GETHSEMANI ALÉM DOS DOMUS DO MONTE CASTELO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/Ana Júlia Machado: AFORISMO ----


Dia de experimentar aquela mágoa, senil frequentada, antes, momentos de passar o tempo, irreverências, que não abate ossos nem fêveras... ócios nem prazeres. Quiçá não houvesse quem dissesse que, efetivamente, não se trata de mágoa, mas de insólita tristeza das abatidas.

Abate força, gênio...

Agonia. Existência.

Abate coragem, sonhador!

Abate ousadia, insolente!

Abate impertinências, oh, descrente!

O oco, que ninharia é, vence o tudo que aguarda que eu faça-me. Ou que creio ser.

Oco e sofrimento.

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Vazio e sonido.

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A comparência de uma recusa faculta o distinto, mas na ideia tudo é possível. Daí uma convicção sensivelmente persuasiva de que se o ignoto assim sojorna, preferível para quem não arrisca-se desmoitá-lo.

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Pois em seu átrio reside um intelecto já avelhentado, contudo ainda assustador, além de os nós nas pontas serem dados com todo primor, afiança-se que os sentires do que fora perscrutado ensombrece quaisquer expectativas, mister pensar noutras possibilidades... Dele, alguns espíritos já evitam e invertem do deus do mundo subterrâneo para verbalizar que não há lá muita disparidade do que se enxerga por aqui, evitam e invertem algumas silhuetas que caracterizam carências de umas, características específicas de magnas maledicências de outros, olhares se trocam na esguelha das atitudes e gestos destituídos de quaisquer sentidos, mesmo os somente vulgares.

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Ouvindo essas almas, que se me exibem em devaneios, discrepar, chego à conclusão de que não é sofrimento o que sofro... não é dor a que aspiro com tanta ânsia, desespero... Pensando o pensar do pensamento sobre o sofrimento, enfrentar o sofrimento em toda a sua insensatez e vastidão constitui a oportunidade suprema de que dispõe o tipo saudável  para se superar do modo mais cabal.

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É aflição, uma vontade de extinguir logo com isso e abalar rumo à labuta que não afadiga, ao tempo que não caduca e ao bem-querer que não carcome.

Empreitada para quando o monstro repousar, azule velozmente.

Peleja para quando o devagar  não alcance refestelar

As imperfeitas perfeições do idealizado,

Tempo de nuvens brancas passarem rápidas,

No peito a alegria e felicidade sem limites.

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O vazio in-audito das florestas,

vales,

pampas

e chapadões, orlas marítimas,

florestas

O vazio inter-dito das grutas,

Cavernas,

Despenhadeiros,

Grotas,

Crateras,

Vulcões,

O vazio inter-textual das serras e picos...

Metavazio de cujos mistérios da gruta erigiram-se desejos

Calientes, sonhos efervescentes, utopias de demasiada ardência,

Meta-nada imaginário cuja fantasia de significado

Imergiram profundo no abismo das sagas, sinas,

Sibilos altissonantes preenchem de ritmos, melodias e acordes,

Silvos en-si-[mesmados] corroboram princípios,

Colina de ipseidades e solipsismos, colina de facticidades,

Das heresias e proscrições, colina de melancolias e nostalgias,

Onde bispos, monsenhores, padres

Trocarem confidências íntimas

De suas carências, medos, pavores,

Colina das transgressões e psicoses,

Colina das ousadias e esquizofrenias...

Colina de doidivanas, esquizóides,

Intros sentimentos e emoções pectivando as dimensões sensíveis

Da percepção e sexto sentido do verbo de intenções,

Que defectiva as ilusões de confins ser o porto onde

As constelações comungadas re-fletem os precipícios do não-ser,

As arribas serem o reduto onde as vaidades e libertinagens

Desfrutam de liberdade antes não imaginada, não foi escrita,

Professada por monges e clérigos, santos e profetas,

Circunflexos cinzas de intuições, cobrindo

Proparoxítonos sons de hiatos revestidos de quimeras

Lúdicas,

Os planetas em uníssono exibem-se, esplendem suas luzes e trevas,

As ondas do mar projectam à distância espalharem-se na praia,

Em cuja profundidade habita a luz diáfana do crepúsculo,

Que precede o alvorecer, metafísica do nonsense,

Que precede o anoitecer, exegese do absurdo,

Que eiva as utopias do além ser,

O templo onde se encontra o cerne

Da reflexão sobre o vento que paira nos auspícios do abismo,

O que diz sobre o silêncio, o silêncio que nele habita diz,

Quem lhe ouve a voz, o que emite?

Passa morros... Passa ovelhas no descampado... Passa orlas...

Segue o destino,

Da meditação sobre as lágrimas de chuva molhar a face do tempo,

Chuvilhos umedecerem o corpo, sensações sensoriais

Do horizonte distante...

Alfim, o tempo o tempo mesmo de si verte lágrimas.

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Luzes da ribalta numinando becos sem saída, baldias alamedas, vagos jardins! Quem me dera agora ouvisse os sons, ritmos, melodias que se re-velam além dos domus do Monte Castelo, ""É só o amor que conhece o que é verdade...".  Quem me dera agora não estivesse num “footing” de Praça Pública, canteiros de palmeiras, paisagem estonteante, curtindo a tarde serena de fim de inverno, quando me era delicioso tomar um conhaque na varanda, olhando as galinhas no galinheiro se preparando para o sono, a companheira tecendo crochet, relembrando-me de instantes havidos.

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Partículas de luzes de néon sob a passagem dos ventos pairam leves e serenas, leveza, humanidade do ser. Não vislumbro de esguelha, soslaio, de banda, bordas, nuanças, cume do Corcovado e Pão de Açúcar cobertos de neblina. Não penso os vais-e-vens, vis-à-vis, vice-versas de pretéritos e presente, subjuntivos e futuro, circunstâncias e situações, dialéticas do místico e contingencial, regências nos linces do tempo e da roda-viva das coisas, gerências nos ristes das línguas que pronunciam os silábicos sons das intelecções, contradições do abstracto e imanencial, deixo livres os sentimentos que pervagam no tempo, que vagueiam no espaço, "Servindo a quem vence o vencedor..." As ilusões de óptica do in-finito sarapalhado de paisagens que circun-vagam no deserto da solidão, vivendo sem um pensamento para amanhã... tendo todo o tempo do mundo. Tempo de nada, vazio. Tempo de vazios, nada.  Tempo sem tempo.

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"Gethsêmani" do eterno

Re-versado ao instante-limite do nada

As quimeras silábicas e fonéticas do in-fin-itivo regenciado

De góticas imagens que deambulam no silêncio,

De simbólicas perspectivas das sombras no chão de pedras

Que dão aquele toque de arrepio no corpo,

O sentido é abismático,

“Não vale a pena cogitar sobre estas cositas,

Só muchachitas tristezas e desconsolos trazem...”,

Credo em cruz,

Fecho os olhos, entregue por inteiro a sentir o friozinho

Agradável, o vento suave que me toca os pelos do braço,

Eriçando-lhes, o nublado do tempo,

Manhã ipsis litteris sensível,

Parentes, íntimos, amigos, conhecidos,

Esquecidos de esquecimentos inesquecíveis,

Houvera chuvilhos na madrugada,

Deixando suas flores nas sepulturas, orações,

Ouço nitidamente o pulsar do coração,

Sinto a respiração comedida, em estado de reflexão,

Re-fletindo as alegrias, felicidade que lhe habitam,

Cositas de coração mole, sonhador

Sonhando o preceder do sono, olhos pequenos,

Ínfimas a-nunciações de reflexos da luz,

Nuvem perpassando os recônditos do íntimo

Trans-cendendo a con-tingência, efêmeros e etern-idades,

Sonhando o alvorecer sob o jorrar das águas na fonte,

Sonhando o entardecer antes de quaisquer entardeceres

À luz das cores vivas do arco-iris que risca o céu

De cafuas às arribas.

Nas arribas, quando os tesouros não são mistérios,

Indecifráveis, indevassáveis,

Não existem. Não há dádivas. Nada há nas cafuas do arco-íris.

A CARRUAGEM seguindo as trilhas...

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Noite estrelada, lua cheia.

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Onde as trans-gressões?

Onde as rebeldias?

Onde as ousadias?

Onde as irreverências?

Onde as insolências?

Onde as polêmicas?

Onde os acintes e desrespeitos?

Enfim, a coisa em si mesma é popular,

Reina e impera em seu regaço a ausência

De correntes, algemas,

Inevitável, seja com for!

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"Nalgum lugar do tempo!"...

Os equívocos do que não desejei deixei atrás,

As gafes do que quis haver frustrado abandonei,

Deixei no episódio que fui as obtusas mazelas,

Deixei na paragem de onde vislumbrei

Nuvens pequenas assemelhando-se a brinquedos,

Desvarios e preguiças tirarem férias prêmias,

Deixei perquirições e indiferenças,

Larguei no desvio dos pensamentos

Os detritos das conseqüências,

Importa saber haver sim tergiversado os ideais,

Em nome de louvores por haver refletido nos olhos

As carências habitam-me os regaços da inconsciência...

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Rua deserta, silenciosa. Sombras, trevas. Janelas, portas trancadas por dentro. Trilho-a a esmo, à mercê do eterno e da eternidade, à revelia dos tempos.

 

#RIO DE JANEIRO(RJ), 26 DE AGOSTO DE 2020, 19:55 p.m.#

 

 

 


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