VISÃO CURTA DAS LÍNGUAS MORTAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Quinzinho de Parafusos a Menos: SÁTIRA @@@


Oh, deuses da imundície,

A sujeira das quimeras

É mais mínima!

Oh, papas da podridão milenar,

A carniça dos evangelhos

É mais fedorenta!

Oh, presidentes da corrupção,

Das canalhices ideológicas,

Nada se leva para a sepultura!  

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Rebo de contacto.

Oco, me produzo.

Vácuo, me esboço.

Vazio, me visto.

Disperso, passo pé ante pé

Entre as coisas do mundo e da terra.

Intransigente, vocifero as malícias

Da ressurreição, redenção da solidariedade.

Nada, me coloco o chapéu na cabeça,

Óculos escuros na última moda,

Vagabundeio pelas pistas à cata

De gatinhas loiras e lindas.

Vago, me existo.

Inóspito, me descerro nos âmbitos do laissez faire

Sorumbático, me inteiro, me auditivo.

Desmiolado, me atesto.

Vocábulos me carecem

No sulcar trilhos da Sagrada Escritura,

Do Sagrado Vernáculo de Lingüísticas e Semânticas,

Origens, Trovas, Cataclismos.

Moinhos de anais, debates da vida,

Bem-aventuranças enleadas de padecimentos,

Sofrimentos, dores,

Possantes e pesados bem-quereres

De poluídas corporeidades

E a eloqüência volveu-se cinérea,

Cinérea, alteara de aliciações

O pojo de preceitos, ditames,

Dantes e de concernentes,

Sacrílego prazer aguilhoado de códigos,

Ocos, sinais, não seres de requintes,

Alegorias, ninharias de ciência humana,

Resquícios de tristes trópicos antropológicos

À lá Macunaíma cortando a machado

A Árvore Proibida,

Analogias quiméricas em flamas da taciturnidade,

Sombrias melancolias, nostalgias,

Saudades seculares, milenares.

Juventude em distrações da satisfação,

Ocasião de ser bem-aventurado,

A visão das falas,

Oposto das dialogias incorpóreas.

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Caixões esmorecem tintas

Que apagam a memória de anos

Rasgando a seda presa

No fio oblíquo de fumaça.

Paixões coscuvilham renasceres

De honras e dignidades da grande

Desgraça do malogro.

Água sanitária lava pecados da luxúria

No tanque de invejas obtusas.

A cal cofia ambíguas vestes de linho.

O medo de terras movediças

Recalca o andar de boêmios cambaios.

O ressentimento de tijolos frescos

Pisam os pés descalços.

A solidão de cinzas ardentes

Viola os cofres imemoriais dos tempos.

A amargura de cimento

Ressoa o silêncio.

A visão curta das línguas mortas

Amplia o nonsense eriçado de pelos eternos.

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O mundo é o exílio.

A terra, abismo sem fundo,

A existência, buraco de tatu canastra.

Pensava encontrar lugar

Onde descansar os ossos,

Refestelar os ócios do ser nada,

Ofícios de gorgolejar palavras

Que pronunciam o assassino de Deus.

Ressonar as preguiças vazias de razões.

A liberdade é para não estar fora do mundo.

A glória é para não ser escravo das maledicências.

Livre, cadáver de um paturi

Ou de um faisão abatido por caçador furtivo.

Um sino-rã que ninguém compreende

Deve repicar diante de surdos.

Lamparina acesa no porão esquecido

Estende a perfeição da luz

Às almas penadas da meia noite.

Agora que compreendo

Porque em paragens tão ricas

De ideais precursores de tesouros do “eu”,

De utopias que rouquejam os escárnios de virtudes

O tempo não ceifa a fadiga da esperança.

Todas as possibilidades

São no sentido de o corpo

Estar estendido num fosso

Ou de por trás de uma moita de capim seco,

Os joelhos dobrados,

Os cabelos sujos de lama.

A morte é, ao sol escaldante, esturricada.

Sepultura íngreme cobre de nada

As hipocrisias primevas, primitivas,

Falsidades retrógradas,

Ironias retiradas a esmo.

RIO DE JANEIRO(RJ), 20 DE MARÇO DE 2021, 11:15 a.m.  

 

 


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