#CÔDEAS DE PRIMEIROS ALBORES DO ESPÍRITO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POÉTICA SATÍRICA ----


Enfadei-me do poema esquecido nos escrínios pretéritos,

Sonetos que rimavam chave de ouro com “ouro de tolo”,

Versos que rodeiam a fissura dos sentimentos íntimos,

Não se dispõem a entrar neles e investigar suas intenções,

Estrofes que piscam idéias, ideais os mais esplendorosos,

Lumeiam inspirações reversas ao destino  

De onde eram perquiria as facécias do tempo,

Onde os devaneios que salpicavam de fé as entregas?

Onde os delírios que salmodiavam intenções

Inda que vagas das esperanças?

De onde estou perscruto as trevas inconscientes,

Divinas comédias das desilusões, tristezas

Angústias sibilam no intervalo de angústias,

Sensações mareiam-se-me os olhos,

Dilúvio de fracassos, frustrações, ofensas, humilhações,

Inferior às normas sociais, aos valores e virtudes

Éticos, morais,

Vagabundo, vadio,

Vozes retinindo nos ouvidos,

Molha-me de saliva o corpo com tamanha disposição

Que chega a arder;

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Enfastiei-me das línguas modernas, em cujos interstícios habitam, residem, correm todos os discursos lentos, lerdos, se ao menos soubessem onde desejam chegar, meio caminho estaria trilhado, côdeas de falácias se esparramam pelos redutos urbanos, côdeas de verborréias sarapalham-se pela periferia dos matagais, nada dizem de verossimilhante às palavras do silêncio, a algazarra não encontra descanso, ouve-se-lhe pelas iguabas da terra-mãe, nonsenses;

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Cansei-me das velhas línguas em que "o tempo funde-se na metafísica como cúmplice";

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Aborreceu-me perambular por sentimentos

Recolhendo dimensões da alma carentes de expressão, Primeiros albores do espírito,

O infinito dos espaços animava-me as asas

Para enfrentar os ventos mais velozes,

Sempre sobrava uma chama a ser alimentada,

Palavra a ser ouvida, sinal de esperança

A ser interpretado,

O que no alforje das conquistas?

O que na algibeira avesso aos apólogos?

O que fui de suposto a mim mesmo?

O que representei de avesso às reversões,

Entregue às convulsões contínuas?...  

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Enojei-me dos retrógrados pensamentos de o Ser se revelar na continuidade das imperfeições, sandices, despautérios, disparates, alienações, sobretudo na sarjeta dos saberes inertes onde as inépcias todas encontram explicações, rejubilam-se, endeusam-se; nada há mais a ser dito, deuses perfeitos, monges, gurus de excelência.

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Nauseei-me dos versos e estrofes de Amor que cantam, declamam, recitam carências, solidões, ausências, forclusions, enfeitam-lhe com arrebiques e ornamentos de fantasias, quimeras, ilusões, sorrelfas, ainda mais com aqueles que roubam das flores o néctar para sensibilizar as dores e sofrimentos por sua procura incessante e jamais realizada, faltam-lhes as dimensões essenciais para a concepção do real;

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Agastei-me, divagando nas palavras,

Nada intencionava

Senão gastar os minutos, preencher as lacunas

Vazias de conteúdo, era puro espaço desértico,

No deserto para onde me escafedia, refugiava,

Só mesmo a visão infinita da extensão de areias

A preencher o espaço vazio invisível,

Ao menos houvesse levado côdea de idéia

A ser refletida com a percuciência dos proscritos,

Hereges, Estrangeiros, Bastardos,

Sem lenço, peregrino sem ideais.

Não me dispus a patentear a explicação por

Não havê-la levado,

Dispersão ou lapso de memória,

Não fui disposto a compreender côdeas de coisas...

Comê-las com os olhos,

Saboreá-las com a língua gaiata das razões e da consciência.

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Entediei-me dos ideais da felicidade, alegria, prazer, fundamentados e fundados nas in-vestigações medíocres da condição humana; as avaliações psíquicas das moléstias diagnosticam o que era inimaginável, um depravado irreversível, sorriso humilde e  triste, representação, fervia-me o fogo das falácias às idéias condizentes com as esperanças de a fé febundar as grutas do saber, e nas grutas do saber as performances de quem traduz os interditos da alma, dança dos mistérios e enigmas decifrados.  

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Enervei-me com as ausências de respostas

Às indagações do "eu" e do "ser",

Para quê, se haveria sempre algo a considerar?

Com as faltas e falhas, carências

De compreensão do sentido de existir,

Advieram o vazio, o nada, a náusea,

Não sabia quem me sonhava,

Não sonava o “mim” ao cair da brisa noctívaga,

Cantando “Se a perpétua cheirasse...”,

Tinha ganas de uivar dentro da cabeça,

Desejava mandar parar a alma,

Tinha ímpetos de arrancar a esperança

De dentro da Caixa de Pândora,

Se tudo saiu de dentro, assim aberta,

A esperança tinha de seguir o exemplo, sair,

Queria não mais pensar, cogitar,

Até mesmo no sentido pejorativo de elucubrar

Tinha qualquer ânimo,

A cabeça oca;

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Subi-me nas tamancas com os sonhos da verdade inspirados na insônia da gnose;

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Arranquei tufos de cabelo com a fé na ressurreição, redenção, com a eternidade pura no paraíso celestial; o que me sobrou deste suplício foi calvície que tripudio com um chapéu  à La Chaplin.  Os dentes comedores de hóstias apodreceram tanto que não restou alternativa senão arrancar-lhes a todos, o uso de próteses. E não é que ao “chamar o Juca”, a inferior caiu no vaso sanitário?

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Proscrevi o mundo, a terra com a hipocrisia, falsidade, farsa, condutas de má-fé, algemas e correntes aos princípios, dogmas, preceitos e leis da sociedade, dos sistemas políticos, sociais, individuais, familiares...

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Cavalgo o meu corcel mais selvagem, o que sempre melhor me ajuda a montá-lo é o meu dardo; é o estribeiro sempre pronto para o meu pé.

 

#RIO DE JANEIRO(RJ), 27 DE AGOSTO DE 2020, 14:50 p.m.#

 

 


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