ÀS SARA-PALHAS DE...# GRAÇA FONTIS: ESCULTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO $$$


Às sara-palhas  das psicodélicas quimeras do prazer e gozo, ejaculados de fantasias e vontades íntimas, seivando úteros carentes e solitários, e in-versas idéias da consciência e desvario,  o que justifica ou de modo inda que plausível explicita a ansiedade sem limites por o destino ser artificiado, valores e virtudes mostrados, cujas perquirições se reúnem num único conceito “a vida é efêmera”, se as hóstias comidas preencheram ou não o vazio.  O que comentar ou tecer uma palavra sobre isto senão o que dizem, às largas risadas e gargalhadas altissonantes, os doutos da sátira: “Girulika foi à casa de Pamela/ Resolver uma questão de panela/Que estava na sua janela/Desapareceu/E ninguém nunca mais viu ela...” A idiotice como modo de pensar a respeito.

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Às sara-palhas da eloquência e erudição, do classicismo da linguagem e estilo, da forma, a fonte da alegria, prazer é a vida, mas, onde biltres saciam a sede, todas as nascentes estão envenenadas. Como contornar ou deambular ao redor de algo desta estirpe e laia, o paradoxo de extravagâncias de ideias extremas? Não é que paradoxo é semente de estilo, estética?! Espremer os miolos para entender tais questões não é conselho que se dê, que se ofereça, mesmo com o coração pulsando de tanta solidariedade, pois leva a existência inteira, restarão dúvidas e dúvidas  e mais dúvidas, pouco fora deixado como consolidado.

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Às sara-palhas da eloquência e erudição, se me questionarem o de que mais ojeriza e náusea tenho, creio a resposta será dada sem qualquer interferência do pensamento e da razão, será livre: "focinhos e dentes arreganhados e a sede dos impuros." O que, efetivamente receberei como contra-resposta presentes esgares faciais: "Então, o que mais enleva-o é a pureza". Olhar de esguelha, resposta de excelência para afirmação tão sem noção.  Quem há que tenha olhado no olhar, na pupila, o que há de risível na imagem, o veneno que destila a asnice, saber que é a sua própria refletida?

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Às sara-palhas do tempo e dos ventos, digo com empáfia que envenenaram a água sagrada com a concupiscência; quando categorizaram o prazer, os sonhos imundos, utopias sujas, envenenaram as palavras. Dizem as celebridades que o escritor Machado de Assis dera veneno para os cariocas e o mundo de sua época, com a sua crítica através das obras, todos beberam com prazer, sem quaisquer intuições sobre o que criticava a sociedade, a hipocrisia. Uma coisa é uma coisa, outra coisa, outra coisa. O veneno hoje são as obras, envenenam todos os princípios da consciência-estética-ética, moral, hábitos, cultura, vangloriam e endeusam a hipocrisia, farsa, falsidade, aparência.

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Às sara-palhas da verdade e das virtudes, morei entre povos de idiomas que me eram, desde a eternidade à eternidade, estrangeiros, tapando os ouvidos, era até engraçado andar com os dois dedos indicadores tapando-os. Isto com a intenção exclusivíssima para continuarem estrangeiros os idiomas de suas pechinchas, seus poderes de corrupção, seus saberes e conhecimentos ignaros, escusos. Merecedores de serem levados para o manicômio em camisa de força, loucos desvairados e devaneados com as suas idéias e pensamentos que expressavam em suas línguas.

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Às sara-palhas da probidade e princípios da honra, não há palavras para conceituarem as quantas vezes não me cansei do espírito, quando observava que o biltre tem gestos e diplomacias,  finesses e uma linguagem que faz o queixo cair de tão sonora, persuadem num piscar de olhos.

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Às sara-palhas da franqueza e da robustez, voando é que atingi as alturas, fruto de uma intuição: intui lá não haver biltre deitado à sombra de oliveira, castanheira, curtindo a natureza, as coisas da terra-mãe, sentado à beira do poço, num toco de árvore à soleira de sua residência no entardecer, vendo os transeuntes retornarem do trabalho, dedos de prosa sobre a vida de algumas pessoas, algumas doentes, outras na falência, outras pulando a cerca, nas mesas de restaurantes,  no comércio, nos escritórios, clubes sociais, destilando as regras e normas biltres.  

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Às sara-palhas da consciência e do conhecimento, fui obrigado e obriguei-me a voar para muito além das alturas, ao rés do chão a biltridade fedia, antes de achar de novo a fonte do gozo, olhar de silêncio ao que antes deixara. A gargalhada é inevitável, o odor era insuportável. O exílio social era inevitável, oportunidade de pensar nas coisas de existir.

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Às sara-palhas da náusea e do vazio, tornei-me surdo, cego e mudo por tempo inestimável, a fim de não viver com o biltre do poder, do escrever e do clímax.

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Às sara-palhas de in-verdades e mentiras, o mata-burro que conduz à mais elevada esperança é o homem redimido da inveja, e a ponte que conduz ao arco-íris após longos dias de chuva é o homem redimido da hipocrisia, farsa, falsidade. Redimidos destas cositas que tantos  pré-juízos trazem no bojo,  prontos e acabados  para taça de vinho às suas persistências em não dar ponto sem nó. O circo está na cidade...

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Às sara-palhas do silêncio e das solidões, aquele que busca o conhecimento, o saber, deveria aprender a construí-los com montanhas - não é o espírito que remove montanhas?

 

#RIO DE JANEIRO(RJ), 26 DE AGOSTO DE 2020, 15:02 p.m.#

 

 


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