inscrever a emoção guardada no recanto inestimável do coração sedento de mostrar intenções as mais inestimáveis, sentindo prazeres, alegrias. Magias da satisfação, realização. Refletir o existir em que o intercâmbio entre o efêmero e o eterno, veras e in-veras é a chave de ouro, aquisição de princípio insofismável do soneto, o último verso da última estrofe, ser o eidos da obra, a abrir os vernáculos, eivá-los de sentidos, advindo levezas, suavidades, serenidades.

***

Se, no momento em que a pena se suspende, medito os caracteres, símbolos a serem desenhados no espaço invisível de prismas futurais, concebe, gera perspectivas de criar fluxos e dilúvios de pensares, sentires, dispersão, alheamento, vazio, que há de ser? Deixá-la suspensa? Haverá o instante de retorno livre. O que recolheu nos sítios da introspecção e circunspecção definirá os propósitos, o invisível tornando-se visível. Dar-lhe asas livres? Esquecer sentidos, significado? Consentir que deslize à revelia dos movimentos, preenchendo antemãos de vazios?

***

Quero à pena resgatar o que fora negligenciado por medo de desviar as inspirações de caminhos do destino, de desejos de existir o sublime, viver a luz do ser, por haver intuído ser o que está faltando no quotidiano das contingências, O medo tergiversou os ideais, envelou as trilhas de alcance do que é sine qua non para a continuidade do pensar e do sentir. Quiçá o modo de isto realizar seja olvidar as tristezas e desconsolos de atitude escusa, remontar as razões e motivos das novas luzes e visões por perscrutar o que é essencial a síntese do pensamento e do mundo. Tempo de refazenda da pena, ensinar-lhe outros estilos de deslizar nas linhas de páginas brancas, mostrando o que reina e impera no império da existência que busca o que é ser.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 14 DE AGOSTO DE 2020, 6:01 p.m.#

 

 

Comentários