POETISA E ESCRITORA MARIA FERNANDES ENSAIA O EU-LÍRICO NO POEMA /****COMPL-ETUDE DOS SENTIDOS LITERALIZADA NO TEMPO****/


Um belíssimo poema, bem ao estilo do eu-lírico, onde expōe a sua constante inquietude perante a vida e o mundo, mas fala do sentimento que o preenche e sublima - o amor, como beleza máxima ao seu redor. Parabéns, poeta Manoel Ferreira Neto. Um abraço.



Maria Fernandes



**COMPL-ETUDE DOS SENTIDOS LITERALIZADA NO TEMPO**
TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis
POEMA: Manoel Ferreira Neto



Estou aqui onde me crio, re-crio,
Onde me invento, faço-me,
Onde me multi-facelo, multi-plico-me
Onde me completo, verso-uno-me
De tinta são os meus traços, caracteresa.
A folha é de papel, linhas, margens,
Frontis-pício, pé-de-página,
As letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas.
Esboço um sentimento que retiro de mim dentro,
Garatujo uma emoção que me perpassa o íntimo
Delineio uma idéia que se me a-nuncia,
Burilo um pensamento que se me re-vela:
Ainda não são os originais, não é a verdade minha.
Re-crio-lhes as bordas e ad-jacências,
Re-componho-lhes a imagem, re-faço a face.
Evoco o abstrato, invoco o trans-cendente,
Faço das pers-pectivas a minha raiz,
Faço dos ângulos o meu ser,
Das linhas a alma, das entre-linhas, o espírito.
Farto de mim, distancio-me, fico à espreita,
Constato: na vida ou na arte,
Em carne, osso, caneta ou lápis
Onde estou-sendo não é quem sou,
Onde sou não é quem estou sendo,
Onde estou não é sempre, não é eterno,
Onde sou não é ab-soluto, não é para sempre
O que sou é por um lince do olhar.



Águas re-fletindo imagens
Sob raios numinosos do sol
Lírios brancos à mercê de vento suave,
Belga pousado no arame farpado
Da cerca, trinando seu canto,
Beija-flor sulcando o néctar da flor, no jardim
Nuvens brancas deslizando no azul celeste
Pétala perdida de rosa vermelha sendo
Levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.



Sentimentos leves perpassando o íntimo,
Carinho,
Ternura,
Afeição
Ouço o pulsar do coração, extasiado de emoção,
No que em mim trago dentro, as volúpias da alma
Trans-cendem as elegias do instante de sonho,
Em mim sentindo íntimo, a alegria con-juga versos
A felicidade recita de rimas as fantasias
do amor cor-res-pondido,
do amor sentido profundo,
do amor saboreado,
do amor entre-laçado de corpos
em busca do clímax absoluto e pleno
No que em mim deseja de Verdades
As regências verbais tecem de erudição
A estética do estilo sensível, espiritual
As metáforas con-jugam de imagens
A linguística do eterno,
As reg-ências nominais desenham
No horizonte as perspectivas
Da linguagem do Ser e Tempo,
Regam nos confins das inter-dicções as dimensões
Do Vento e do Há-de ser,
E nos interstícios da alma de verbos alucinados,
Esperanças delineiam de pers-pectivas
Cânticos solenes em uni-versos líricos
Plen-itude de êxtases com-põem de estesias
Alhures de sentimentos à busca
De sub-jetivas verdades
Algures de desejos de felicidade à busca
do espírito de con-templar o ab-soluto
sentido efêmero,
sentido volátil,
sentido nítido nulo,
sentido estrela cadente,
sentido cometa,
sentido planeta,
sentido vazio
Sonhos do belo, beleza de re-fazendas con-jugam
imagens e intuições,
pers-pectivas e ins-pirações,
criatividade e per-cepções,
re-criando da memória o mov-imento,
das lembranças o mov-ent-izado sentimento do sublime,
literal-izando da re-cord-ação os instantes,
no poema do espírito a presença viva
do eterno feito amor,
do efemêro feito desejo



do há-de ser feito querência
do simples feito grandeza
do nada feito travessia para o além...



(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE DEZEMBRO DE 2016)


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