**NEM TÃO REPENTE... CONSUMOU-SE TRANSIÇÃO** - TITULO E PINTURA: Graça Fontis/POEMA; Manoel Ferreira Neto


Ontem,
Os raios numinosos do sol foram vivos, ardentes,
Ontem,
Os sentimentos da verdade foram efêmeros, passageiros,
Ontem,
O verbo amar não tinha o indicativo, subjuntivo, gerúndio, particípio
Além de haver sido intransitivo, era defectivo
Ontem, os desejos, vontades do eterno
Foram meras contingências diante da efemeridade do tempo,
Frente às carências, solidões,
Frente aos medos, inseguranças
Ontem, as esperanças, fé, sonhos
Foram projetos, foram inspirações, foram aspirações
À mercê das angústias, melancolias, nostalgias, saudades
Ontem, a vida consumou-se de pretéritos, aquis-e-agoras,



Ontem, a alma do espírito feneceu, o espírito da alma pereceu,
Ontem, o nada
Ontem, o não-ser
Ontem, as nonadas
Ontem, o vazio
De tudo, o que é isto - a vida?
De tudo, o que é isto - a esperança?
De tudo, o que é isto - o sonho?
Contingências, imanências,
Dores, sofrimentos...



Ontem, quem fui?
Ontem, o que fui?
Ontem, o que seria hoje?
Ontem, sonhei realmente?
Ontem, tive mesmo esperança?
Ontem, desejei o amor?



Ontem, a vida fácil - as contingências
Ontem, o que me era dado viver - a espera da morte
O destino, a saga, a sina
Ontem, o amor de efêmeros em efêmeros.



Hoje, o vento
Hoje, ao longe no horizonte a luz do sol
Hoje, aqui, a eternitude dos desejos, vontades



Hoje, a eternidade
Construída de eternítudes
Hoje, o espírito do amor habitando o ser
Hoje, o amor do espírito vivido no ser.
Hoje, a felicidade
Hoje, a alegria
Hoje, o tempo na sua dimensão de amanhã.



(*RIO DE JANEIRO*, 10 de dezembro de 2016)


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