Manoel Ferreira Neto ESCRITOR E CRÍTICO LITERÁRIO ANALISA A OBRA POÉTICA "O VOO" DE Ana Júlia Machado ***

 

Divino!... Fenomenal!.... Maravilhoso!... De excelência!...Em todos os níveis da criação poética: linguagem, estilo, estrutura, estética, pensamentos e idéias aderidos à reflexão, ideais e sonhos comungados ao mundo. Reflexão, meditação profusas sobre a existência e os seus instantes-já, seus absurdos, suas facticidades. Se formos pensar com o pensamento que pensa a existência aqui colocada sobre a mesa, a jogada de pôker que o jogador mostra com a sua perspicácia e inteligência, é a mostragem do saber que a alma foi assimilando ao longo das situações e circunstâncias. A cada passo, minha amiga e discípula Aninha Júlia, Ana Júlia Machado, a sua pena desliza livre nas linhas da página, até mesmo surpreendendo-a, deslizar que revela o seu pensamento de Existir, a sua idéia de Viver, que mostra o saber que adquiriu com as contingências do estar-no-mundo, aprendeu a dar sentido ao tempo, embora o tempo não dê sentido, com esta aprendizagem instruiu que é mister sempre significar a vida com a responsabilidade de viver, um saber por inteiro, a vida é o diamante que risca o etéreo, o fugaz, o passageiro, e o seu valor é inestimável, sermos "... qual finórios que rompem a perspectiva" e mergulha profundo no Espírito da Vida - aqui lembrando o filósofo e teólogo Carl Rahner; sentir e o saborear internamente e com fé o que as contingências nos vai revelando -, estimular as experiências, os vividos, e movimentar os sonhos, os ideais, colocar a Vida em questão.

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Dissera que a cada passos a sua pena desliza nas linhas da página, livre e autêntica, livre e senhora de suas intenções, e esta liberdade da pena delineia, burila, artificia a sua espiritualidade. Não há duvidar, a sua obra reunida é símbolo, signo, metáfora da busca da Espiritualidade, da Sabedoria Existencial. E para isto a linguagem e o estilo são arrancados dos recônditos da alma, das dimensões psíquicas, mostra sem subterfúgios o que ocorre nos seus âmbitos profundos. É preciso movimentar essa Sabedoria, o movimento é o testemunho poético, testemunho que leva os homens a questionarem, pensarem, refletirem, meditarem sobre os caminhos da Alma ao Espírito, existir o nada e criar, estabelecer o Ser, exibir "...a substância de que são consumadas as quimeras", a quimera é a Vida eivada e seivada de sentido, de valores estéticos do Ser Vida. Neste poema, instruímos que é composto de única estrofe, não há divisões de dimensões sensíveis, é a Vida num fluxo de dignidade e honestidade com o deslizar do tempo, com a passagem dos sonhos e ideais.

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O vôo é Ana Júlia Machado por inteira, é a sua vida projectada no espelho, revelando a imagem do Espírito.

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Beijos nossos, querida, a você, à nossa amada e querida netinha Aninha Ricardo, à nossa família.

Manoel Ferreira Neto

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O voo...

Leccionar a adejar, nas ansas do vendaval,

habilitar a erguer-se do chão,

sem haver ansas para adejar, assimilar a idear

de olhos encetados,

porque carecemos de residir vigilantes,

porque necessitamos recordar-nos do que fantasiamos.

Adejar sem ansas, desfechar a idealidade,

licenciar brotar as sensibilidades,

e analisar o vendaval sob os ramos, percebê-los

e ensaiar-nos desgrudar,

em comando ao eterno paraíso anil.

Havemos de instruir a adejar, sem algum subterfúgio,

ser qual finórios que rompem a perspectiva.

Estimular os vividos e movimentar a tez para que consigamos

facultar concedes ao intelecto e a nossa energia

alcance erigir-nos

o físico para lá dos términos que a circunspecção atribui-nos.

Eu necessito adejar! Sem esse pulo ao oco,

sem o paladar do vendaval que escanhoa-me a boca,

não subsisto, careço a cada ocasião, acudir ao adejo,

tantas ocasiões ermo,

mas analogamente tonificante para a alma.

Instruí a adejar comigo, desamarra as correntes que agarram-te

ao chão, liberta o teu espírito, e cede-me carregar-te

nos meus tentáculos,

para além dos astros. Pretendo instruir -te a adejar,

pois careço que escoltes-me nos meus adejos isolados,

pretendo exibir-te a substância de que são

consumadas as quimeras,

não receies, caminha comigo...

Ana Júlia Machado

#RIO DE JANEIRO(RJ), 08 DE AGOSTO DE 2020, 01:14 a.m.#

 

 

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