LONGO ETECÉTERA DAS PEQUENAS VIRTUDES GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA @@@@


Para o sabedor todos os instintos

Tornam-se sagrados, divinos, supremos.

Ecúleos paradigmas dizimando

Pretéritos vazios ornamentados de ruinâncias,

Misérias,

Outroras de signos maculados de perversões,

Símbolos passados nas frinchas de

Corriqueiras idéias do nada

Elevado às incongruências abissais,

Secretas razões deixando a esmo

Dos tempos depenadas verdades,

Ressequidas sabedorias

Nos espíritos regelados.

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Há maligna hipocrisia

Tornando-se mais lenta e sombria

Porque nada há de mais precioso

Que aves de rapina estéreis

Ante olhos frios e desconfiados

Por obras vistosas e falsas,

Breves mistérios extraviam atalhos,

Excedendo os talentos retos e honestos

Com toda inocência

E mentindo sempre...

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Que poderia importar a pequena,

Trapaceira, histriã desconfiança

Com as grandes coisas,

Alardeadas virtudes?

Quem deita mão ao abismo

Com garras de gavião – esse tem coragem

De sofrer e tomar sobre si

Os pecados do homem,

Muito há nisso que honrar,

Desde a desambição e a cordura,

Longo etecétera das pequenas virtudes,

Transição e ocaso,

Sórdida satisfação que suscita

Desprezar as orelhas compridas da plebe

Cujos instintos esmoem farsas em grãos,

Contanto que isso faça latir o cão infernal,

Mostrando os dentes afiados

Prontos para descarnear a presa

De modo farto.

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Atando o nó górdio,

Suspenso no varal do tempo,

Há qualquer coisa nesse espetáculo

Inédito a olhos vesgos,

Que, até, faz bem à consciência

Pulando e se alegrando

De haver inda, na terra,

Alguma coisa para adorar:

Línguas gaguejando,

Pernas cambaleando,

A festa do jegue roendo

A coroa de Hera na memória.

RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE MARÇO DE 2021, 15:12 p.m.  

 

 


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