FOGO BATIZADO NA FONTE DA ETERNIDADE GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


Ai daquele que envela ilhas,

Ai daquele que encobre desertos,

Ai de quem esconde abismos e cavernas.

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Ah, sublime!

Efetivamente sublime!

Honrado início!

Itaocamente sublime!

Digno de um mico divertindo-se no fio

De alta tensão,

Ou de um vira-lata moralista aos latidos

Na bifurcação de dois caminhos...

@@@

Eis-me aqui sentado

Na margem esquerda da estrada do bosque,

Pés estendidos na poeira,

A não ser o garbo com que fico sentado,

Sem pensamentos, pequenos segredos,

Engalanadas adivinhações

Que se deixam adivinhar,

Sinto-me bem longe, distante demais

Do nublado, úmido e melancólico

Mundo de sentimentos variados, adversos,

Ampliando as visões de ideais, ,

Vejo o corpo e não me vejo nele,

Mediria o valor desse momento,

Se me sentisse nesse corpo que vejo,

Se vislumbrasse a vida habitando nele,

Os deuses do sensível separados

Dos instintos satíricos...

@@@

Nonsense...

Sequer uma palavra do que me digo

Traduz o mínimo do que me perpassa

Os recônditos da alma.

Perdido, escondi de mim os abismos

Da carência, insegurança, dúvida,

Encobri os desertos

Do medo, da ausência de coragem,

Envelei as ilhas

Da solidão, do exílio,

Não sei das vivências pretéritas,

Não conheço as experiências passadas,

Sem quaisquer noções

Das angústias presenciadas

Ao longo da falta de idéias

De solidão circundada de luz...

A longa estrada que leva para trás

Dura uma eternidade investigar,

A longa estrada que leva para frente

Dura uma eternidade saber a sua sabedoria,

Sempre adiante e cada vez mais longe

O para trás e o para frente

Misturam-se – onde o espaço

Cujo objetivo é conduzir a mente

Nos seus ideais de olhar os lírios do campo,

Vislumbrar o “Ser” da Vida,

Direcionar a alma nas suas esperanças

De o Espírito da Vida conjugar

Os verbos da liberdade?

Lá onde as tempestades despenham-se no mar,

E a tromba do monte bebe água cristalina,

Quiçá um desses momentos,

Momento como esse sentado na margem

Esquerda da estrada do bosque,

Possa eu ter conhecimento de mim mesmo,

Partilhando da criação e do júbilo

De com-preender porque vejo o corpo

E não me sinto estar nele,

Semelho o amante,

Que suspeita do sorriso

Por demais introspectivo,

E não consegue penetrar-lhe o sentido

E pergunta-se entre a angústia e a tristeza,

Se não falta à língua

A visão da profusão da alma.

@@@

Repilo eu de mim este momento,

Enlouqueço de desespero

Por não existir – um corpo não sabe que existe,

Carne e ossos não movem venturas,

Desventuras à busca de complementos,

Permaneço, contudo, perdido,

Tudo deveria ser certeza e nada,

O abismo moveu-se,

O meu pensamento me mordeu,

Mordiscou-me a língua,

Através dela intentei dizer algo

A mim próprio sobre não me sentir

Nos recônditos do corpo,

Isto provem de que eu não corro atrás

De uma vitória que deve

Selar o meu complemento,

Sendo o remetente o vazio silencioso,

O destinatário, o nada solitário

Da ventura do tempo que não se sabe tempo,

Não necessita de buscar o eidos que lhe habita

Sem alma, sem essência, sem núcleo,

Para a minha dor mais profunda,

Estou aqui,

Cheguei fora de tempo no mundo.

@@@

O meu passado rompeu seus túmulos,

Alguma dor dilacerante

Sepultada viva acordou.

Quando descobrirei a força do silêncio

Do tempo que chega mais perto da vida

E me perca na liberdade de existir

O meu saber

À luz do meu fogo batizado

Na fonte da eternidade?

RIO DE JANEIRO(RJ), 16 DE MARÇO DE 2021, 13:05 p.m.  

 


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