#NAS FONTES DE RUANÃ CHUVILHA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis: POEMA PROSAICO ***


A pena deserta, fonte de eterno frio,

Corto o frio da folha,

Sou o nada que me fecho.

Oratório vazio...

Templo de arquitetônica vigília...

Vou-me re-colher à fonte

Onde as enguias se recolhem...

Vou-me exilar na gruta

Das corujas dissidentes do paradoxo e sublime,

Onde os que são necessitados de compreensão,

Reconhecimento cantam suas mágoas, ressentimentos,

Se não o sei, se o sei,

Invejas, ciúmes, despeitos

Palmilharam os caminhos,

O que importa são as águas frias...

Aspiro o fumo antigo das tabernas,

A última estrela

Bale perdida

Na enchente de luz,

No holofote de faicas de brilhos,

As águas fixam-se inertes.

***

Luz de candeia

Cria imagens na memória,

No coração, saudades imensas

Do que inda não existe,

No ser:

Sombra de imenso arvoredo

Canta tenras, singelas

Canções de ninar às flores,

Especialmente das orquídeas brancas e liláses,

Baladas de dormirem as corujas,

Dedilha nas cordas do violão

Blues românticos aos carentes,

Jazz expressionistas aos isentos de valores

Do espírito, da alma, do caráter e personalidade,

Águas em arco-íris,

A inspiração reluzindo,

Intuição e percepção recolhendo

O que alimenta-lhes os recônditos

De volos de patentear os sonhos,

Simbolos, signos, metáforas,

No céu

Vasto horizonte, pleno infinito

De brilhos resplandecentes,

As cordas dágua deliram inda poucochito mais, nas fontes de Ruanã chuvilha, à esquerda os habitantes varrem a calçada todas as manhãs, à direita lavam a rua no entardecer, o médico Dr. Spechit, especialista nos problemas de coração, já disse que molha os seus equívocos deixados na calçada nos dias de chuvilhos lentos, o que respondera a transeunte, vendo-lhe com a mangueira ligada, molhando a calçada da rua em dia de chuva fina, eis o mundo chuvilhado, eis os chuvilhos cristalizados nas folhas das árvores, se balançar-lhes, esplendem-se; assim lúcido, severo ou assim desolado, desambientado, estrangeiro e estranho, a matraca matraqueia nos ouvidos, o refrão da música repete três vezes no gravador no subsolo da lagoa, o mundo não tem sentido, os indivíduos abestalharam-se, atoleimaram-se com suas hipocrisias, farsas, mentiras, falsidades, o que mais queira-se acrescentar, seja dica, deixo-me à deriva olvidar de lembrar de revertê-las, deixo-lhes a esmo esquecerem-se de inverter-me as memórias, o mundo não vale a pena, se a pena existisse... não existe... valeria a pena a re-produção no mundo daquilo que a terra efetivamente tornará cinzas? Se pecado é ter nascido e provar, entre pecados e equívocos da razão irrepreensível, os que não foram doados gratuitamente, os que foram cometidos para asseverar com categoria o livre arbítrio é real... Nada daquilo que declamam as cartilhas de que a invisibilidade do livre arbítrio se fundamenta e funda na dúvida de que o destino possa ser construído e edificado com a entrega, a visibilidade dos sentimentos e emoções voltados a julgar os prazeres e alegrias do que realizam com eficiências dúvidas multiplicam-se, criam outras raízes, dúvidas perpétuas, a neutra satisfação de alguém sentir não há respostas, inda que efêmeras fossem...

Estrelas,

Nas montanhas pairam-se

Os ecos desesperados

Da humanidade,

A lua perde um pouco

Do brilho milenar,

Do resplendor secular,

Da magnificência fugaz,

No brilho das estrelas solitárias

Esparramadas, espalhadas pelo céu,

Pelo infinito,

Eterno é o desejo do sublime. Eterno é o figurino que esplende sua performance no palco, e fico pensando o tanto que me perdi, enrasquei-me nos conflitos e problemas, desorientei-me, vaguei perdido por terras desconhecidas, perdi-me em não pensar os desvarios perpassados por sombras obscuras e obtusas, glórias afligidas de se tornarem imerecidas, o tempo inédito se a-nunciando e negando, não quero ser senão eterno... a alma barroca não perde tempo em rogar conforto, roga-lhe de joelhos, mãos postas, mas só vê o frio noutro frio... sente-lhe corpóreo no inverno contingente das reflexões profusas, carece de o pensamento e o mundo mudarem os rumos, mudarem o destino, mudarem as rotas e as curvas de estradas,

A solidão humana em sua trajetória,

Em busca do encontro da Liberdade,

Do Sublime, do Ser...

Nas pradarias os murmúrios

De angústia e tristeza

Dos homens,

Há nuvens escuras no céu,

Há casais encantados sob a beleza

Da Fonte Luminosa jorrando água,

Abraçando, beijando, promessas ao luar....

Não pense ser desespero nem depressão, na falta do equilíbrio as adversidades, impulsos acima das coisas que a natura mutável sugere ao jardineiro em seu ofício diante do ganho e das perdas à hora da colheita quebrada pela tragicidade à espreita do novo sol que o aqueça quando tudo parece sombrio no delicado e malicioso tempo que as peles trazem espinhos e até afagos renegam e com abismática visão do crível desde a origem dos leitos de rios e mares a secarem num distante horizonte correlativados nesse jogo inexorável da vida quando desaparece.

***

O círculo vazio, onde quer que se lhe estenda, ao mundo converte em um abismo, o preço não se lhe avalia, a perdição é inevitável, o preço exato das paixões e dos ócios, amores e preguiças, da dignidade, honra e condutas obtusas, nada pode re-verter este quadro ou processo, como se lhe queira, desprezível, esvaecem-se no sonho da existência, sem ciência nem ironia, nostalgia rara, a serenitude do sorriso, a alma queimando-se no fogo das maledicências... coisas bem antes dos homens, coisas de pretéritos inolvidáveis.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 03 DE AGOSTO DE 2020, 11:27 a.m.#

 



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