**SONIA SON DOS POEM GONÇALVES ESCRITORA E POETIZA COMENTA O AFORISMO /**NA SOLIDÃO... EMBATE COERENTE/HARMONIOSO REVELA O SENTIR OBSCURO AOS HOMENS**/


Dizer o quê? A não ser que você é um escritor maravilhoso! Lindos aforismos com divagações pertinentes inerentes ao autor...
Nem tanto um aforismo dito ligeiramente como os populares que conhecemos... Mas ficou muito bem explícito sobre o que fala e com um texto não tão breve, mas com um conteúdo ricamente reflexivo , diversos apotegmas, pensamentos breves refletidos sobre sua visão nos passando o que vai em tu'alma e coração .Viajei em cada passagem, sobre tudo nos óculos escuros, pois há casos que ninguém deve nos olhar nos olhos, ai como amei isso! =D
E a imagem casou em perfeita harmonia com tudo que foi dito pelo autor do texto.Parabéns infindos aos dois artistas. Bjos.



Sonia Gonçalves(Soninha Son)



**NA SOLIDÃO... EMBATE COERENTE/HARMONIOSO REVELA O SENTIR OBSCURO AOS HOMENS**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
AFORISMO: Manoel Ferreira Neto



"A sagrada face são os outros" (Incitatus da Fazenda dos Bois)



Sinto necessidade de olhares que se dirigem a mim. Quisera dar e repartir até que os sábios voltassem a gozar da estultícia e os pobres da riqueza.
Há quando fico imaginando tudo isso que vivi pelas estradas, coxias e pastos, dentro de mim, o acúmulo de todas as situações e circunstâncias; que seria de mim, se não me houvesse sido dados a inteligência, o dom da intelectualidade?; creio que instintivamente em resposta ao acúmulo viveria dando coices até na sombra, desde que os nossos reflexos não fossem imagens de nós, algo como se relincho, a sombra coaxa a plenos pulmões. Difícil seria olhar a sombra e vê-la coaxando, não apenas ouvindo, enquanto relincho. Por mais diferentes sejam as características da natureza humana, se é que assim possa expressar-me com categoria, nisto somos iguais: nenhum de nós aceitaria este paradoxo dos infernos: enquanto o homem próprio ri a bandeiras soltas, a sombra chora, esgoela-se de tanta angústia e desespero de estar só, separada do homem, e não podendo atinar com tão difícil problema.
O que pensei neste tempo em que tudo isso me perpassava os instintos? Nada pensei – tanto que fiquei tentando, digamos, em silêncio, tecer a meada de assunto e outro, não tenho consciência de assim poder relinchar – Foram imagens que se me revelaram aos instintos e tive dificuldades de as colher e contemplar. Imagens perpassaram-me as entranhas, não sei o que podem ter colhido e recolhido dos instintos inúmeros que me habitam. Tornaram-se idéias e o que necessitava fazer está sendo feito nestes relinchos, a bem da verdade, hein, são poucos para que possam ser compreendidos em tudo que tenho vontade e desejo de revelar, e não posso. Não apresento mais a digníssima justificativa.
Imagino este colóquio com a sombra:
- Ah, coitada de mim!... Mereço lágrimas de toda a humanidade, lágrimas ardentes e conscientes do que é isto a minha sombra que sou eu. Rio de você, caríssima sombra, porque você está aí no chão, refletida pela luz em cima do meu corpo, estou aqui, sentado no trono, sem luz alguma a refletir-me neste espaço, eu, um ser só e solitário, longe de tudo e de todos, representando a dor de toda a humanidade, como o deus grego, Zeus, o mais poderoso, quem usa das sombras dos deuses menores para satisfazer os sonhos supérfluos, fétidos. Aeiou.... Aeiou... Aeiou... Féretros, fétidos. Preciso de carinho, amor, felicidade...
- Oh, pedaços de mim, por que vos entristecestes tão rápido, o que na sua imagem, a sombra que sou eu, vos entristeceis tanto? Seria que não realizo o seu sonho maior, o de harmonizar-se consigo mesmo, o de sentir que vós sois a imagem da vida refletida realmente, alegrias e tristezas bem representadas neste espelho que são você e a representação de mim? Se tristes estais vós assim, por que não me abraçais novamente? Aconchega-me no vosso útero de criação, no vosso útero à palavra, pois que o Filho de Deus ensinou a todos os homens que a palavra é a salvação de toda a solidão, incompreensão do que acontece e do que existe, sombras que se projetam a partir de meu único corpo. Basta que vós quereis, desejais com todo ímpeto do coração e alma, se possível unir a eles o espírito, este que purifica a vida. Não vos negarei a minha própria sombra, embora vós não podeis ver esta minha sombra, sombra esta que vos guardais, vos iluminais, vos santificais... Aliás, meu amigo, a vocação dos asnos é ser justamente santos, como Jesus o dissera...
- Sombra, prestai bem atenção nestas minhas palavras, aliás, resposta às suas!... Olho a pata. Com efeito, olhando-a, prestando-lhe atenção aos traços, passos que foram dados na existência, registrados nela, observo e lhe digo, sombra, que vos negarei serdes vós o sacrário de mim, pois que sou este sacrário de minha vida, “eu “, de minha redenção e ressurreição. Digo-lhe ainda mais: “Aqui, sombra, é o fim de tudo, onde começa o reflexo do mundo, o lugar de repouso de todas as sombras sem sacrários que sonham os raios solares do Éden, as felicidades que todos nós somos merecedores, somos vocacionados para a Felicidade Eterna, o Reino de Deus...
- Incitatus, mesmo que vós não aceitais ser eu a vossa sombra, ser eu quem de algum modo o identifica com o mundo e a vida, ainda assim serei eu como a exemplo do palhaço que usa objeto no nariz, de preferência vermelho, para mostrar hilaridade, serei eu quem diz as verdades por caminhos tortos, como se é costume dizer sobre Deus que Ele resolve os problemas dos homens por caminhos sinuosos, mas Ele é a Redenção, a Ressurreição, a Sombra que cobre todo universo. Serei, Incitatus, mesmo que não aceitais, quem lhe dirá os caminhos do campo!...
Viver com uma calma orgulhosa e impassível, sempre para além. Ter e não ter, arbitrariamente, os seus afetos, o seu pró e contra, condescender com eles por umas horas; montar sobre eles como em cavalos, freqüentemente como em burros. Pois que se deve saber aproveitar a sua estupidez assim como a sua fogosidade. Conservar os primeiros planos. Igualmente os óculos escuros, pois há casos em que ninguém nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas “razões”. E escolher, para companhia, aquele vício matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes: a coragem, perspicácia, simpatia, solidão. A solidão é entre os humanos e os equus asinus uma virtude, como tendência e impulso sublimes de asseio que adivinha como, no contato de homem para homem “em sociedade”, tudo é inevitavelmente sujo.
A sabedoria para mim é o desejo de harmonia e coerência tanto do homem como de mim em respeito à sombra, vontade desta comunhão haver sido realizada, mas, em verdade, pouca importância tem, mas se a dôo aos homens, aí sim tem importância divina, é para os outros, os outros através de mim possam descobrir os desejos e vontades habitam-lhes a alma, vendo tudo se transformando a olhos nus. A sagrada face são os outros.



(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE DEZEMBRO DE 2016)


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