Ana Júlia Machado ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA APRECIA A SÁTIRA Longo Etecétera das Pequenas Virtude @@@@


Este poema ou escrito De Manoel Ferreira Neto como sempre pode levar-nos por vários caminhos. Não deixa como sempre de inserir a sua crítica ao mundo nojento em que vivemos e onde o povo é sempre o mais punido. Mas como a vida é feita de caminhos tortuosos, alegres, com fé ou sem ela gostaríamos com certeza, que os mesmos possuíssem muita claridade para abrilhantar seu “futuro”, pois é precisamente esses andares, em um planeta onde os trilhos são por tantas vezes fortuitos, sinuosos e desesperadores, pois, no fundo, cada um de nós jornadeia pela existência como se fosse um passageiro que transita um caminho. E nesta via, existe os que avistam orlas viçosas e os que meramente avistam panoramas inabitados. Há os que calcam em suave relva e os que açoitam os pés em calhaus pontudas e acúleos. Há os que peregrinam em parcerias amigas, aos júbilos e exultação e os que jornadeiam com pessoas neutrais, interesseiras e ruins. Há os que jornadeiam solitários e os que vão em enormes ajuntamentos. Alguns vão em veículos de ostentação, outros em viaturas despretensiosas. E há ainda, os que jornadeiam de burra ou a pé. Existe gente branca, negra, amarela. Mas, se observarmos o caminho bem do alto, anteveremos que não dá para caracterizar ninguém: todos são afins. Há gente esguia e gente obesa. Os esguios podem ser assim por beleza e regime ou porque não possuem com o que alimentar-se. Alguns transportam sacas cheias de sustento. Outros acarretam pedacinhos de pão raiado. Muitos aprovam distribuir o que hão. Outros presenteiam escassamente o que lhes sobeja. Mas, muita gente da estrada nem observa para os passageiros esfomeados. Existe criaturas que transitam os caminhos sempre trajados de seda e repletas de bijutarias. Outros trajam trapos e perfilham descalços. Uma grande parte estima o numerário que leva e há os que idealizam que um dia todos do caminho serão como semelhantes. Entre os utopistas, há os que se aplicam a facultar água e pão, refúgio e bálsamo aos passageiros que carecem. Há criaturas eruditas no caminho e há gente muito insensata. Alguns sabem verbalizar factos problemáticos e outros nem sabem proferir certo. Em geral, os doutos-das-dúzias não estimam a parceria dos iletrados. O real mesmo, é que quase ninguém na estrada encontra-se saciado. A maioria acha que o vizinho é mais formoso ou jornadeia mais confortavelmente. É que nesta extensa via de etecéteras, olvidamos que a jornada um dia terá finalização. E, quando ela expirar, o que possuiremos? Transportaremos sim a prática assimilada durante o tempo de caminho e residiremos mais doutos, porque todas as outras criaturas que vimos no caminho nos demonstraram algo. O caminho de nossa vida pode ser sublime, incomplexo, abastado, sinuoso. Seja como for, ele é o superior caminho para o nosso tirocínio. Assim, abracemos avante pela via ensolarada. Que contemple-se mais flores. Exaltemos os parceiros da jornada, distribuamos as abundâncias com quem tem míngua. E, especialmente, não licenciemos de jornadear satisfeitos, com o espírito em solenidade, gratos a quem facultou-nos a chance de transitar esse caminho por mais um dia e nunca nos olvidemos que se alguém o demanda com gélido enquanto o outro jornadeia, é porque você possui a manta. Se a plangência impele alguém para próximo é porque possui o gracejar. Se a mágoa leva alguém em rédea de alguém é porque o mesmo tem o tratamento. Se alguém procura o outro com incertezas é porque ele tem a convicção. Por todas essas causas, jamais deixe-se alguém que procura durante a caminhada ausentar-se sem réplicas, pois ninguém chega até alguém por casualidade. Ainda que cogite-se que nada tem para ofertar, isso não é realidade. Se alguém ostenta uma carência qualquer, mesmo oculta, é porque tem algo a facultar. E lembrar incessantemente, que se não pudermos ser o afeto que tudo inicia nesta caminhada que é a vida, que seja o afeto que faz aproximar ao fecho do caminho da vida! E, como diz o autor Manoel Ferreira Neto deve haver ainda, na terra, e nesta caminhada que é a vida de enigmas e virtudes; Alguma coisa haverá para honrar: Idiomas balbuciando, Pernas tropeçando, A solenidade do burro mascando O diadema de Hera na lembrança.

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Ana Júlia Machado

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RESPOSTA À CRÍTICA SUPRA

 

Como lhe dissera, Aninha Júlia, eu próprio não sei o que estou criticando, sei apenas tratar-se de outra dimensão de minhas críticas, e você, efetivamente, revelou o interdito da crítica: critico as virtudes: “O que são virtudes?” Mister investigar as coisas do mundo e os homens para podermos dizer algo ser “virtude.” Hodiernamente são pequenas as virtudes, ou não há mais virtudes no mundo, visto o Caos em que estamos inseridos nele, sem visões para o futuro. “As virtudes andam de automóvel e derrapam nas curvas”. Hoje estão derrapando em todas as curvas do mundo, e precisamos com urgência investigá-las a critério e rigor – isto é o que penso em verdade: precisamos elaborar nossos conceitos dela e artificiá-las no mundo, assim, quiçá, possamos ver as coisas com clareza, o que com categoria dizem os alemães “Weltanschauung”, isto é, visão-de-mundo. Conceituando com clareza as virtudes é que teremos com transparência essa visão, a amplitude de visão do mundo e das coisas. As virtudes é que nos libertarão do Caos.

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Como sempre, fico admirado como você conhece a mim e a minha obra, sua leitura é divina mesmo.

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Beijos nossos a você, à nossa amada netinha Aninha Ricardo, à nossa família. Fique bem, querida!

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LONGO ETECÉTERA DAS PEQUENAS VIRTUDES

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA

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Para o sabedor todos os instintos

Tornam-se sagrados, divinos, supremos.

Ecúleos paradigmas dizimando

Pretéritos vazios ornamentados de ruinâncias,

Misérias,

Outroras de signos maculados de perversões,

Símbolos passados nas frinchas de

Corriqueiras idéias do nada

Elevado às incongruências abissais,

Secretas razões deixando a esmo

Dos tempos depenadas verdades,

Ressequidas sabedorias

Nos espíritos regelados.

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Há maligna hipocrisia

Tornando-se mais lenta e sombria

Porque nada há de mais precioso

Que aves de rapina estéreis

Ante olhos frios e desconfiados

Por obras vistosas e falsas,

Breves mistérios extraviam atalhos,

Excedendo os talentos retos e honestos

Com toda inocência

E mentindo sempre...

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Que poderia importar a pequena,

Trapaceira, histriã desconfiança

Com as grandes coisas,

Alardeadas virtudes?

Quem deita mão ao abismo

Com garras de gavião – esse tem coragem

De sofrer e tomar sobre si

Os pecados do homem,

Muito há nisso que honrar,

Desde a desambição e a cordura,

Longo etecétera das pequenas virtudes,

Transição e ocaso,

Sórdida satisfação que suscita

Desprezar as orelhas compridas da plebe

Cujos instintos esmoem farsas em grãos,

Contanto que isso faça latir o cão infernal,

Mostrando os dentes afiados

Prontos para descarnear a presa

De modo farto.

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Atando o nó górdio,

Suspenso no varal do tempo,

Há qualquer coisa nesse espetáculo

Inédito a olhos vesgos,

Que, até, faz bem à consciência

Pulando e se alegrando

De haver inda, na terra,

Alguma coisa para adorar:

Línguas gaguejando,

Pernas cambaleando,

A festa do jegue roendo

A coroa de Hera na memória.

RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE MARÇO DE 2021, 15:12 p.m.

 

 

 


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