**VOZES PLANAM SENSÍVEIS** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/PROSA E POESIA: Manoel Ferreira Neto


A vida fica sem estribos, sem lugar para colocar os pés. Nada parece dar certo. Todos que poderiam nos ajudar estão longe, ou preocupados com seus próprios abismos. A vida foge do controle... Nossos sentimentos chegam a uma situação extrema. Medos pungentes invadem nossas almas. Sentidos violentos ameaçam nossa paz. Fica amarga a vida, e nós, intolerantes com isso, sofremos ainda mais. Impulsos de tristezas calejam nosso coração...
Parece destruída nossa integridade emocional. Abismos sucedem abismos... Tudo vira fragmentos...
Juízos trovejam, lembrando nossas faltas para com os outros e com a vida. Foram desligados os últimos abraços, as últimas companhias, os últimos coleguismos. O sacrifício de pedir que voltem e nos ajudem é inútil, não chega!
Abismos nunca são acasos. Fora diante desse pensamento que vós sugeris que escrevesse um poema. Quis dar um sorriso na hora, sorriso de galhofa, pois que, vós dissestes sobre a luz incidindo na fresta de entre as folhas, estive pensando no abismo. Poderia até escrever sobre a luz que incide no abismo.



Cantar as esperanças
Cantar os sonhos
Cantar os desejos
Somos todos cantores solitários
Violões imaginários trazemos no peito dentro
Ritmos, melodias deixamos no tempo
Até o vento executa a dança, fá-la ópera,
Fá-la sinfonia, fá-la orquestra
E a nossa voz ressoa por cantos e recantos
Por florestas, por mares distantes,
Pelo desconhecido,
Pelo inaudito,
Até pela morte
E cantamos por toda nossa vida.



Recitamos versos,
Recitamos estrofes,
Declamamos sonetos,
Compomos poesias
Somos todos poetas, somos todos poetisas
Somos todos amor pela paz, pela felicidade
Somos todos os rouxinóis do universo
Somos todos os pintassilgos da vida
Trazemos em nós dentro o espírito
Trazemos em nós a vida antes de quaisquer vidas
Seguimos solitários por todas as estradas, campos
Voamos a nossa águia dos sonhos
Voamos o nosso condor da espiritualidade.



Amamos a vida,
Amamos o ente amado
Amamos o tempo de nosso ser,
Amamos o absoluto, amamos o pleno
Seguimos as sendas, veredas, solitários,
Cantando,
Compondo as nossas ilusões, fantasias, quimeras
Porque vida não é viver.
Vida é ser vida.



(*RIO DE JANEIRO*, 18 DE DEZEMBRO DE 2016)


Comentários