Ana Júlia Machado DESVENDA A DIALÉTICA DO INTELECTO E INSTINTO JEGUIANOS NO AFORISMO /**QUÃO INTELIGENTE E INSTINTIVO É O HOMEM NA DIALÉCTICA DO ASNO!**/



Para salvar a realidade pessoal, ou coletiva, aquela que se faz através de conspirações, com o intento exclusivo de compensar a fatuidade interesseira, nasce o universo, em uma arena de contendas Íntegras e desleais, crianças e idosos, desgraçado e opulento... Contendam todos e todos os dias. Tento olvidar a ostentação, somente por um instante, da pobreza de espírito e asnice do homem. Avisto somente que os danosos, por sua essência, são os que lesam o povo ou a si próprios, a ponto de se contemplarem no reflexo e não mais se identificarem, por adulterarem a configuração do bem-querer.
Os benéficos enlaçam sempre as razões imparciais e brigam com todo bem-querer que conseguiram eduzir daquilo que cultivaram. Altercam sem carecer amolgar o distinto, sem abaterem as moralizações que já foram edificadas. Brigam pelo bem-querer, pela concórdia, pela conscientização, sem favor inerente.
Os íntegros são os que brigam pela equidade sumida, óbice à iniquidade da sentença imerecida, a calúnia da rejeição e os golpes da prenoção. Brigam com recursos imperceptíveis - a crença contra os defeitos, cobiça e perfídia, em contrariedade dos criadores da desagregação, sobre as cisões dos laços, sustentados nas astúcias falaciosas e mal lustrosas, do que se consiga apelidar feito louvável. É necessário as criaturas não se induzirem ao simplismo de cercar o pensamento, entre as sebes da virtude e do erro, colocando-se na postura de "eu não tenho nada a ver com isso?!"
A insensibilidade aniquila? Se ninharia causar quando avista-se alguém submergindo-se, está-se colaborando, ou não, com a sua sufocação, ou está-se somente enxergando a sufocação de alguém, enquanto fabrica-se uma ideia para além da resolução dualista? Será douto engendrar uma alegação insólita sobre alguém que surde com um pensamento coerente e concebível, sobre os porvires seres que executam ordens sem meditar. Da era que impõem a carência de sensação - benéfica ou erro, somente o coerente, pois esta carência apraz à ciência e comuta as calamidades ou as gentilezas?
Um dia ambiciono arriscar desvendar porque a mente individual é perspicaz e o grupal é néscio, examinada particularmente toda criatura parece ser de facto esperta, contudo, o que gera das resoluções grupais geralmente são instintivos de um sem-fim de burrice.
Nunca, jamais, em tempo algum, um pensamento sublime foi momentaneamente enaltecido por toda a colectividade dos sapientes. Nada mais besta do que a erudição corporativa.
E para finalizar a minha visão em relação ao texto do escritor Manoel Ferreira neto….onde verbaliza e muito bem…é o homem achar-se o único no mundo. Mas já vi animais bem mais racionais que os homens ditos “racionais”.
À claridade do jumento os invulgares intelectos se alteiam e se constituem no espírito e nas intuições..



Ana Júlia Machado



**QUÃO INTELIGENTE E INSTINTIVO É O HOMEM NA DIALÉCTICA DO ASNO!**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
AFORISMO: Manoel Ferreira Neto



"O homem é o único animal que se acha único. O homem é o único animal que usa símbolos." (Incitatus da Fazenda dos Bois)



E Graça Fontis pergunta: "O que o asno quis relinchar com isso?" (Manoel Ferreira Neto)



A humanidade encontra em si mesma a força de viver para a virtude, mesmo sem crer na imortalidade da alma! Tira-a do amor à Liberdade, à Igualdade e à Fraternidade. Se não há imortalidade da alma, então não há virtude, valores, o que quer dizer que tudo é permitido. As virtudes, segundo um homem de letras e filosofias, são geralmente prejudiciais àqueles que as possuem, pois se trata de instintos que reinam nele com demasiada violência, com demasiada avidez, e não querer de maneira alguma se deixar razoavelmente contrabalançar, com os demais instintos. A bem da verdade, só encontro prazer e deleite ásnico se consigo na cachola instintiva compreender ambas idéias, se observo a humanidade desde as suas origens, irracionais.
O homem não é o único animal que ri. O homem não é o único animal que sofre. O homem não é o único animal que pensa. O homem é o único animal que se acha único. E o homem é o único animal que usa símbolos.
Os primeiros sinais de que a tragédia se aproximava, naquele estranho inverno, vieram do mar. Milhões de lulas arrastaram-se até as praias arenosas, para morrer no vento. Os animais cobriram as areias brancas, como um funesto tapete de determinados suicidas.
Então, as aves levantaram vôo e abandonaram a cidade, seguindo para o leste. Em seguida, cachorros, gatos, porcos e até o gado fugiram na mesma direção, apesar das tentativas desesperadas das pessoas de segurá-los. As galinhas se recusaram a abandonar a cidade, fora naquele galinheiro que botaram os ovos, chocaram, deram a luz aos pintinhos; ali era o lugar delas por todo o sempre. À tarde, cobras e minhocas começaram a sair da terra, às centenas.
Escuto o riso da ampulheta, diante do tempo – o vento invade-me o relincho que é sonho, o desejo da mente que é imensidão, a vontade da alma que é eternidade, a ânsia dos instintos que é a natureza ásnica, não a segunda que me deram no mundo, mas a primeira com que nascera e até à morte irei viver.
À noite, a população inteira saiu às ruas, para ver uma misteriosa poeira branca e fria, que flutuava na brisa fresca de um inverno excepcionalmente rigoroso. Algo inusitado, excêntrico, diferente naquele lugar. Estavam todos fascinados, porque jamais um habitante daquela modesta região tropical, quente e úmida, estivera no exterior; ninguém dali, portanto, conhecia a neve. Viram-na no cinema, na televisão, assistiram às tragédias que a neve causara nalguns países, várias mortes. Assistiram às cenas do Natal, tempo de inverno nalguns países. Sonharam com toda aquela beleza, desejaram estar lá para sentirem de perto toda aquela poesia...
Pela madrugada, a cidade parecia sufocada por um espesso lençol branco. Casas, ruas, árvores – tudo fora cuidadosamente caiado pela estranha poeira gelada.
Vai, vai, vai o Armando rumo ao serviço prestado, sem carteira assinada, diarista, sem a mínima segurança, tudo bem.
Lá vai, lá vai o Armando rumo a obra obrar.
Vem, vem, vem o Armando retornando, pedalando uma bicicleta adquirida com tanta dificuldade, muito suor, muito calo.
Vem, vem, vem o Armando pela Avenida Rio Branco, com carros cortando seu caminho, às vezes até ameaçando sua vida propositadamente. Homem já idoso fora atropelado por motociclista, morrendo na hora. O filho que era louco, varrido, doido não chorou a morte do pai – por causa de suas violências e intransigências ficara demente. Ao contrário, riu o tempo inteiro durante o velório onde só havia três pessoas, a mãe, ele e um mendigo que aproveitara a ocasião para pedir uma esmola.
À luz do asno as raras inteligências se elevam e se fundam no espírito e nos instintos...



(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE DEZEMBRO DE 2016)


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