#DÚBIA A PRERROGATIVA DO SILÊNCIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: CONTO POÉTICO INDIANO ***


Neste fim de tarde,

Jurava ser de sábado, é sábado de espairecer idéias, serenizar as intenções de raízes e origens. Não domingo, mas é dia de espreguiçar à vontade,

Espreguiçar até a vida em si mesma,

Aproveitando para espremer o espírito de suas esperanças

Sobre a continuidade do ser humano na terra, no mundo,

Haverá conserto para as práticas da maledicência? Será que os homens merecem chances de explicar os equívocos e erros? Construirão alguma ponte unindo os reinos, embora as etnias?

Careceria de dizer o horário?

O relógio não falha um minuto a mais ou a menos,

Pontualíssimo...

Não existem letras, não existem sílabas,

Não existem palavras,

Os olhos miram pálidas sombras,

O coração pulsa lentamente,

Quer sentir o que dizem que silencie as dores da alma,

Deixar a existência é muito dolorido...

Sobretudo quando se encontra a razão de existir por inteiro,

A esperança é que prolongue-se pelos tempos, eras, épocas,

No além, desfrute e deguste o sabor do Espírito do Nós,

Aquilo de dizer: "Conhecemos o amor no mundo,

Trouxemos-lhe para o além, por sempre juntos",

Colocar-lhe em xeque a todo instante

É diversão tão prazerosa...

Vencidos ou vencedores - isto não importa

Efetivo é que abre outras oportunidades de realizá-la.

***

Este instante é melancolia única, nostalgia dupla,

tristezas triplas, angústias e vazios múltiplos,

pensamentos devaneando por abismos da ausência,

ideias circunvagando os espaços e constelações de algodão,

Tecendo o crochet da coberta de fios das verdades íntimas

A cobrir-lhes do inverno imenso da sabedoria,

Olhando as cores do arco-íris brilhando intenso,

Envelados, camuflados, encapuzados em silêncio,

Deixo-lhes livres para fazerem o que querem,

Re-criarem-se como desejam, tem vontade insofismável,

Agradecem a finesse,

Pintam o sete com todas as cores almáticas,

Cada uma tem um sentido peculiar, símbolo, signo, metáfora,

Trazendo seus benefícios e prejuízos,

Assisto a todas as trafulhas, tramóias, habilidades escusas,

Para reuni-las, aderi-las, comungá-las,

Tenho medo incólume de aceitá-las, con-senti-las;

Momento de coisas terminadas

Como se cada corpo, de carne e ossos,

Desfeito em cinzas seculares, poeiras milenares

Repousasse na vigília da decomposição, no sono de cinzas...

***

O exílio se reconhece

Nesta desesperança de brancas páginas vazias,

Nesta angústia de folhas empoeiradas, sem linhas,

Imóveis e esbranquiçadas, imóveis e cinzentas,

Entre as estrelas e a ausência de fôlego,

Entre os planetas e a paranoia da morte infernizando,

Frágil que sou, a psique aproveita a chance

Para criar medos, pavores, temores, tremores,

Obrigando-me a patentear o ativo e o passivo das

Atitudes, comportamentos, gestos,

Fazer o inventário do que salva das chamas de fogo

No inferno, o que eleva ao Paraíso Celestial.

Deitar a cabeça no travesseiro, sentindo-me homem,

Entre a lua e o suspiro,

A vida não tem pre-fundas, a morte não tem fundo

O que antes da vida? O que depois da morte?

Perduram, perenizam-se, eternizam-se

Como a bolha de sabão

Que a boca sopra e o fragmento explode.

***

Neste segundo à luz do tempo,

Neste instante à mercê de nonadas,

Todo horizonte em ação´

É de nulo sentido

Todo uni-verso em movimento

É de nítida significação, dúbia a prerrogativa do silêncio,

E a perspectiva do exílio se revela inda mais,

Este tempo trans-mudado em echarpes cinzas,

Lenços azuis, chapéus brancos à lá Chaplin,

O Ùltimo Discurso enfatizando o Silêncio do Tempo,

Lançando mensagem espiritual ao Tempo e ao Silêncio,

Ambos acendendo, ascendendo as utopias da Paz,

Solidariedade, Compaixão,

O tempo é símbolo de utopias que se fazem no nada,

O silêncio é linguagem e estilo das quimeras humanas,

O tempo ritma as circunstâncias, situações,

Contra-dicções, dialécticas, verborreias e falácias,

O silêncio se inspira na ausência de som,

Cria a presença de todas as luzes que numinam os espaços,

Mostra-se nas sinuosidades dos caminhos do mundo,

Mímesis teatral? - Quem o sabe?

A Arte guarda os seus segredos íntimos,

Virando as esquinas de alamedas, haverá mudanças de posições, de pensamentos e do mundo?

Revela-os em perquirições e indagações do Existir.

Expira exalando o perfume de lembranças,

Fenece respirando o ar de recordações,

Recordações da dignidade, honra, liberdade,

Da autenticidade de se ser o que se é,

Na pronúncia afônica de vernáculos,

Na voz rouca da palavra...

Re-nasce no renascimento do som de suas idéias...

***

Na inutilidade da matéria na distância...

Dúbia a prerrogativa do silêncio

Que ritma e melodia os instantes da alma perdidos,

Que balada as utopias nas travessas peculiares

Dos desejos e aspirações à LIBERDADE



#RIO DE JANEIRO(RJ), 30 DE AGOSTO DE 2020, 09:09 a.m.#

 

 


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