AOS EPITÁFIOS DE MAUSOLÉUS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA ***


!Este momento de euforia, de êxtase,

Dormindo no berço da vida sem limites,

Sem princípio, meio, fim,

É a flor da eternidade,

É o cheirinho agradável

Da imortalidade nos epitáfios de mausoléus.

***

Dimensões lúdicas e cômicas. Inter-dito de meiguices insolentes do inferno. O meu ser, murcho, des-animado, espreguiçado, almeja ir ao seio da abundância sugar leite caudal, jorrado de quanta sede há aí! vê que só eu definho

faminto na abundância, sedento na luxúria. Insolências meigas do éden. Íntima inspiração de que o sentido eidético

Delas mesmas se revelará no caminhar nas sendas e verdades, nas veredas, nas margens das estradas de po-eira,

no sentar no mata-burro, pés para o fundo do córrego, olhar fixo na curva que as águas fazem, fazer um cigarro de palha,

Fumar, expelir a fumaça ao léu do silêncio do matagal ao redor. Que imagem peregrina! - artista-plástico reconhecerá

a sua peregrinação de excelência. Que inefável delícia enleva repentina todo o meu ser! Enchentes de doçura,

nunca de mim sonhadas! nunca de mim idealizadas! A mão que tal figura aqui delineou, à fé que era divina, pois só vê-la me acalma, a dor já me não mina.

***

O coração me exulta, alegre, alvoroçado, sôfrego, crente, certo, ufano, endeusado. De atingir afinal explicação completa

Dos enigmas que há já tanto os dias me inquieta. As coisas do mundo comportam-se como espelhos.

***

Re-fletir-se-ão nas miríades do ser, arco-íris de todas as experiências espirituais, no instante contingente do nada e a liberdade, no sem-momento desvairado do questionamento e resposta, no sem-destino devaneado de desilusões e frustrações, cujas asas foram, voaram passados e sombras,

bailaram ao ritmo dos ventos de leste, dançaram no som do cata-vento girando o tempo, flanaram aos acordes de sibilos do abismo, sapatearam ao redor da ampulheta das forças idílicas, deambularam entre as constelações, perambularam nos devaneios do jamais e sempre maestrias do sensível e contingências, tecem com a intuição a colcha do tempo - de antemão às revezes, a vida de revezes ao antemão, volos e volúpias, intenções e decadências, perquirições e medos;

brincam com o mundo como se fosse de seus, brincam com os interesses como se fossem dádivas - do que transcende o efêmero, voar, cruzar, ultrapassar fronteiras. Pectivas de sonhos e desejos. Não se inscreve nas tábuas de mármore a liberdade com a pena do há-de vir, há-de vir é fruto de ideais fantasiosos, com a tinta da dialética da existência dialética,

medos e cor-agens, traça-a de equilíbrios e os desequilíbrios das idéias e ideais, silêncio de puro êxtase. Canto gregoriano ouvido nas solidões, para onde quer que fuja o olhar do emparedado, bate nesta Babel de livros bolorentos, informes, sonolentos, e em rumas de papéis, do tempo denegridos,

caótico tropel de abortos esquecidos, que trepa, galga, encobre, enluta, afeia, inunda, a casa desde o solho à abóbada profunda; sem falar no sem-fim de drogas, pós, essências, máquinas, que sei eu! misérias, importâncias,

que já me infundem tédio. E a isto se apelida o meu mundo! Isto é mundo, ou esta vida é vida?



Liberdade: símbolo de plen-itude. Quem a deixa perpassar todas as dimensões do ser, do espírito e da alma, com certeza, sente o eterno, sem a presença da imortalidade, da postum-idade. Vaga-lumes da esperança, piscam e piscam,

ninguém se di-verte ou extasia com as óperas do silêncio ou dos mortos, sinfonias do deserto ou dos cânions perdidos, olha o negrume que lá vai pela abóbada! Sumiu-se de todo a lua. A lâmpada vasqueja... Apagou-se, fumega. Raios rubros

sinto zunir-me em derredor das fontes, da abóbada me sopram calafrios..



Ninguém faz amor nos românticos crepúsculos e madrugadas de inverno suave e sereno, nem escreve missivas de amor nas auroras de manhãs de inverno ou de verão; apenas curte o esplendor do berço, apenas comenta com o vizinho as sensações sentidas, a magia do sono, a magnitude do eterno.



Em berço esplendido não se sonha, não se criam quimeras, não se re-criam fantasias, não se inventam ideologias e interesses, não se recriam utopias e dialéticas, não se fabricam a guerra fria, o escândalo da corrupção, refestela-se nos braços do tempo que se vai a passos melodiosos em direção ao infinito de todos os horizontes, aos Horizontes de todos os uni-versos, caminhando e cantando, seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não, fazendo das flores o mais forte refrão.

Eternidade do belo e do esplendor, campos floridos de rosas, crisântemos, em grandes plantações o alimento para todos os verões e invernos, nas escolas, campos e construções, as lições da liberdade e da livre expressão. Formigas e cigarras deliciam-se no repouso e descanso.

 

 

Comentários