**CEBOLAS DA ARÁBIA NO DESERTO** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA ***

 

O sarcasmo alimenta de ironias as hipocrisias das mentiras

Que se fundam essencialmente na solidariedade de salão,

Na indiferença solícita do humanitismo.

O cinismo sacia a fome do falso divino

Que se sarapalha no tapete branco de entrada dos monastérios.

A ironia rega de olhares enviesados preceitos e dogmas da veras.

Perfecta trindade que desperta para as investigações da Imagem no espelho, e a aparência ceifa orgulhos e vaidades.

A vida com a morte na alma nada é. A morte com a vida nos interstícios do espírito nada significa, significante algum se lhe apresenta.

A existência cessa e o vento

Ainda me recruta para bem distante,

Longínquo cuja invisibilidade acorda sonhos,

Para o interminável...

Eterno da inutilidade,

Ninharia de ser total,

Tudo compenetrado,

Vomita a mesmice desta imago,

Não mistura a nonsensidade destas ópticas do tudo sombrio,

Às voltas pelo balanço incansável de corrigir,

Absolver os batimentos que cada termo rumoreja,

Que cada vivido e jornada nas ansas do metafísico

Ruminam, e exibição límpida, transparente nos voos,

Pequenos e repetidos voos, sem direção definida,

Silenciosos das contingentes trajetórias,

Viajada durável,

Curta cinematografia de enxergar um momento,

Um princípio imaginado.

***

Linhas paralelas. Páginas trans-versais, verticais. Palavras uni-versais. Roda-viva de sentimentos, emoções. Ad-juntos de desejos, sonhos de prefixos interiorizando a divina trans-cendência da condição humana.

***

Veemências surdas-ab de carências abissais rodopiando nas contradições de verdades pretéritas, leis do menor esforço para o consentimento jacente-sub do efêmero em efêmero, pedra angular da morte, pedra de toque das cinzas que o vento não leva para os cafuas do in-finito, mas a terra engole substancialmente, húmus para alguma erva daninha ao redor das criptas de mármore preto ou branco, no pé das cruzes sem nome, sepulturas sem qualquer identificação, apenas o seu formato na terra; solidões abismáticas roda-vivendo nas dialécticas da in-verdade haverá-de ser, a coroa do vintém ou mil-réis, oposta às tradições preceituosas ou dogmáticas, de efemer-itude em efemer-itude, tornando-se vazias, nadas, obtusa fé do inaudito preenchendo as con-tingências da alma com miríades de sublim-itudes da plen-itude verbal que, de desejos em desejos, tornam-se irtudes do verbo eterno, a morte trans-cende a carne, a carne trans-eleva-se de regências linguísticas da estética corpórea do abstrato. Carne sem osso. Eis a vida, sem as ipseidades da matéria, vida que não morre, vida sem as quimeras do paraíso celestial, vida sem as utopias da perfeição, redenção dos pecados, ressurreição das cinéreas mauvaises-foi.

***

Ilusões simbólicas. Sorrelfas metafóricas. Fantasias expressionistas re-vestidas de bucólicas esperanças do absoluto nada ou das nonad-itudes. Des-cortina-se o pretérito. Des-nuda-se o porvir. Des-vela-se o mistério dialético ou dialógico do apocalipse no ziguezague das utopias re-versas e in-versas da bíblia in-temporal, quando o genesis se conubia com o caos, concebendo os maque-d´êtres dos medos e tremelicâncias do des-conhecido.

Angústias, vidas secas. Memórias do cárcere dos ossos sem a carne da alma sem coração, dos sentimentos sem o sensível.

***

Não há agora nuvens brancas no espaço celestial. O celestial na íntegra azul de confins às arribas azul, do in-finitivo ao in-finito o nada trans-lúcido inter-ditado de branco atrás das origens do tempo espacial, na imagem do tempo con-tingenciário. Ilusão de ótica, vernáculo latino do olho esquerdo que manda o direito catar cebolas roxas da Arábia no deserto, comer salada substanciosa só com elas, depois confessar com os monges do tempo tibético ou budístico as trafuas das luxúrias verbais para justificarem as maledicências.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 08 DE AGOSTO DE 2020, 07:09 a.m.#

 

 

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