PARLENGAS DA ESSÊNCIA POÉTICA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@


Sei os repiques do sino das palavras,

Ouço-os nos domus dos templos,

Não os repiques que homenageiam,

Tecem louvores e glórias do alto Olimpo

Às vozes da verdade,

Mas as que arrancam esquifes da treva

Fazendo-os serem seguidos, acompanhados

Por carros alegóricos, rezas nos terços

De contas malignas.

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A palavra galopa com os sons tensos

Por campos, pradarias, chapadões,

Ressoam as décadas, séculos, milênios

A Maria-Fumaça rasteja nos dormentes

Da linha férrea,

Para lamber os pés calosos dos versos secos

Além dos limites do vácuo e oco.

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Entregarei a alma

Ao exame irrepreensível das rimas incongruentes,

Das sonéticas obscuras,

Das sonísticas obtusas,

Exame que, sob a castanheira nutriz,

Escavouca com seus focinhos

As raízes do absurdo, do caos,

Declinando com perfeição os ocasos da linguagem,

Crepúsculos do estilo, noite versátil das estruturas,

Remexendo os pós das vilanias,

As páginas de aço e estanho,

Soando na mente miseráveis idéias,

Mendicâncias de ideais e esperanças,

Pobres moedas numa caixa de pau de aroeira,

Girando as línguas da roda-viva

Nas parlengas da essência da poesia.

RIO DE JANEIRO(RJ), 03 DE MARÇO DE 2021,  11:23 a.m.

 


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