#PÁGINA DE LETRAS OCULTAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***


A-gosto pensar no silêncio da alma, tão pouco, quase nada, o sabido, conhecido, o dito, revelado, não satisfaz os desejos profusos do ser-me, poemar as contingências apenas uma questão de habilidade, engenhosidade com as palavras... Misteriosa prímula que no seu mistério está contido o ininteligível da natureza, a-gosto senti-lo profundo, num vazio branco esperando o próprio instante de tagarelar as cositas ocultas. Entrar no mistério do sagrado é arriscar dele jamais sair, como o louco, exilado nos vales obscuros e confusos do sagrado e do estético. Supunho que é de mim próprio que tento fugir, e não ao silêncio da alma, tento escapar.
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A-gosto... o raiar da aurora em todas as suas formas de beleza e simplicidade. Sonhar o tempo, desejando voltar para a eternidade... "Vorta, cavalo..." Quimeras sarapalhadas nas circunstâncias, cavalgada lenta, contemplando a natureza, as coisas do mundo.
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Síncopes sapateiam cubismos, deslocações, aliterações, adulterações. Alterando as geometrias. Trocando de lugar os catetos e co-senos.Tudo se organiza, se junta colectivo, simultâneo e peladinho, uma cobra, uma equação... esclarece a magnífica fertilidade que tenho em mãos, a gosto da psicanálise. Envio o pesadelo de um dos despautérios cometidos ao xiste da vaidade ou um despautério de pesadelo para estudo dogmático, preceituoso, cuja intenção fundamental é averiguar as tramóias dos pontos de vista. A altivez de homem dobra-se ante o gorjeio de seus gestos, o grunhido de seus dramas. A-gosto mergulhado nestas e noutras cogitações que encantam, como é gostoso cogitar as cositas, instiga o sabê-las.
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A-gosto etéreo de sons do verbo defectivo regenciando as emoções no caos da existência, gerenciando na náusea do destino pre-determinado, con-cordando com as facticidades e ipseidades, solipsismos e manque-d´êtres, a-cordando com as forclusions e lapsos da memória, falos e carências, desde a eternidade foram concebidas as trajetórias, síntese verbal ao olhar do visual, do tempo e dos abismos da temporal-idade, cavernas e grutas da a-temporal-idade...
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Re-tornar às origens de cânticos e idílios, às raízes de canções, baladas, rock and rolls de “Tem você sempre visto a chuva?”, especialmente “The Leeve`s gonna break”, ao espírito e alma das esperanças, da fé sentir presente o amor que transforma, das utopias e ideais saber-lhes a roda-viva dos limites, fronteira entre sensos e nonsenses, retorno em que a questão seja o encontro da liberdade e da id-ent-idade, quando à sombra de imenso arvoredo canta tenras, singelas canções de ninar às flores, ao broto das rosas brancas, vermelhas, luz da candeia cria imagens na memória e no ser, pousa reflexos na madrugada, a inspiração reluzindo, as chamas das velas no candelabro queima páginas de letras ocultas e ciências apagadas...
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"Aquando na subconsciência o iminente e avassalador acasalamento das palavras sobrepujam sonoplasticamente com irreverência toda a textualização"
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As tardes de inverno são de rara beleza, as da primavera, cheias de flores – planícies bem mais distantes do sertão e dos orvalhos pueris, do chapadão e das neblinas suaves. E longe de mim...
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Pequenas brisas escondidas nas urnas de areia; carros de boi, horizontes e lua nova, o cavaleiro voltando para casa de sua vaquejada, em trote sem pressa, extasiado com a beleza do crepúsculo, a última estrela, balindo, balindo, perdida na enchente da luz. Orquídeas no barroco do casebre, lilases no impressionismo das mansões, perpétuas no realismo dos jardins residenciais, no coração dos simples a presença indiscutível de Deus, a alma em festa de fé e esperanças, no dos burgueses presença de vazio, a cultura do nada, o espetáculo invisível das dores e sofrimentos, medos e dúvidas. Reflexo e esperança, retalhos de fantasia apenas! Canto de forte sinfonia e de vasta alegria, cânticos de imensa harmonia e plena felicidade.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 04 DE AGOSTO DE 2020, 09:00 a.m.#

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