/**A SUPERFICIALIDADE DO NÃO-SER PROFANIZANDO O SABER**, SÁTIRA FILOSÓFICA, COMENTADA PELA ESCRITORA E POETISA Ana Júlia Machado


O Texto de Manoel Ferreira Neto é uma construção poética, fazendo ironia ao homem profano que tudo confunde, que pensa ser um erudito, mas não passa de um ser minúsculo, não passando de um boneco automatizado da civilização, sendo padecente de si próprio.
A partir das estirpes e suas origens e progressos. A maneira de “ser” que seguiu o homem ao longo de sua história, o homem sagrado e o homem profano constata-se a falsidade do ser humano assumindo o antecedente de que a santidade é unicamente humana e conhecendo que o homem é um resultado do seu contexto histórico-social e cultural, não existe uma revelação religiosa radicalmente “genuína”, isto é, sem nenhuma mediação de agentes exteriores. Em qualquer que hajam sido as circunstâncias financeiras e sociais da formação e do desenvolvimento histórico de uma sociedade e de sua cultura, é provável reconhecer legado de elementos de particularidades religiosas, como por exemplo: manifestações do sagrado em uma coisa, mitos, símbolos, rituais entre outros que representam a forma de erudição, porque “declaram-se”, convertem-se sagrados, o homem tem a consciência de sua penetrante nulidade, o sentimento de não ser nada mais do que uma criatura, Nas sociedades das culturas anacrónicas, estas verdades são denominadas hierofanias, acto de manifestação do sagrado. Pois, através delas, arreda o homem da esfera do profano. São incontáveis os actos de manifestação do sagrado, manifestados que instituem toda a história das religiões e embora cada religião apresente elementos próprios, é praticável determinar uma série de elementos comuns entre elas; inclusivamente, irmanar o sagrado com o Universo, em sua universalidade, constituindo-se em uma hierofania. Para conhecer-se o universo intelectual do homem religioso é imprescindível levar em conta a vida de dois espaços distintos - o espaço sagrado, forte e expressivo e os lugares laicos, sem construção, os indiferentes; dissecar o saber do homem religioso perante o seu pavor da paridade do espaço profano e sua indigência oculta de descobrir-se e, radicar-se no espaço sagrado, convertendo-o -o em seu centro de menção e sua bússola para com o Universo.
E como o escritor Manoel Ferreira Neto refere; O grande homem-nada arroga atitude de um perene principiante e nunca se encara mestre de ninguém, o estar-sendo é o seu sumo mestre.
Diria que é um texto inspirado nas ideias do teólogo protestante Rudof Otto.
Provavelmente, este será a última análise que conceberei no ano de 2016. Que em 2017, encontre-me cá para compor muitos.



Ana Júlia Machado



**A SUPERFICIALIDADE DO NÃO-SER PROFANIZANDO O SABER**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto



O profano confunde erudição com cultura, estilo com id-ent-idade, instrução com educação, aprendizagem com ensinamento, técnica com sapiência, fama com grandeza, prazer com felicidade. Nada de erudição, nada de cultura, nada de estilo, nada de id-ent-idade. Nada de instrução, nada de educação, nada de aprendizagem, nada de ensinamento. Nada de técnica, nada de sapiência, nada de fama, nada de grandeza. Nada de prazer, nada de felicidade. Nada de profano, nada de profan-ismo, nada de profan-idade, nada de profan-itude.
O homem profano é um robô da civilização, que julga ser um gênio de sabedoria, sábio da genialidade. Nada de civilização, nada de marginalização. Nada de gênio de sabedoria, nada de sabedoria de gênio. O homem profano é uma esplendorosa, deslumbrante, maravilhosa, mágica vacuidade, uma egrégia futilidade, uma colcha de retalhos manufacturada à força de publicidade, propagandismo heterogêneos. Nada de futilidade, superficialismo, vaziismo, idiotia, imbecilidade. Nada de plena vacuidade, nada de vácuo pleno.
O homem profano não é alguém, mas apenas algo, não é ninguém, mas simplesmente nada; é um homem coisificado de muitas circunstâncias, sem nenhuma substância, é um homem nadificiado de muitas con-tingências, sem quaisquer ipseidades. Nada de ser algo, nada de ser ninguém, nada de ser nada.
O homem profano confunde ilusões perdidas com vidas secas, lê nas entre-linhas das ilusões perdidas a promessa da esperança suprema, lê nas entre-linhas das vidas secas a fonte límpida das águas sagradas.
E, por não ter unidade interna e homogeneidade própria, o homem profano sente-se sempre nada, infeliz, frustrado, fracassado, vítima do destino inglório, injusto, ingrato. E o destino é o homem que faz, re-faz na sua jornada. O homem profano é vítima de si mesmo, de seu próprio destino.
Quem age em nome do seu ego humano é pequeno. Quem é agido pelo Eu-Nada, esse é grande, ao longo do tempo vai criando, re-criando, in-ventando, re-inventando a si mesmo. O grande homem-nada assume atitude de um eterno aprendiz e jamais se considera mestre de ninguém, o estar-sendo é o seu supremo mestre.



(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE DEZEMBRO DE 2016)


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