**NADICA DE NADA SANTIFICADA** GRAÇA FONTIS: PINTURA Quinzinho de Parafusos a Menos: SÁTIRA @@@


EPÍGRAFE:

 

A amplitude de visão da língua de nadica de nada à traíra frita e uma aguardente ilumina os linces dos olhos para a observação do riso. (M.F.N)

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Engolir o nada inteiro, mesmo mastigando bem, é difícil: pode ficar atravessado na garganta e levar a egregíssima pessoa à morte, não à morte que de tanto morrer é morte morrida, pode ser indigesto, causando indesejável diarréia, daquelas que é melhor ficar sentado no vaso o dia inteiro, gritando alguém: "Traz um gole de café para mim!" ou "Traz o meu suquinho de jenipapo" ou ainda “Traz o meu almoço com jiló, arroz e churrasco de carne de tatu.” Então, como o nada é delicioso, só de falar nele a boca fica saturada de saliva, o aconselhável é comê-lo às nadicas, pedacitos pequeninos, sente-se-lhe o gostinho, um primor, não fossem as próteses inferior e superior, os dentes naturais sentir-se-ão nas nuvens de mastigar tão sublime. Nadica de nada à passarinho com um aperitivo faz-se necessária a moderação.

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Não é só comestível o nada, a nadica de nada serve a outros propósitos sutis e são mais que recomendáveis para a vida fresca e saudável, conforme à aceitação corpórea o nada serve às dores de cabeça, ou melhor, enxaquecas porque a ociosidade era bem mais sustentável aos princípios, há de se construir o destino ativa a bílis.

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Nadica de palavras para dizer o que se pensa e sente, não um resumo, não uma economia, não uma síntese, mas a essência, mais ou menos o "dizer na lata" dos paulistas e paulistanos.

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Palavras à nadica de nada frontalmente é pior que o sacratíssimo sapo seco na garganta por sempre, jamais se terá resposta, a nadica obstrui os neurônios, necrosa os miolos e o cidadão por toda a eternidade ficará con-templando ao léu do vazio a imbeciloidia. Deus me livre de palavras à nadica.

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Nadica de preconceitos, discriminações... Conforme forem eles a Lei bate com o martelo, ver-se-á o sol nascer quadrado, as estrelas convexas e côncavas. Mas preconceitos e discriminações à nadica, dose a dose, côdea a côdea, soma o absoluto da verdade, e nem Deus vai negar: de bago em bago enche-se o papo.

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Nadica de preceitos morais e éticos: o bem não vence o mal, o mal não é vencido pelo bem, o eterno é a redenção das contingências, o efêmero é a ressurreição das náuseas e vazios, nossa, a vida no mundo e no além é a plenitude do tempo, de trigo em trigo, de joio em joio, a bestialidade dos conceitos e definições se fazem presentes, presentificam-se nas frestas do vazio das nadicas do nada, do nada de nadicas.

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Nadica de valores eternos, do absoluto das verdades imortais, temperada com sal grosso, pimenta malagueta, se se quiser, pimenta do capeta, dependendo da aceitação do nome que tem em cada região deste sutilíssimo país de nadas e nadicas avessos aos princípios da dignidade e honra dos homens, limão galego, desperta e alimenta os instintos do coice afiado para as hipocrisias e simulações, só a sombra delas, ainda que furtiva, já leva um tão, tão bem dado chute que atravessa todas as fronteiras do inferno, indo parar nas terras serenas do "PQP". Aconselha-se o temperado moderado porque as orelhas da pessoa podem ficar em pé, tempestade de vento não as abana mais.

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Nadica de poemas de amor endereçados à amada, sem revelar o nome do remetente, acelera-lhe o coração, faz-lhe sentir aquele frenesi na libido, só lhe restando ler as obras de Apuleio ou as do satírico Manoel Ferreira Neto, para o clímax perpétuo.

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Nadica de solidariedade, com tempero à moda gaúcha de churrasco, de maledicências, farsas, dissimulações, é asseverar com garantia e segurança, depois do Juízo Final, frente ao eminentíssimo São Pedro, refestelar na sombra da Árvore Proibida, antes de ir para as prefundas do inferno, o paraíso celestial é apenas baldeação.

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Nadica de taradice, temperada a molho pardo de frango ou galo velho, canela de perdiz de preferência, faz a vítima do estupro gozar de paixão e êxtase, a violência é fissura do capeta por estar no lugar do tarado. Aconselha-se ao tarado colocar meia xícara de açúcar no molho pardo ou na canela de perdiz, caso contrário jamais, em tempo algum, sua "coisinha" se erejerá... De tarado a viado o limite é ínfimo, num átimo de segundo a ruela gira.

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Nadica de analfabetismo, daquela que conjuga o verbo Ser sempre no "era" deixa de ser imperfeita, torna-se perfeita, se o analfabeto entrega-se de corpo e alma a comer e degustar as salsinhas da estupidez, aquela que sintetiza o desejo incólume, insofismável da essência do nada da inteligência e sensibilidade e o absoluto das verdades, sob a imagem fugaz das inverdades no espelho convexo.

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Nadica de nada - leitura não assídua, pois que o risco de nadicar pilhérias, mangofas, sátiras, sarcasmos, ironias, cinismos, assim isentando-se por completo da consciência de que o mundo e as coisas são risíveis, dizem haver sido castigo de Zeus por o considerarmos o deus dos despautérios, e nadica de nada é o manifesto da humanidade em prol da liberdade e da fissura por criar o mundo - existe e sempre existirá, mesmo que o Tempo seja abolido, o futuro é para a frente e para trás e para os lados.

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Nadica de quem sou, de quem vive de mim e por mim, só no nada do efêmero; vazio, náusea do ser e não-ser satisfazem o meu apetite do eterno, ressurreição, redenção, na contingência mesma estarei degustando o sabor das concupiscências da liberdade e do livre-arbítrio, evidentemente com um almoço nadica de ensopado de pé de porco, nadica de agrião, nadica de arroz à grega para eivar de risos e paixão ainda mais o que habita a condição suprema da sátira ser santificada, inda mais da Nadica de Nada, as polêmicas chuvilham carapuças por todos os horizontes do mundo.

RIO DE JANEIRO(RJ), 05 DE MARÇO DE 2021, 07:17 a.m.

 

 


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