PRECE DO CREPÚSCULO DA EC-SISTÊNCIA, ALVORECER DA MORTE# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***


Salve-me dos medos do in-audito, inter-dito que me perpassam os re-cônditos dos sonhos! Recônditos de cujas vertentes brotam e floram a cor-agem de dar rédeas ao destino de tecer linhas com o crochetear das idéias e emoções em uníssono, intenções e idéias ad-versas vagabundeando por utopias tão longínquas ...

***

Salve-me das tristezas, desolações que fluem às pencas neste instante, as primaveras passam indiferentes aos sentimentos e emoções, esvaecem-se, as flores ec-sistem no imaginário, perdido no tempo! Flocos de neve flanam no ar, respingam o chão, brancura e pensamentos, idéias e quimeras, o tempo a-nuncia outras luzes...

***

Salve-me do nada, do vazio que concebem o olhar disperso às antípodas do horizonte, o olhar olhando os olhos a observarem as nuvens, panoramas de vales e bosques, tão longe, tão distantes, os espaços faltam-me à visão!

***

Salve-me da alegria sensaborona, das volúpias do eterno, da felicidade que me sussurram nos ouvidos o perpétuo plen-ificado de ideais, esperanças, que me cochicham nos ouvidos a estética da liberdade logo ao alvorecer de amanhã, circunspecções, introversões no enlaçar da tarde e da noite, entrelaçamento de expectativas e querenças!

***

Salve-me das luzes que iluminam as alamedas e lotes vagos, que plen-itude haverá em torno de mim, que torrente de amor me arrastará para baixo - para o mar?!, que destino de quimeras e utopias respingará nas pedras ao longo da trilha?

***

Salve-me do silêncio, da solidão, quero precipitar minhas palavras nos vales, pretendo ou intenciono, sei lá, imergir os sentidos nas metáforas e metafísicas da condição de existir, desejo encontrar a minha velha e selvagem sabedoria, as ilhas bem-aventuradas onde vivem as ninfas, musas, esfingens!!

***

Salve-me da perfeição de rugir com ternura, afeto, de ruminar com conhecimento e sapiências, de sentir o incólume prazer de procriar e evolver as imagens do tempo e do devir!

***

Salve-me da fé que redime pecados, culpas, pecadilhos, que assegura a felicidade imortal, a paz plena, o paraíso de só êxtases, clímax! Salve-me dos jogos da fé com os naipes inversos e avessos das doutrinas...

***

Salve-me do inverno de frio ad-stringente aos ossos, da primavera de perfumes agradáveis, das flores que des-abrocham ao alvorecer, do verão de sol escaldante, do outono de folhas caídas!

***

Salve-me dos idílios da pureza, das quimeras da inocência, das fantasias da ingenuidade, da sabedoria dos versos que cantam e declamam o espírito da verdade solene!

***

Salve-me das metafísicas que enovelam pretéritos das idéias, das psicanálises que conjugam traumas e fracassos, conflitos e frustrações, medos das imperfeições à luz de sonhos e utopias do "eu" absoluto!

***

Salve-me do pensamento que torna torto tudo o que é reto e faz girar o prático-inerte, o tempo abolido e as vertigens da mentira!

***

Salve-me das angústias, náuseas que prescrevem o Evangelho das con-tingências rumo ao além-sagrado!

***

Salve-me de mim, mim-mesmo, do eu-poético, da minha vontade criadora, do meu destino!



#RIO DE JANEIRO(RJ), 23 DE AGOSTO DE 2020, 06:56 a.m.#

 

 

Comentários