#ENTRE OCEANIAS DE NADA#* - GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***

Os parvos, ao estabelecerem as condutas e posturas de suas parvoiçadas, servindo de suas posições familiares e sociais, etiquetas e finesses no ponto dos momentos adversos e contraditórios, não dão primazia às que consumam e patenteiam o índice de seus juízos mais pequenos que o milímetro de fita métrica, isto é consentir os risos, gargalhadas, mangofas e sarros de toda espécie, mas aos moldes e modelos de seus despautérios da sapiência vulgar e do conhecimento obtuso, que mostram a face nítida de suas fantasias de valores e virtudes, assim instituindo o mais alto nível das baixezas do caráter e personalidade, isto sim aos olhos dos ingênuos é motivo de cogitar a respeito do sonho de luxuriantes grandezas aprofundadas em trevas, de importâncias mergulhadas em nadices.

***

Encarniçamento

- divisão e ênfase: en-carn-içamento -

Não combina carme e carne,

Não dá forma a enganos, quimeras,

Içando os preâmbulos dos estapafúrdios pensamentos

De suas próprias garras,

Garras dos equívocos e alegrias obtusas,

Não cria estilos de coragem, persistência,

Não engendra expectativas, sonhos

Não desaperta nodosidades de padecimentos, angústias,

Não corrobora náusea imiscuida a devaneios da contingência

Converte-lhes inteiramente gordianos,

Nós górdios,

Não liberta

Inquietações, receios, frenesis,

Não se desprendem

Mínguas, despovoado, insipidez,

Não atesta

Ocos, vazios, báratros do ânimo,

Não sustenta

Protótipos, intenções, anseios,

Não enlaça as mãos

Nas veredas e sémitas em comando ao perene,

Não dá luminosidade à existência,

Não tripudia a ambiguidade,

Não trafulha os ases do saber com os naipes

Das cartas do desejo de glória,

Distribuídas entre os jogadores,

Stringência-ad de primeiras ilusões,

Ensombra, cega o fenecimento...

***

Nada e nonadas dos parvos, na adstringência de primevas ilusões, quando trazem no coração e na cabeça o rigoroso e pujante método da verdade, método minuciosamente racional, acompanhado das picuínhas do real e verossímil, subjetivo e kenoses, indubitável tábua de mandamentos e regras, e que por outro lado, graças à evolução da humanidade retrógrada, tornam-se tão delicados, ternos, finessados, diplomados, aburguesados, susceptíveis e sofredores a ponto de precisarem de meios de cura e de consolo da mais alta espécie, de milagre e de sede saciada da mais solene raça e laia; daí surge o perigo de se esvaírem em sangue ao conhecerem a verdade, ao se conscientizarem de que a ilusão, a mentira, a representação têm pernas curtas, a verdade não lhes é senão modo e estilo de tripudiarem os instintos que lhes são peculiares, quiçá linguagem e verbalidade de blasfemarem com as doenças emocionais, moléstias psíquicas, da mais alta índole, o que lhes habita o mais profundo da carne e dos ossos, trans-elevarem a razão em nome de alguma dignidade fantasiosa.

***

Os parvos estão sempre persuadidos de que as causas a que servem são essencialmente melhores que as outras causas do mundo, e não querem acreditar, nem diante de pelotão de fuzilamento, câmara de gás, enforcamento, injeção letal, que a causa deles necessita, para prosperarem, progredirem, conscientizarem, exatamente do mesmo estrume malcheiroso que requerem todos os demais empreendimentos humanos por ser ele avesso ao olfato educado para o perfume inebriante dos interesses.

***

Parvoíce de nonadas e nada. Nada de parvoíce e nonadas. Trocam as palavras de lugar para darem sustância ao que chamam de idéias originais, trocam, com a troca das palavras, alhos de parvoíces por bugalhos de perspicácias, pimentas de cretinices, sais de sandices, tempero a gosto e prazer, acentuando ao ponto a presença do alho, o estômago duvidando do mal estar e o prazer, mas as nonadas e os nadas permanecem lívidos e vivos, não lhes sobrando outros resultados senão os risos e gargalhadas das pessoas, caçoando-lhes as agilidades e perspicácias da inteligência, provocando-lhes muitos pinotes e saltitâncias para entenderem e compreenderem os motivos e razões. Na verdade, na verdade, oh, que sina, que saga, nasceram para ser incompreendidos, desolados, marginalizados, mas a esperança é a última que morre, chegará o tempo que a humanidade se libertará do berço esplêndido dos orgulhos e importâncias da raça, estirpe, descobrirá que são eles os que trazem, sempre trouxeram, nas mãos as primevas idéias verdadeiras da vida e das cositas dialéticas do tempo e do ser, do verbo e do ser, tempo e vento, vento e ser.

***

Quando não se tem linhas firmes e calmas no uni-verso da vida, como as linhas das montanhas e dos bosques, das margens dos rios, dos sinuosos caminhos da floresta, da invisibilidade das coisas na neve que cai ininterruptamente, da visibilidade do copo de bebida sobre a mesa, vestígios quimícos, a perdição no instante psicodélico das imagens, o próprio desejo íntimo do homem vem a ser intranquilo, disperso e sequioso como a natureza do citadino: não tem felicidade nem dá felicidade.

***

Aquando na universalidade existencial, nos instantes-limites da parvoíce dos parvos, segundos inolvidáveis, "... capta-se e afere-se toda poética, para que o poema resplenda, ilumine e sacie almas sedentas de conteúdos e beleza num alento sob o caos do existir", as ilusões primevas não se re-velam, não há... as stringências-ad a-nunciam as contra-dicções e nonsenses das moléstias mentais, pernosticidades, malevolências, vaidades... tudo isso num clímax de censuras recíprocas, "tudo isto é da vida". A precisão urgente de ser eterno boie como uma esponja no vazio e entre oceanos de nada gere um ritmo, eternalidade eternaltivamente eternuando novas categorias de sentimentos do efêmero. Tudo é profuso, só eu artificial, sê-lo fecha o destino que se funda diante dos ideais e contingências do sentir as incongruências do eterno e o "laissez-faire." Aprender a ec-sistir é a ec-sistência, e o caos da ec-sistência não se mostra cristalizado, apenas a abertura para que se veja a amplidão dos horizontes de visões de seus estilos, auto retrato do risível.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 04 DE AGOSTO DE 2020, 07:26 a.m.#

 

Comentários