A NOITE É SÓ TOCAIA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


Viajo no tempo que voa nas asas da imaginação

Nas penas leves que pairam nos ares

Da inspiração e volos ardentes.

Safo vigia as sereias confabulando

Com as ninfas

As paixões e delírios da carne.

Vênus observa as naus rasgando os mares

À cata de tesouros de lugares distantes.

A Lua espreguiça-se de apsiquias

Na madrugada de mar revolto,

Seduzindo a Estrela Polar a cindir

Seu brilho no breu da perda de sentidos

No momento presente

Este em que sei o que foi,

O que era,

O que vai ser no balanço das mazelas,

O que será das hipocrisias, farsas,

Só não descubro o artifício que me

Contorce nesse ponto-universus

Onde me encontro passageiro das quimeras,

Sonhos, fantasias, utopias

Nos tempos de flores de cactus,

Orquídeas e rosas brancas...

O próprio ser que me configura

Prefigura

Nesta cena de os passos fazerem as veredas

Sangra ferido:

“Viro longe no mundo apsíquico,

Piso nos espaços,

Palmilho os dormente da estrada

De ferro a levar-me alhures,

Faço todas as estradas,

Vou para onde tenha sol,

“O sol dissolve a solidão

Suor descendo a face dos poderes e vaidades

Controvérsias das habilidades,

Sensação de 50 graus de calor!

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Num passo de magia a terra vira

Num toque de delírio

As mentes pensam,

Tornam-se vidas nas mãos

De lira das linhas e espírito eternos

De lírica das alíneas e a alma em desvario

Restaram-me equívocas pétalas das palavras

Que se brotam, crescem, despetalam

Exaram seus desvarios, delíquios, fantasias

Diariamente nascentes,

Para o nada obliterante do não-visível.

O tempo se faz devagar

E devagar segue continuamente,

Tateando símbolos,

Tocando signos,

Acariciando metafísicas das línguas e culturas

Às vezes, no alto-mar, destrai-se a marinhagem

Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,

Que segue pelo azul a embarcação em viagem,

Num vôo triunfal, numa carreira audaz,

Insolente, irreverente, indolente, polêmica.

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Roucos ruidosos,

Sugerindo amor às linhas eternas

Do espírito e das páginas de sonhos e quimeras,

Penetram, adentram o meu silêncio,

Mergulham na solidão de meu exílio

E a flor de meus sonhos de ser

Segue trans-colorindo a tela vácua do horizonte,

Sem saber que in-gratos olhos

Distorcidos na distância,

São labaredas extintas

São cinzas sarapalhadas

Avesso riso,

Inverso amor nas versificadas

Sedes de encontro, prazer das mãos,

Que se tocam sensíveis,

Metrificadas fomes de liberdade e ressurreições,

Ritmadas ilusões de con-templar o ser

À luz do verbo,

Ipsis litteris e verbis,

Inversa distância desértica

Nos des-lustres de ausência:

In-afeição que concebo e crio,

Nela própria des-orvalho o

Reverso lado da luz,

Des-afetos que artifício com esmero

No interior deles, desovo

Multiplicidade,

Múltiplo de sentimentos,

O ad-verso vazio de ideais.

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Resplendor da verdadeira face, os outros,

Sempre outra depois do Amor e Cáritas,

Outra depois de um carinho,

Outra depois de um abraço, beijo

Outra depois de um reconhecimento,

Outra depois do sono, sonho,

Outra depois do amanhecer,

Outro no crepúsculo, traços,

Desejos, vontades, falácias, perspicácias,

Num jogo diário de perspectivas, perfis.

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Pode-se preferir

O mundo faminto de glória e poder,

A apaixonar pelo conhecimento profuso

Das condições e possibilidades de valores,

Desfile de olhares, brilhos no semblante,

Trejeitos,

Sombras e batons,

Cremes,

Exercícios de imagem para o lince

Da contemplação do outro,

Para a vertigem sem retorno de

Quem vê,

Descobre a beleza,

Sente-a no mais íntimo de si,

De quem enxerga,

Recolhe o sentimento de pureza,

Vive-o com prazer e êxtase,

Aclimatar as Carpas e tencas

Às águas dos canais de irrigação

E dar os peixes aos trabalhadores,

O prazer de uma pescaria.

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Caminho nos pensamentos,

Esbarrando-me remotos dias,

Ombreando verdades quotidianas,

In-verdades corriqueiras.

Reagrupo-me às sombras

Retrilho cena qualquer,

Viajo nos detalhes dos trajes,

Cores,

Conversas

A eternidade das mãos troteando o corpo...

Ilha de degredo atroz,

Exílio funéreo,

Para onde vai, fatigada do sonho,

Exausta dos idílios,

Alma que se abismou no mistério

Incognoscível/cognoscível,

Desvairado,

Rendo-me à ficção noctívaga, onírica,

Perdida no irreversível,

“Jornadeando na via

Cercado por muitas criaturas...”

Enlouquecido,

Remedio-me das mentiras

Da escuridão à luz dos postes.

Disperso, rendo-me à realidade da aurora

Nas entranhas de uni-versos

A serem artificiados, instituídos.

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Veredas...

Fogo de bala,

Travessia,

Curiangos,

Cobras d´água,

Aves pretas,

Flor de pau,

Cascalho solto,

Faísca de ferradura.

A NOITE É SÓ TOCAIA.

Discuido é perdição,

Cachorro late, mordendo

Cobra dá o bote e esconde,

Burro coiceia e refuga:

“Viver é muito perigoso”

Grito,

Perdido na morte.

Doce riso.

Amargo fim,

Viver é pré-liminar à cova,

Passo curto, passo torto, passo certo,

Travessia.

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O que pergunto é:

Quem em mim está fora

Do eterno prisioneiro das linhas?

Quem em mim  está fora

?Até de pensar.

A ressonância da pa-lavra

Percorre soberana,

Contornando muros e montanhas,

Escoando em ondas nas orlas marítimas,

“Porquanto os intelectos longínquos/

Apropriam-se...” de mim, de nós,

De todo mundo, “por momentos...”

Risco, arranho, demulo

Penetrando alvos.

Sei que nada é-me pertencente

Além das livres idéias, ideais

À mercê da floração espontânea,

Que da alma quer-me brotar,

E cada inestimável instante

Que um destino bem querente

A fundo consente-me gozar.

@@@

No miolo da noite,

Outra noite acontece

E o que era trans-luzente

Aos poucos escurece

Como ondas nebulosas,

Sufocando, envenenando,

Roubando o nascer do dia,

O re-nascer de outras palavras,

Horizontes e universos.

Meu passo é ponto.

Meu corpo,

Fonte.

@@@

Em que estrela aportará meu sonho?

RIO DE JANEIRO(RJ), 12 DE MARÇO DE 2021, 12:12 p.m.

 


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