**NAS ASAS DA LIBERDADE DE SER** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/POEMA PROSAICO/PROSA POÉTICA: Manoel Ferreira Neto


Tinha a solidão desenvolvido no jovem que fui aquela extremada impressionabilidade, e deixado, assim, meus sentidos sem defesa, como a descoberto? Não se teria acumulado aquela efervescência na angústia das insônias, no silêncio de minha reclusão? Eram precisos todos aqueles esforços desordenados e todas as impacientes emoções do espírito, ingenuidade dos sentimentos de revolta, para que, afinal, o coração pudesse abrir-se, encontrar uma solução e retomar o entusiasmo? Ou era simplesmente a hora que tinha soado? E as coisas deviam acontecer assim, rapidamente, como num dia de calor abafante o céu escurece, súbito, descarregando-se a seguir sobre a terra sedenta, alterada pela chuva quente que suspende pérolas nos arbustos, nas ervas dos campos e curva, até o chão, as corolas das delicadas flores... Mas, ao primeiro raio do sol, tudo renasce, levanta-se, lança-se ao encontro da luz, e, solenemente, envia ao céu, para festejar esse renascimento, abundantes e suaves eflúvios de alegria e saúde....



Idílios compactos pervagam vazios,
Sorrelfas multíplices circunvagam náuseas,
Fantasias multifaceladas divagam livres
Quimeras desfaceladas vagam no espao.



Solidão.
Silêncio.
Medo.



Pretéritos desejos do nada efemerizaram-se
De vazios nas perspectivas da verdade
Passadas esperanças do efêmero cristalizaram
As nonadas do porvir
Outroras de sonhos nos sonos vividos,
Vivenciados do silêncio da madrugada,
Eclipsaram os adjuntos adnominais do não-ser



Aleluia... Aleluia... Aleluia...



Nos terrenos baldios da alma, pirilampam
Vagalumes livres e soltos na noite
Galinácea das hipocrisas, farsas
Nos baldios da vida ipsis de livre arbítrio,
Litteris de decisões e consequências
Trinam de cânticos episcopais o alvorecer
De júbilo, glória à beleza divina do Ser.



Ser puro.
Ser singelo.
Ser inocente.
Ser ingênuo.



A vida re-nascida da pureza do genesis
a vida re-fazida do cristalino bíblico
Na víbora língua da serpente
A vida renovada de esperanças límpidas
Nos porvires de ocaso, no há-de ser de crespúsculos
E no há-de vir do eterno do efêmero
As luzes dos picadeiros das dores
Incidem no atrás do espelho da morte
Morte de sonhos do além
Morte de esperanças do paraíso
Morte de volúpias do absoluto
Morte de estesias do eterno pleno.



E na eternidade lúdica do nada de nonadas
Os esquifes do pálido crepúsculo
Fazem nos túmulos-vácuos do apocalipse
Viver de vida a morte
Morrer de morte a vida
Ontem não fui a morte da vida
Nos pretéritos de ontem não fui a vida da morte
Na vida da morte
Na morte da vida,



Quiçá o interstício de morrer
Jubile o eidos da vida
Quiçá o recôndito de viver
Vanglorie o cerne de ser o não-ser



Sou hoje a morte da vida
Sonho amanhã a esperança do sublime
Sou hoje a morte do nada
Sonho no alvorecer de amanha
A vida do efêmero.



Hoje, amanhã...



As cinzas de mim, aqui e agora,
O mundo nada é,
O baldio da alma nada re-presenta
A alma do baldio nada a-presenta.



Sou pombo
Passeio livre em todas as praças do mundo.



(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE DEZEMBRO DE 2016)


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